Artes visuais Individuais simultâneas abrem temporada 2017 do Mamam Exposições são dos artistas pernambucanos Márcio Almeida e Bruno Faria

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 20/01/2017 16:37 Atualizado em: 20/01/2017 14:29

O artista visual Bruno Faria fez performance e instalação Onde Estão Minhas Obras?, baseada em incidente ocorrido no museu em 1999. Crédito: Igo Bione/DP
O artista visual Bruno Faria fez performance e instalação Onde Estão Minhas Obras?, baseada em incidente ocorrido no museu em 1999. Crédito: Igo Bione/DP

O Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam) inicia sua temporada de exposições em 2017 com duas individuais simultâneas de artistas pernambucanos. Bruno Faria e Márcio Almeida ocupam o espaço expositivo e comemoram, respectivamente, 10 e 30 anos de carreira. As duas mostras de arte contemporânea estão voltadas para uma reflexão sobre as escolhas conceituais de ambos em um período de suas trajetórias no qual já é possível olhar para trás e avaliar a maturidade estética de cada um.

O primeiro traz ao local a instalação Onde estão as minhas obras?, com curadoria de Clarissa Diniz, baseada diretamente em um episódio que aconteceu na instituição em 27 de agosto de 1999, quando houve um incidente com o artista visual Arthur Omar. As obras dele não chegaram a tempo para a abertura da exposição da série de fotos Antropologia da face gloriosa, o que o levou a fazer um protesto, pichando as paredes da construção com a frase usada como título para a mostra de 2017. A transportadora que traria as obras do Rio de Janeiro para o Recife terceirizou o serviço e as imagens só chegaram cinco dias depois, depois de viajarem acomodadas em um caminhão de galinhas. A confusão foi um dos motivos pelos quais o então gestor da instituição, Marcos Lontra, saiu do cargo.

Bruno presenciou o episódio quando tinha 16 anos e isso o motivou a pesquisar mais essa história, usando como fontes jornais locais como o Diario de Pernambuco. “Minha ideia é fazer uma performance surpresa na abertura da mostra relacionada à reação do artista. Depois do acontecido, ele deixou de ter qualquer relação com o Recife. Procurei todos os envolvidos na época: a curadora da exposição, Marcos Lontra, e todos falaram sobre o tema, menos ele. Ficou uma mágoa. Arthur Omar fez algo que pode ser configurado como vandalismo, pois este é um prédio público. O espaço expositivo, ao meu ver, não teve culpa, mas sim a transportadora”.

Para Bruno Faria, o que aconteceu com Arthur Omar ilustra um momento na arte brasileira no qual não havia uma profissionalização tão grande. “Quando se criou o Mamam, havia o desejo utópico de que o local fosse um museu para expor obras de artistas internacionais, como chegou a acontecer com Rodin e Basquiat. No entanto, essa vocação não se confirmou. A exposição Onde estão as minhas obras também e a metáfora de um descaso com a cidade. Onde estão as obras de arte como um todo?”.

Já a mostra Sala de jogar e outros campos minados, de Márcio Almeida, traz uma retrospectiva de três décadas da produção do artista em variados suportes, incluindo um site specific, instalações, objetos, desenhos e até aquarelas, em uma rara incursão do artista no universo do figurativo. Questões comportamentais, sociais e políticas estão entre suas preocupações, como na pesquisa Deslocamentos compulsórios, desenvolvida desde 2003, baseada na situação dos migrantes e dos refugiados. Outra seção da mostra é inspirada na situação de homens e mulheres enredados na teia da escravidão por dívidas. A instalação Objeto de proteção, uma espécie de teia feita com fita crepe, seria, segundo o artista, a metáfora desse processo.

As obras foram todas escolhidas pelo próprio Márcio e esta é a primeira vez na qual ele expõe individualmente em uma instituição pública. Outra parte da mostra está no segundo andar do Mamam, que traz a seção Sala de Jogar, onde as competições de tabuleiro ganham uma acepção mais conceitual e, ao mesmo, tempo, apontam para o perigo de situações-limite. Outras obras na mesma sala seguem o mesmo conceito, como Calibres e cidades, uma associação entre números de calibres de armas com nomes poéticos de ruas do Recife, como rua da Guia e rua da Saudade. “Esta é uma ironia com os nomes de uma cidade violenta como a nossa”, pontua Márcio.

MAIS MOSTRAS
O Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas, localizado no bairro de São José, apresenta a exposição Recife Sentido, Sentido Recife, que traz uma provocação como mote: como você imagina o Recife em 2037, quando a cidade completa 500 anos? Os artistas Abraão Figueiredo, Marcelo Figueiredo, Alexandre Almeida, Emerson Pontes, Fabio Rafael, Paulo Regis e Romero Pontes criaram 15 trabalhos a partir dessa pergunta, distribuídos em desenho, fotografias, esculturas e pintura. As épocas retratadas partem de um Recife de anos atrás, que já é história, até os dias atuais. A entrada é gratuita, o funcionamento é de terça a domingo, das 9h às 17h, e a mostra fica em cartaz até 24 de fevereiro. Informações: 3355-9543.

SERVIÇO
Exposições Sala de jogar e outros campos minados, de Márcio Almeida, e Onde estão as minhas obras?, de Bruno Faria
Onde: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam) - Rua da Aurora, 265, Boa Vista
Visitação: Segunda a sexta, das 12h às 18h; sábados e domingos, das 13h às 17h. Até 5 de março.
Entrada gratuita
Informações: 3355-6870

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