Música Você precisa ouvir: músicos pernambucanos indicam dez discos de 2016 Sofia Freire, Tagore, Silvério Pessoa, entre outros, elegem destaques em safra de mais de 150 álbuns locais

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/12/2016 16:08 Atualizado em: 29/12/2016 19:07

Discos pernambucanos lançados em 2016 foram indicados por artistas conterrâneos como destaque. Fotos: Divulgação
Discos pernambucanos lançados em 2016 foram indicados por artistas conterrâneos como destaque. Fotos: Divulgação

Mais de 150 discos de artistas pernambucanos nasceram em 2016. Além do resgate de álbuns raros, como Saudade de Pernambuco (Alceu Valença) e retornos à ativa, o caso do “imorrível” Di Melo e de Pácua e Via Sat, se destacaram estreias de artistas já reconhecidos nos palcos e na noite recifense. Vieram à tona neste ano o primeiro disco solo de Zé da Flauta, a primeira gravação formal do Mestre Galo Preto e o disco de estreia de Isadora Melo.

Confira o roteiro de shows do Divirta-se


A lista de nomes, fornecida pelo empresário e produtor cultural recifense Fábio Cabral, dono da Passadisco, revela características da nova safra. A viabilização por financiamento colaborativo, o lançamento simultâneo em plataformas de streaming e a parceria de conterrâneos em arranjos e composições marcaram o ano.

O número de novos álbuns, porém, sofreu baixa expressiva: foram quase cem discos pernambucanos a menos que no ano passado - cerca de 240 foram lançados em 2015. Em 2014, foram 215 novos álbuns locais. Em 2013, 199. Em 2012, 170. Os dados atribuem a 2016 o catálogo menos volumoso em cinco anos. “A crise econômica fez com que muitos projetos fossem adiados para 2017, como os novos CDs e DVDs de Josildo Sá, Ayrton Montarroyos, Projeto Sal, Lucas dos Prazeres, Felipe S. (Mombojó), Almério...”, explica Fábio.

>> ELES INDICAM

Para comentar as produções, o Viver convidou dez músicos locais, atuantes em diferentes segmentos da cena, e pediu que apontassem destaques deste ano.

Sofia Freire >> INDICA >> Levaguiã terê (Vitor Araújo)

A cantora, compositora e pianista Sofia Freire destaca Levaguiã terê (Natura Musical, disponível no site do projeto), do também compositor e pianista Vitor Araújo. “O piano dele me toca, me comove. Eu fiquei muito surpresa com esse álbum, e talvez a palavra nem seja surpresa. Vitor se desprendeu do formato tradicional, em algumas músicas nem toca piano, e se reafirmou, se provou como grande músico e compositor. As melodias são muito cativantes, fortes. Ele se revela um grande compositor instrumental, isso vai além do piano”, elogia Sofia. Ela recomenda, ainda, o disco Circular movimento, da Banda Marsa - “feito de poesia pura”, diz. Levaguiã terê, segundo disco de Vitor, o primeiro feito de composições próprias, foi lançado em setembro.

Lucas dos Prazeres >> INDICA >> Circular movimento (Banda Marsa)

O percussionista e dançarino Lucas dos Prazeres viu no disco Circular movimento (Mills Records, disponível no Spotify) o grande destaque deste ano. “O nome do grupo, inspirado num navio negreiro, o tema e a sonoridade do disco, as letras, o nome, tudo me surpreendeu. O que mais me chamou a atenção foi a maturidade com que os rapazes conduziram todas as etapas do disco, da composição aos arranjos”, diz Lucas. Para ele, a percussão e bateria de Carlos Amarelo foram fundamentais. “Ele toca bateria pensando como percussionista. Isso deu elegância ao disco. Carlos traz a beleza do simples”, acrescenta. O quinteto formado por Carlos Amarelo (bateria e percussão), Rodrigo Félix (percussão), Thiago Martins (voz e guitarra), Rodrigo Samico (guitarras) e Rogério Samico (teclados e sinths) lançou Circular movimento em agosto.

Lucas Crasto >> INDICA >> Valsas, canções e tudo mais que há (Xico Bizerra)

O cantor e compositor Lucas Crasto elegeu Valsas, canções e tudo mais que há (Independente, disponível no Spotify) como melhor álbum de 2016. “um disco que resume poesia, bom gosto, artistas incríveis e um repertório fantástico. Além de ter tido o privilégio de produzir uma faixa junto com Romero Medeiros na voz de André Macambira, vi o disco crescer em perseverança e graça que o próprio Xico esbanja”, pontua. Xico, poeta cearense radicado há mais de duas décadas no Recife, lançou o álbum em julho deste ano.

Gilmar Bolla8 >> INDICA >> Lamento negro 29 anos (Lamento Negro)

O percussionista Gilmar Bolla8, líder da Combo, vê o álbum comemotativo do bloco Lamento Negro como principal trabalho do ano. “Lamento negro 29 anos é o melhor disco do ano. Sobretudo porque, além de música, o Lamento faz transformação social. Deixei a banda para me dedicar à Nação Zumbi com Chico [Science], há mais de 20 anos. Mas, antes disso, conseguimos resgatar muitos jovens da comunidade de Peixinhos com o auxílio da arte. Por se tratar de um disco de celebração, essa história está nele. E a sonoridade merece destaque”, opina Gilmar. O bloco olindense lançou Lamento negro 29 anos (Independente) em janeiro.

Tagore Suassuna >> INDICA >> How to destroy a Phalanx Formation (Phalanx Formation)

Tagore Suassuna se diz incapaz de rotular o som do duo eletrônico pernambucano Phalanx Formation, formado por Ênio Damasceno e Hélder Bezerra, mas destaca o álbum How to destroy a Phalanx Formation (Independente, disponível no Youtube) como o melhor de 2016. “A primeira que vez ouvi foi durante a fase final de mixagem do disco. E foi um tapa. Eu já conhecia os integrantes desde os tempos em que rodavam os festivais país afora com projetos anteriores, como Mellotrons e Sweet Fanny Adams. Mas a produção encontrada em Phalanx é de um nível incomumente alto. O duo parece flutuar entre Ênio Morricone, Beach Boys e Aphex Twin, para citar algumas referências. Faixa após faixa, a voz de Ênio atravessa todos os filtros e modulações, como uma lâmina existencial, precisamente insatisfeita com o cotidiano”, descreve Tagore. How to destroy a Phalanx Formation foi lançado em junho.

Karla Karolla >> INDICA >> Mil vidas (Alex e Ronaldo)

Expoente pernambucana do chamado “sertanejo feminista”, a cantora Karla Karolla destaca a dupla sertaneja Alex e Ronaldo entre a safra deste ano. O grupo resgatou neste ano o setlist Mil vidas, disponibilizado na internet em 2015, em formato de CD e DVD. "Com vozes marcantes e pegada envolvente em todas as faixas, Mil vidas traz nova roupagem para temas comuns do cotidiano, o com elementos pouco comuns para o sertanejo tradicional, utilizando muito eletrônico e com pegada voltada para o forró, uma das raízes culturais do estado. Tem música pra dançar, música pra quem está solteiro, para quem está apaixonado. Uma das minhas preferidas é Sexta-feira, sua linda”, diz a artista. Mil vidas (Independente, disponível no YouTube) foi lançado em julho deste ano.

Wilfred Gadelha >> INDICA >> Walpurgisnacht (Elizabethan Walpurga)

Para refletir a atualidade da cena heavy metal pernambucana, segundo o músico Wilfred Gadêlha, o mais recente álbum da banda Elizabethan Walpurga, Walpurgisnacht (Independente, disponível no YouTube) é o mais indicado. “Formada nos anos 1990, a banda voltou à ativa há pouco tempo. Eles misturam black metal e heavy metal. Fundem bandas norueguesas dos anos 1990 com o heavy metal dos anos 1980, com referências como Iron Maiden e Judas Priest. É um grande destaque deste ano e representa bem a sonoridade heavy metal da cena musical pernambucana”, analisa. Walpurgisnacht foi lançado em outubro deste ano, no dia de Halloween.

Alessandra Leão >> INDICA >> Areia e Grupo de Música Aberta (ao vivo) (Walter Areia)

Para a cantora e compositora pernambucana Alessandra Leão, o destaque do ano cabe ao conterrâneo Walter Areia. “Sua música é aberta, livre, voa na brisa e no vendaval. No disco, mais do que nunca, a música é feita de encontros. Os shows são sempre únicos e emocionantes. Estava na platéia durante a gravação desse disco. É sempre lindo ouvi-lo novamente e lembrar de cada um dos grandes músicos que compartilham suas músicas com parceiros como Ivan do Espírito Santo, maestro genial, Cássio Cunha, baterista maravilhoso, e Júlio César, que nos conduz a tantos lugares afetivos com seu acordeon. Quando falamos em improvisação, a primeira coisa que vem na cabeça é o jazz. À cabeça de Areia vêm cirandas, maracatus, fados, baião, guitarras portuguesas... A música é aberta, essa é a verdadeira jóia do universo”, analisa Alessandra. Areia e Grupo de Música Aberta (ao vivo) foi lançado em CD em maio deste ano.

Juvenil Silva >> INDICA >> Julio Samico e o circo voador (Julio Samico)

O cantor e compositor pernambucano Juvenil Silva diz que, entre os discos da nova safra, Julio Samico e o circo voador é seu preferido. “A produção é de Rogério Samico, um dos filhos dele, que tem bastante mérito nesse trabalho, uma grande produção. É um disco cuja sonoridade remete muito aos discos das antigas, dos anos 1970, mas é muito mais bem resolvido. Tem um bom senso no trabalho de mixagem, masterização, em fundir as estéticas vintage e moderna. Usaram bastante coisa analógica, mas conseguiram um resultado contemporâneo”, analisa Juvenil. “Tem elementos que remetem à juventude, à rebeldia. A sonoridade tem carga da psicodelia nordestina, mas também da psicodelia Pink Floyd”, diz. Julio Samico e o circo voador (Independente, disponível no YouTube) foi lançado em setembro.

Silvério Pessoa >> INDICA >> Vestuário (Isadora Melo)

O músico e escritor pernambucano Silvério Pessoa escolheu o disco de estreia dela de Isadora Melo, Vestuário (Independente, R$ 15), como melhor do ano. “Eu acompanho a trajetória de Isadora há muito tempo, sei da caminhada dela, da importância da parceria com Juliano Holanda. Ele soube dar contorno às melodias dela. Vestuário foi um grande lançamento. Nós não podemos nem chamar Isadora de promessa, porque Isadora já ‘é’, no presente. É um talento evidente”, analisa o músico. Para ele, Levaguiã terê, de Vitor Araújo, foi outro destaque: “Dá um passo à frente nos diálogos da música pernambucana com outros gêneros, como eletrônico, música erudito, hip hop.” Vestuário foi lançado em outubro.

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