Cobertura Macuca ganha pegada rock'n'roll com o selo Rec-Beat Festival realizado neste final de semana, no município de Correntes (PE), mostrou alto nível técnico e artístico

Publicado em: 04/12/2016 15:17 Atualizado em: 04/12/2016 16:19

O festival contou com 11 atrações, sendo a maioria de pernambucanos de projeção nacional. Foto: Máquina3/Divulgação
O festival contou com 11 atrações, sendo a maioria de pernambucanos de projeção nacional. Foto: Máquina3/Divulgação

O Festival Macuca do Mundo, que teve sua primeira edição neste final de semana, no Sítio Macuca, uma área de 100 hectares no município de Correntes, Agreste do estado, a 270 Km do Recife, e já conhecido pelas festas que promove – Cortejo do Boi Macuca, São João da Macuca e festival Macuca Jazz e Improviso - acabou de revelar sua vocação rock’n’roll. E o DNA é do Rec-Beat. O Boi da Macuca (leia-se José de Oliveira, o Zé da Macuca, e o filho Rudá Rocha) e o Rec-Beat (António Gutíerrez, o Guttie) se uniram para dar vida a um empreendimento bonito como ideia, artisticamente rico, e corajoso, muito corajoso como negócio.

Foram 11 atrações, algumas estelares, sendo a maioria de pernambucanos de projeção nacional, que se apresentaram num palco aberto gigantesco, com uma imensa árvore como pano de fundo e o suporte de uma equipe de técnicos de palco, som e luz de primeiríssima linha. Pelos cálculos dos realizadores, cerca de mil pessoas circularam pelo Macuca do Mundo entre a sexta-feira e o domingo e mais de 250 barracas ocuparam a área de camping do sítio, com refeições e bebidas comercializadas pelo festival. Uma empresa e tanto, considerando as limitações de estrutura e as dificuldades de logística. Isso, sem um único patrocínio.

“Sabemos que o público que está aqui é multiplicador e que se no futuro trouxermos 10 mil pessoas para o festival, o espírito será o mesmo”, comemorava Zé da Macuca, na manhã do sábado, feliz da vida em ver o sítio tomado de gente. Mesmo admitindo que ainda não sabia como seriam fechados os custos do festival, Zé parecia absolutamente tranquilo, certamente pela experiência de quem há 27 anos abre a porteira do Sítio Macuca para receber quem gosta de curtir natureza, cultura, música, festa, sem grandes pretensões financeiras. "Daqui a alguns anos, vamos olhar para trás e ver que esta edição foi histórica", comentou Guttie, que costurou com pai e filho a curadoria artística do evento.

Além da área de acampamento, a produção disponibilizou, no site do evento, informações sobre casas para alugar nas proximidades e serviços de vans para o transporte. Artistas e convidados foram acomodados em uma fazenda-clínica de recuperação, a 10 minutos do sítio Macuca, e em Garanhuns, a 35 Km do sítio. O público pagou R$ 100 pelos ingressos das duas noites de shows (o pacote antecipado saiu por R$ 85), mais R$ 80 pelo camping, valores que, considerando o elenco de artistas e o nível das apresentações, não foi alto.  

Evento contou com uma área de camping para abrigar os participantes. Foto: Trago Boa Notícia/Divulgação
Evento contou com uma área de camping para abrigar os participantes. Foto: Trago Boa Notícia/Divulgação

A estreia do Macuca do mundo é o embrião de um projeto ambicioso, concebido para reunir milhares de pessoas à medida que se consolide como festival. Essa primeira edição, como explicou Guttie, servirá de referencial para os realizadores (re)dimensionarem a operação como um todo: do abastecimento à logística; da programação artística à infraestrutura. Oportunidade da produção aprender com os  erros “da primeira vez”. Para quem esteve por lá, ficou claro que, com mobilidade orçamentária e mais planejamento, o evento tem mesmo tudo para entrar na rota dos grandes festivais de música do país.

Sons contemporâneos
A primeira noite do Macuca do Mundo, com shows impecáveis de Juliano Holanda e Isadora Melo, Karina Buhr, Eddie e Freveribe - com direito à encenação do monólogo Billie Holiday, com a atriz Tânia Maria - transcorreu sem grandes atropelos para a produção. Sete da noite e muita gente ainda estava chegando, montando barraca e procurando se ambientar em um cenário estonteante de poucas luzes, a lua crescente e um cobertor de estrelas. Detalhe: as filas para a compra de bebidas e uso dos banheiros (secos) eram praticamente inexistentes.

Com exceção da troca de horário na apresentação do Freveribe, que precisou encerrar a noite, a sequência de shows garantiu a química da pista em que o gramado e o barro foram transformados, com a poeira levantando com a entrada em cena da Selvática de Karina Buhr, em sua primeira apresentação em Pernambuco após o retorno da Alemanha. O clima foi mantido com a performance da Eddie, que tocou os hits de um repertório que vem se renovando nos últimos 25 anos.

Com direito a banho de piscina, oficinas de percussão e fotografia, o sábado do Macuca do Mundo teve roda de poesia de mulheres e a poética eletrônica de Lira, que abriu as apresentações no palco, ao lado do guitarrista Neilton (Devotos). O que aparentava ser a noite menos rock’n’roll do festival – por conta das performances roots dos sergipanos da Coutto Orchestra, do Coco Raízes de Arcoverde e da cumbia do grupo chileno JuanaFé, foi incendiada pela participação do Cidadão Instigado, comemorando da maneira que melhor sabe seus 20 anos de carreira. E teve ainda Siba, fechando a programação, com o seu De baile Solto, celebração à poética dos ritmos locais e originalidade instrumental.

Macuca + Rec-Beat
Como toda grande produção, o Macuca do Mundo foi um projeto muito discutido pelos realizadores. Guttie procurou Zé da Macuca com a ideia de promover uma versão rural  do Rec-Beat. “Não queria simplesmente replicá-lo, porque o Rec Beat é realizado em condições especiais, no meio do carnaval, com um público aberto, com uma vibe diferente”, comenta o produtor, “por outro lado, queria uma coisa mais rural, mais natureza, estava procurando esse lugar”. Zé da Macuca e Rudá, que chegaram a convidar Hermeto Paschoal e o Ave Sangria para edições recentes do Macuca Jazz & Improviso – graças ao aporte do Funcultura – sabiam que precisavam trazer mais público ao festival sob o risco de terem que esquecer do projeto. Os contextos se cruzaram.

“O nosso festival de jazz já chegou a reunir um público de quatro mil pessoas, sem estrutura, sem nada”, recorda Zé da Macuca, lembrando que não cobrava ingressos e que o encontro era chamado de Woodstock. “Os artistas vinham de qualquer jeito, porque gostavam do lugar, vinham de carona, chamavam os amigos, e o evento foi crescendo, crescendo. Mas muita da história desse festival devemos aos artistas”, diz o realizador, que continua apostando na fórmula que vem fazendo história. Inegável o aporte técnico e artístico trazido por Guttie e o Rec-Beat. Que seja longa a parceria.

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