Fotografia Beto Figueiroa lança fotolivro Banzo, com imagens tiradas ao pôr do sol Obra tem 32 páginas e 27 fotos coloridas e traz o conceito de ausência para as imagens

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 06/12/2016 09:41 Atualizado em: 06/12/2016 12:32

Fotolivro traz imagens tiradas em várias localidades de Pernambuco, sempre ao pôr-do-sol. Crédito: Beto Figueiroa/Divulgação
Fotolivro traz imagens tiradas em várias localidades de Pernambuco, sempre ao pôr-do-sol. Crédito: Beto Figueiroa/Divulgação


Uma imagem fotografada e impressa em papel pode ter mais significados do que mostra a soma de elementos visíveis aos olhos. Ela pode evocar sensações, sentimentos e trazer estados de alma. É no que acredita o fotógrafo Beto Figueiroa, que lança, às 19h desta terça-feira, seu segundo livro, Banzo, que terá edição limitada de 250 exemplares, todos numerados e assinados. A publicação é independente e editada pelo Olhavê, projeto dos pernambucanos radicados em São Paulo Alexandre Belém e Georgia Quintas.

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A obra tem 32 páginas e 27 fotos coloridas, todas tiradas na luz do pôr do sol. A ausência e os restos do que já se foi são impressões dadas pelo fotógrafo nas imagens. "Este é um trabalho muito pessoal, subjetivo, diferentemente do Morro de fé, lançado em 2014, mais voltado para o documental, geográfico, em uma pegada que havia acompanhado toda a minha carreira até então. Eu precisava dessa falta de luz, dessa passagem entre o dia e a noite".

O estopim para a realização do livro aconteceu durante uma viagem para a realização de outra publicação, chamada de Eu Capibaribe. Como um dos quatro fotógrafos convidados, Beto percorreu cidades pelas quais o rio de mesmo nome passa e encontrou, em uma fazenda na zona rural de Salgadinho, no Agreste, um cemitério desconhecido, isolado por uma cerca e próximo ao curso d’água. "Fiquei intrigado com aquela imagem, parei o carro, perguntei a um senhor da comunidade qual lugar era aquele e ele me respondeu que era um cemitério ancestral. Esse homem era negro e parte dos antepassados daquela localidade estava enterrada lá. O dono da propriedade afirmou ser um cemitério de escravos. O mato estava crescido, as pessoas não iam lá. Foi quando pensei na ideia de banzo. Não havia lápide, nem  cruzes, mas existia um jasmim enorme, com um tom lilás de amor e saudade".

De acordo com Beto, essa sensação de nostalgia, de falta, já estava presente em algumas de suas imagens anteriores à sua experiência em Salgadinho. "Fiz as fotos do cemitério em 2013, mas havia algo nesse sentido da ausência batendo em mim. Duas das imagens selecionadas para o livro já estavam nos meus arquivos. Estava passando por várias experiências de ausência, aliás, ainda estou passando, e essas fotos são bem particulares. O fotógrafo sempre tem um trabalho meio solitário, é como se houvesse um estado de suspensão".
 
A edição do fotolivro também prima pelo sensorial ao não ter nenhum texto explicativo a respeito das obras. Por mais que todas as fotos tenham sido clicadas em Pernambuco, em Salgadinho, em Limoeiro, na Zona da Mata, ou no litoral, as imagens trazem significados por si sós, à parte de qualquer ambiente geográfico identificável. "Não preciso, por exemplo, mostrar a imagem total do cemitério, só do túmulo. Há, por exemplo, uma foto de telha similar a um destroço. Em toda a seleção, só há dois seres de sangue quente: um cachorro e uma pessoa. Os dois apareceram já perto de eu dar o trabalho por concluído, como se fosse uma sugestão de esperança, de uma próxima série por acontecer. A fotografia tem a capacidade de criar esses estados subjetivos, que parecem banais, mas não são".

Ainda segundo Beto, a ideia é transformar as imagens em uma exposição no futuro. "O dinheiro arrecadado com a venda do Morro de fé ajudou a financiar a publicação de Banzo, que vai estar disponível no site do Olhavê e em outros locais específicos. O fato de o livro ser totalmente independente dá muita força e essa parceria vai fazê-lo ter vida própria", finaliza.

SAIBA MAIS


+MORRO DE FÉ
O fotógrafo começou a registrar a Festa do Morro desde o ano 2000, e as imagens foram, primeiro, expostas em 25 lambe-lambes nas casas do Morro da Conceição em 2014 e lançadas em livro em novembro de 2015, com 50 imagens. A série mostra a mudança pela qual passa o local, de bairro da Zona Norte do Recife a centro de peregrinação que atrai milhares de pessoas todos os anos, entre os dias 29 de novembro e 8 de dezembro. Vendedores, pedintes, prostitutas, bêbados e pagadores de promessas estão entre as pessoas retratadas, mostrando o lado humano e profano da fé, que leva fiéis de todas as idades e classes sociais a subirem as ladeiras e escadarias da localidade de pé, de joelhos ou até a nado para pedir ou agradecer à Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

OLHAVÊ
O Olhavê começou como um blog em 2007, ainda no Recife, e se transformou em uma plataforma de difusão da fotografia, a partir da qual os integrantes ministram cursos e dão consultorias, além de publicarem livros relacionados ao tema. O fotolivro Banzo é o terceiro de uma série intitulada Olhavê Projetos, voltada ao escoamento da produção de fotógrafos contemporâneos brasileiros. Durante o lançamento do livro de Beto Figueirôa, também será apresentado o quarto volume da coleção, Vertentes, de André Conti. Todas as publicações estão à venda no site olhave.com.br.

SERVIÇO
Lançamento do livro Banzo, de Beto Figueirôa
Quando: terça-feira, às 19h
Onde: Capibaribe Centro da Imagem (Rua da Aurora, 533, Boa Vista)
Quanto: acesso gratuito
Preço do livro: R$ 45

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