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Cinema Após enxurrada de críticas, diretor de Último Tango em Paris nega estupro durante gravações Em comunicado, Bernardo Bertolucci disse que a atriz estava ciente do que aconteceria na famosa "cena da manteiga"

Por: Eduarda Fernandes

Publicado em: 05/12/2016 15:53 Atualizado em: 05/12/2016 19:06

Diretor disse que a atriz não foi informada da cena pois ele queria "a reação dela como mulher, não como atriz". Foto: MGM/Reprodução
Diretor disse que a atriz não foi informada da cena pois ele queria "a reação dela como mulher, não como atriz". Foto: MGM/Reprodução


Na última semana, uma entrevista de 2013 com o cineasta italiano Bernardo Bertolucci a um programa holandês foi recuperada pela revista norte-americana Elle. Na entrevista, o diretor admite que a famosa cena de estupro do longa Último tango em Paris foi combinada entre ele e Marlon Brando pouco antes do início das gravações e que nada foi comunicado à atriz. No longa, Brando, na época com 48 anos, usa um pacote de manteiga para violentar Maria Schneider, 19. "Queria a reação dela como mulher, e não como atriz. Eu queria que ela reagisse humilhada. Acho que ela odiou a mim e Marlon por causa do que fizemos", declarou Bertolucci.

A afirmação causou polêmica em Hollywood. Atores como Jessica Chastain (Histórias cruzadas), Chris Evans (Capitão América) e Evan Rachel Wood (Westworld) publicaram mensagens de repúdio ao filme e a Bertolucci e Brando nas redes sociais. "Para todos que gostam desse filme", escreveu Chastain, "você está vendo uma jovem de 19 anos ser estuprada por um homem de 48. Eu estou enojada". "Nunca olharei para o filme, Brando ou Bertolucci da mesma maneira de novo. Isso é mais do que nojento. Estou enfurecido", disse Evans.

"Estou de coração partido", afirmou Rachel Wood. "Os dois são doentes por acharem que isso era normal". "Como diretora", escreveu Ava DuVernay, responsável pelo longa Selma, uma luta pela igualdade, "eu não consigo conceber isso. Como mulher, estou horrorizada, enojada e enfurecida".

Não é a primeira vez, no entanto, que alguém envolvido na produção do longa fala sobre a cena. Em 2007, Maria Schneider revelou que o ataque foi planejado e que por toda a vida se sentiu "humilhada e violentada" pelo que aconteceu. "Marlon disse pra mim, 'Maria, não se preocupe, é só um filme'. Mas eu estava chorando de verdade". Após o ocorrido, Schneider, além de se negar a filmar cenas de nudez, sofreu por anos com depressão e vício em drogas. As declarações da atriz, que faleceu em 2011, não repercutiram na mídia ou na indústria cinematográfica.

Nesta segunda-feira (5), Bertolucci divulgou um comunicado esclarecendo as afirmações da entrevista de 2013, chamando a repercussão de "um grande mal entendido". "Anos atrás, na Cinemateca Francesa, alguém me pediu detalhes sobre a famosa 'cena da manteiga'. Eu respondi, mas talvez eu não tenha sido claro, que decidi, junto com Marlon Brando, não contar para Maria que usaríamos manteiga. Queríamos a reação espontânea dela ao uso impróprio da manteiga! É aí que está o mal entendido. Alguém achou que Maria não havia sido informada da violência que sofreria. Isso é falso! Maria sabia de tudo pois tinha lido o roteiro, onde tudo estava descrito. A única novidade foi a ideia da manteiga. E isso, descobri anos depois, ofendeu Maria."

O comunicado vai de encontro às revelações de Schneider em 2007. De acordo com a atriz, a cena não estava no roteiro e foi criada por Brando, momentos antes do início das filmagens. "Eu fiquei enfurecida. Deveria ter ligado para meu advogado, porque você não pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas na época eu não sabia disso". A atriz chegou a dizer a Bertolucci que ele havia "roubado sua juventude". Em uma entrevista a uma agência de notícias italiana logo após a morte de Schneider, o diretor afirmou que a atriz acreditava nisso pois "não estava preparada para lidar com o sucesso do filme".

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