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Música A música em 2016: sertanejo é preferência nacional em rádios e streaming Mapeamentos das rádios e serviços de streaming revelam tendências do consumo de música neste ano, com destaque para nomes como Marília Mendonça, Matheus e Kauan e Naiara Azevedo

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/12/2016 18:51 Atualizado em: 18/12/2016 18:41

Naiara Azevedo, Matheus e Kauan, Marília Mendonça e Henrique e Juliano estão entre os destaques do gênero sertanejo. Fotos: Reprodução da internet
Naiara Azevedo, Matheus e Kauan, Marília Mendonça e Henrique e Juliano estão entre os destaques do gênero sertanejo. Fotos: Reprodução da internet

No ano em que o consumo de música por streaming superou, pela primeira vez, a venda de CDs e vinis, o levantamento de plataformas como Spotify e Deezer é crucial para aferir quais artistas e músicas foram mais populares em 2016. No Brasil, o gênero sertanejo domina os principais rankings, com duplas como Matheus e Kauan, Henrique e Juliano e Jorge e Mateus entre os mais ouvidos, acompanhados por Marília Mendonça e Maiara e Maraísa.

O recorte lança luz sobre a ascensão do “sertanejo feminista”, protagonizado por cantoras e inspirado nos desencontros amorosos do ponto de vista de um eu-lírico feminino. Show completo: ao vivo em Goiânia (Maiara e Maraísa) e o álbum homônimo de Marília Mendonça estão na lista dos cinco álbuns mais populares deste ano no Spotify.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

Na lista prévia do Instituto Crowley, responsável por monitorar as emissoras brasileiras de rádio, Zé Neto e Cristiano (Seu polícia) lideram a lista de 100 músicas mais executadas no país entre janeiro e novembro, seguidos por Marília Mendonça (Infiel) e Marcos e Belutti (Romântico anônimo). O levantamento definitivo será divulgado pelo instituto na primeira semana de janeiro, mas já se desenha a mesma tendência dos streamings: entre as dez primeiras músicas da listagem prévia, todas são sertanejas. Se destacam duplas como Victor e Leo, Henrique e Diego e Henrique e Juliano, além de Gusttavo Lima e Eduardo Costa. No Recife, o cenário é diferente: O farol (Ivete Sangalo), Sorry (Justin Bieber), Essa mina é louca (Anitta), Chuva de arroz (Luan Santana) e Hotline bling (Drake) lideram a lista de mais executadas.

No Recife, o balanço mostra Ivete Sangalo, Justin Bieber, Anitta, Luan Santana e Drake entre os preferidos. Fotos: Reprodução da internet
No Recife, o balanço mostra Ivete Sangalo, Justin Bieber, Anitta, Luan Santana e Drake entre os preferidos. Fotos: Reprodução da internet

O autor do livro De caipira a universitário: a história do sucesso da música sertaneja (Editora Matrix, R$ 44,90), o pesquisador Edvan Antunes busca desvendar a popularidade do gênero: “As músicas dançantes com temáticas voltadas para a balada e a curtição agradam o público jovem, carente de outras opções, uma vez que o rock nacional, o axé e o pagode desaceleraram. Com exceção do funk carioca, não surgiu nada novo para preencher essa lacuna. Nisso, os sertanejos levam vantagem, vêm no embalo romântico dos anos 1990, quebrando preconceitos”, explica. O autor lembra que entre as primeiras gravações “caipiras” (como eram chamadas à época), em 1929, e a atualidade, quase 90 anos se passaram, contribuindo para o amadurecimento e a consolidação do ritmo.

O pesquisador e professor de mestrado em música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Bruno Nogueira pensa que os algoritmos (conjunto de “suposições” virtuais que conduzem o usuário para o que ele “quer” ouvir) e a compra de anúncios nos serviços de streaming contribuem para reforçar o domínio da música sertaneja sobre os demais segmentos. “Com mais fôlego financeiro, pode-se anunciar mais e aparecer mais vezes como sugestão para o usuário”, explica.

Para além da disputa entre gêneros musicais, a liderança dos serviços de streaming tem consequências poderosas no mercado global: em março passado, pesquisa da Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA) divulgou que as vendas via plataformas de streaming (Spotify, Deezer e Tidal) chegaram a 34,3% do total de músicas comercializadas em 2015, gerando lucro de US$ 2,4 bilhões. Downloads pagos foram a segunda forma preferida de consumo (34% das vendas), enquanto discos físicos somaram 28,8%.

Os números têm motivado mudanças nas principais aferições, a exemplo da Billboard 200 - um dos levantamentos mais relevantes para a indústria musical, publicado pela revista e alimentado com dados da empresa de monitoramento Nielsen Music. Em março passado, Rihanna chegou ao topo das paradas da Billboard com somente 17 mil cópias físicas do disco ANTI vendidas nos Estados Unidos, a pior performance de vendas de um álbum na primeira posição desde 1991. O lugar no “pódio” foi conquistado com os cerca de 130 mil downloads de faixas de ANTI em canais de streaming, totalizando - com as vendas físicas - 54 mil “unidades equivalentes de álbuns”, segundo a revista. ANTI encerra o ano como terceiro álbum mais reproduzido no mundo no Spotify.

>> BALANÇO

Guarde o nome de Drake
Drake é o mais tocado no mundo. Foto: George Pimentel/Getty/Divulgação
Drake é o mais tocado no mundo. Foto: George Pimentel/Getty/Divulgação
Segundo o levantamento anual do Spotify em todo o mundo, Drake foi o artista mais ouvido em 2016, entre homens e mulheres. É, ainda, o artista masculino mais ouvido, além de ser o destaque nos segmentos de hip hop e pop. One dance (Drake feat. WizKid and Kyla) lidera a lista de músicas mais reproduzidas, enquanto Work (Rihanna feat. Drake) - que aparece em quinto lugar na lista da Deezer de músicas mais ouvidas no mundo em 2016 - lidera o Top 5 Músicas no Brasil, no qual One dance está na terceira posição.Views, quarto álbum de estúdio dele, foi o mais reproduzido neste ano no mundo, e One dance foi a faixa mais recorrente na categoria “Top música para término de namoro”. Os resultados refletem a popularidade crescente de Drake, indicado em 13 categorias no American Music Awards - das quais saiu vitorioso em três, por voto popular, incluindo a de Melhor Álbum. Também em 2016, Views foi o primeiro álbum a atingir a marca de um bilhão de streams no Apple Music.

...e de Ariana
Na lista de artista feminina mais reproduzida no Spotify no mundo, Ariana Grande ocupa a vice-liderança, perdendo para Rihanna. No Top 5 Artistas Femininas no Brasil, ela ficou com a quinta posição no serviço de streaming, atrás de Rihanna e das brasileiras Maiara & Maraísa, Marília Mendonça e Anitta. O “placar” foi um pouco diferente do American Music Awards, no qual Ariana foi eleita Artista do Ano por votação online do público, concorrendo com Rihanna, Beyoncé, Justin Bieber, Adele, Selena Gomez, Twenty One Pilots, Carrie Underwood, The Weeknd e Drake.

>> Prata da casa

75% dos 20 artistas mais ouvidos no Brasil, segundo a Deezer, são brasileiros
60% dos 100 mais tocados no serviço de streaming atuam em território nacional
12 milhões de assinantes tem Today’s Top Hits, a playlist mais popular do Spotify. Canal toca músicas mais famosas dos últimos dias.
5 milhões tem a segunda colocada, Rap Caviar, com faixas internacionais de Drake, The Weeknd, J. Cole e Bob .

Rihanna se destaca entre artistas femininas mais ouvidas e é referência no R&B. Foto: Reprodução da internet
Rihanna se destaca entre artistas femininas mais ouvidas e é referência no R&B. Foto: Reprodução da internet
>> Os clássicos...

Alguns medalhões seguem absolutos no levantamento do streaming. Nina Simone é a artista mais lembrada no segmento do jazz no Spotify. Os Beatles são referência em classic rock, Mozart em música clássica, Panic! At The Disco no gênero emo, Enrique Iglesias na música latina, Enya em new age, Metallica em metal, Rihanna em R&B, Bob Marley & The Waillers em reggaeton, Red Hot Chili Peppers em rock e Michael Jackson em soul music. Há, no gênero country, uma subdivisão: Johnny Cash se destaca no country antigo, enquanto Luke Bryan é apontado como grande nome do novo country.

>> Os chicletes...
A lista de vídeos de música mais vistos no Brasil, parte do YouTube Rewind, reforça o alcance de hits chicletes deste ano. Os videoclipes oficiais de Bumbum granada (MC’s Zaac & Jerry), O nosso santo bateu (Matheus e Kauan), Malandramente (Dennis e MC’s Nandinho e Nego Bam), Eu, você, o mar e ela (Luan Santana) estão na lista. O levantamento reflete alguns dos hits mais ouvidos nas ruas e em eventos durante o ano.

>> Mundialmente…
Na lista de vídeos de música mais vistos no mundo, Work from home (Fifth Harmony feat. Ty Dolla ) lidera o ranking. This is what you came for (Calvin Harris feat. Rihanna) vem em segunda posição, seguida por Hasta el amanecer (Nicky Jam), Closer (The Chainsmokers) e Work (Rihanna feat. Drake). Coldplay (com Hymn for the weekend) e SIA (com Cheap thrills) também estão na relação.

>> Domínio dos sertanejos...
O gênero sertanejo lidera absoluto as listas de músicas e artistas mais populares na Deezer e no Spotify no Brasil. Em 2016, Jorge & Mateus estão na primeira posição na lista de artistas mais ouvidos na Deezer. São seguidos, na ordem, por Henrique & Juliano, Wesley Safadão, Marília Mendonça, Maiara & Maraísa e Matheus & Kauan. Sosseguei (Jorge & Mateus), 10% (Maiara & Maraísa) e Aquele 1% (Wesley Safadão) ocupam a segunda, terceira e quarta posição no ranking das músicas mais ouvidas nacionalmente neste ano. No YouTube, entre os dez clipes mais vistos no Brasil, o sertanejo O nosso santo bateu (Matheus & Kauan) está em segundo lugar - perde para Bumbum granada (MCs Zaac e Jerry).

…feminista
Marília Mendonça e Maiara & Maraísa ocupam, respectivamente, o quarto e quinto lugares na lista de Artistas Mais Ouvidos no Brasil em 2016 da Deezer. A boa colocação sinaliza a popularidade do chamado “sertanejo feminista”, protagonizado por mulheres, cujas letras colocam a figura feminina como eu-lírico principal. Outro expoente do segmento, Naiara Azevedo teve o hit 50 reais listado na terceira posição do ranking de vídeos de música mais vistos no Brasil pelo YouTube.

>> Dá um Google
A sertaneja Marília Mendonça é a quarta mais procurada no serviço de busca no Brasil neste ano, entre os nomes dos artistas do segmento musical.

Justin Bieber é nome do pop no Top de sertanejos. Foto: Reprodução da internet
Justin Bieber é nome do pop no Top de sertanejos. Foto: Reprodução da internet
>> Intruso

Entre os 5 álbuns mais ouvidos no Spotify do Brasil, somente um não é sertanejo: Purpose, de Justin Bieber. No Deezer, o cantor coloca Sorry no primeiro lugar entre as músicas mais reproduzidas. No YouTube, o clipe já foi visto por 243 milhões desde 2015.

>> Sob bênçãos
Apesar da visibilidade sertaneja, somente um segmento da música nacional está no mapeamento do Spotify como gênero emergente no mundo em 2016: o gospel brasileiro.

>> E no Recife...

O sertanejo não é gênero dominante entre as músicas mais tocadas nas rádios na capital pernambucana, de acordo com lista prévia do Instituto Crowley, responsável por monitorar as emissoras brasileiras de rádio. A baiana Ivete Sangalo assume a liderança da lista, com O farol. Na sequência, vêm Justin Bieber (Sorry), Anitta (Essa mina é louca), Luan Santana (Chuva de arroz), Drake (Hotline bling), Jorge e Mateus (Sosseguei), Ed Sheeran (Photograph), Belo (Porta aberta), Omi (Cheerleader) e Adele (Hello), as mais ouvidas entre janeiro e novembro de 2016, segundo a . Das dez, somente uma é sertanejas (e outra do forronejo). Os veteranos Zezé di Camargo & Luciano (Se for pra judiar) aparecem em 11º lugar e Wesley Safadão (Coração machucado) em 13º.

>> No mapa
Em mapa interativo online, o Spotify lista as músicas específicas (mais ouvidas em determinado país do que em outros lugares), músicas emergentes (que estão começando a despontar), músicas populares (que tocam nos computadores, headphones e carros) e músicas virais (as mais viralizadas em larga escala) em diferentes pontos do globo. No Brasil, Te assumi pro Brasil (Matheus e Kauan) foi a mais popular entre as específicas da última semana. Vai toma sua gostosa (MC Pikachu) foi a mais emergente, Hear me now (Alok, Bruno Martini feat. Zeeba) foi a mais popular, e Back to me (Marian Hill e Lauren Jauregui) foi a mais viral.

...na capital
Devassa (MC Troia) lidera o ranking de músicas do Recife no mapeamento interativo do Spotify. Som do paredão e Balança, ambas do MC Troia, vêm em segunda e terceira posições. A lista é dominada pelos gêneros brega e bregafunk. Eu não sou de pedra (Kelvis Duran) está em quarto lugar, seguida por Diz na minha cara (Banda Torpedo), Podem até nos separar (Musa do Calypso) e Como a culpa é minha (Banda Torpedo).

>> Resistem
Banda Eddie é uma das pernambucanas não-pertencentes ao gênero brega no ranking. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Banda Eddie é uma das pernambucanas não-pertencentes ao gênero brega no ranking. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Sucessos de Chico Science e Nação Zumbi, Nação Zumbi e Banda Eddie, expoentes do movimento mangue dos anos 1990 em Pernambuco, figuram entre os 30 artistas do Recife no mapeamento por território do Spotify. Ela vai dançar (Banda Eddie) está em 21º lugar, seguida por Bairro novo/casa caiada, da mesma banda. Nação Zumbi aparece com Cicatriz em 27º. Rios, pontes e overdrives (Chico Science & Nação Zumbi) está em 29º. Los Sebosos Postizos, projeto paralelo da Nação Zumbi, e Academia da Berlinda também estão na lista.

As curiosidades...

O Spotify listou as músicas mais buscadas no aplicativo em momentos determinados da rotina dos usuários.

Música para se exercitar: ‘Till I collapse (Eminem feat. Nate Dogg)
Música para sexo: Sex (Cheat Codes, Kris Kross Amsterdan)
Música triste: Say something (A Great Big World)
Música para término de namoro: One dance (Drake feat. WizKid and Kyla)
Música dançante: Uptown funk (Mark Ronson, Bruno Mars)
Música para jogar videogame: Remember the name (Fort Minor feat. Styles of Beyond)

>> Do Brasil em números

75% dos 20 artistas mais ouvidos na Deezer no Brasil são brasileiros
10 das 10 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras são sertanejas
5 das 10 músicas mais ouvidas nas rádios no Recife são estrangeiras
4 dos 5 artistas no Top 5 Artistas do Spotify no Brasil são sertanejos
4 dos 5 álbuns no Top 5 Álbuns do Spotify no Brasil são sertanejos

>> Duas perguntas: Bruno Vieira, diretor geral da Deezer no Brasil

As estatísticas mostram que o Brasil, de modo geral, ainda ouve mais artistas brasileiros. Isso se repete em outros países? Ou é exclusividade local?

Não é uma regra. A participação da música local no Brasil se destaca mesmo quando comparada a outros países que, em geral, tem uma penetração maior de músicas cantadas em inglês. Em uma pesquisa da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), o Brasil apareceu como o terceiro país onde a participação de repertório local dentro do ‘TOP 10’ é mais relevante, atrás apenas do Japão e da Coreia. O fator da língua ainda é um ponto que faz diferença, pois o brasileiro, em geral, não é completamente fluente em inglês. Além disso, o brasileiro ama música, adora cantar e se envolver com a canção. A identificacao com as letras e os ídolos faz toda a diferença, pois faz com que as músicas nacionais estejam melhor inseridas no contexto da cultura local.

No Brasil, além do sertanejo, há hits do pop entre os mais ouvidos. Como ficam outros grandes gêneros, como o rock? Perderam espaço?
Com o advento do streaming de música, é ainda mais fácil todos os outros artistas chegarem aos seus fãs por esse canal digital. Isso abre espaço para identificação e desenvolvimento de diferentes nichos musicais, e um fortalecimento ainda maior de cada gênero na sua relação com os fãs, inclusive o rock, por exemplo. Não vejo como perda de espaço, pois o rock tem o mesmo espaço que qualquer outro gênero dentro do streaming. Talvez em função da escala do streaming e de características da cultura brasileira, predominem gêneros locais mais populares. Outros públicos, como o do rock, continuam engajados e ativos, gerando novos talentos com grande apelo de público. Foi o caso, por exemplo, da Scalene e da Banda Malta, que acabaram projetados em programas de TV aberta no Brasil e atrairam milhares de fãs país afora.

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