Renata Victor selecionou mais de 100 imagens da época em preto e branco. Foto: Ana Farache/Divulgação

O Grupo de Teatro Vivencial era um objeto não identificado nos anos 1970: ao mesmo tempo em que atraía curiosidade e fascínio, também era alvo de repressão por suas escolhas estéticas e éticas. O bom humor, temperado com uma crítica social corajosa na época da ditadura militar, se tornou a forma dos integrantes da trupe de estarem no mundo, e a jornalista e fotógrafa Ana Farache foi uma das pessoas a se render ao que o Vivencial significava.

Entre 1979 e 1983, ela conviveu com integrantes da trupe, acompanhando apresentações e convidando vários dos atores a tirarem retratos no jardim de sua casa, em Olinda. Parte desse material pode ser visto no livro Vivencial: imagens do afeto em tempos de ousadia, cujo lançamento acontece às 19h desta quinta-feira (17), na Arte Plural Galeria.

Segundo Ana, sua relação com o grupo começou por conta da proximidade geográfica. “Morei em Olinda de 1976 até o ano 2000. Conheci os integrantes do Vivencial por lá. A cidade tinha uma efervescência cultural muito grande e todo mundo que morava no Sítio Histórico era amigo. Foi quando eu comecei a trabalhar com fotografia e eu tinha meu próprio laboratório em casa. Também fiz teatro um tempo, tanto na Universidade Católica de Pernambuco quanto no grupo Ponta de Rua. Fui repórter e fotógrafa de jornal e comecei a fazer algumas imagens para divulgar o trabalho deles”.

Para registrar esse período, a publicação tem 105 imagens em preto e branco, selecionadas por Renata Victor, coordenadora do curso de fotografia da Católica. Além das fotos, o livro traz depoimentos de atores que compunham o grupo ou se apresentaram no Vivencial Diversiones, como Cláudio Ferrário.

Rapidamente, Ana e vários integrantes, como Pernalonga, nascido Roberto de França (1960-2000), estabeleceram uma amizade que ultrapassou a duração do Vivencial e também facilitou o registro das atividades do grupo. As “vivecas”, como eram conhecidas, aparecem no livro “montadas”, performáticas, fiéis ao espírito que tinham no palco e fora dele. “Eu, particularmente, convivi muito com ‘Perna’. A gente brincava muito. Ele começou muito cedo no teatro e era uma pessoa muito querida, doce, alegre, prestativa. Era muito bom fotografá-lo. Ele sempre foi muito expressivo, muito dramático, todos eram muito versáteis, muito teatrais”.

>> LANÇAMENTO
Além do lançamento do livro, o evento na Arte Plural Galeria também terá 30 fotos impressas no formato A2, à venda na ocasião. O artista Jomard Muniz de Brito, que acompanhou as atividades do Vivencial e escreveu o poema Pernalonga em sete fôlegos, em homenagem ao ator, vai participar com poesia e com a projeção de um filme em formato super 8 dirigido por ele na fase inicial da trupe. Henrique Celibi, um dos antigos membros do grupo, vai fazer apresentação que resgata algumas atrações do Vivencial Diversiones, inclunindo imitação de Maria Bethânia.

>> VIVENCIAL
O Grupo de Teatro Vivencial surgiu em 1974, a partir de apresentações teatrais na Associação de Rapazes e Moças do Amparo (Arma), vinculada à Igreja Católica. Após se desligar de qualquer propósito religioso, a trupe passou a realizar vários espetáculos, sempre usando o teatro como meio inclusivo de reflexão sobre temas como drogas, sexualidade e abusos de poder. Em 1979, o grupo abre o Vivencial Diversiones, casa de espetáculos localizada no bairro de Sítio Novo, em Olinda. As atividades do coletivo se encerram em 1983.

SERVIÇO
Lançamento do livro Vivencial: imagens do afeto em tempos de ousadia, de Ana Farache
Quando: Quinta-feira (17), às 19h
Onde: Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife)
Quanto: entrada gratuita, com exemplares a R$ 40
Informações: 3424-4431

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