Televisão Primeira série brasileira da Netflix, 3% é a lenda da meritocracia em um país de segregados Os oito episódios da produção estão disponíveis no catálogo da plataforma de streaming

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 25/11/2016 17:59 Atualizado em: 25/11/2016 18:40

Candidatos enfrentam processo doloroso para chegar ao Maralto - Foto: Netflix/Divulgação
Candidatos enfrentam processo doloroso para chegar ao Maralto - Foto: Netflix/Divulgação

São Paulo - Do lado de cá, a escassez de comida, água e condições básicas de sobrevivência. Do lado de lá, a utopia do que se considera um mundo "ideal" e restrito. É fácil fazer, de cara, um paralelo desse contraste com o Brasil atual. Na ficção, a discrepância ganha tons de distopia juvenil e futurista presente em 3%, a primeira série original brasileira da Netflix. Os oito episódios, disponíveis no catálogo do serviço de streaming a partir de amanhã, são ambientados no momento pós-catástrofes climáticas, com oceanos inundados e a região amazônica desértica. Em situações extremas, jovens de 20 anos lutam - custe o que custar - por uma vaga no Maralto, a ilha dos "privilegiados".

"Você é o criador do seu próprio mérito". A frase é repetida, ano após ano, em discursos de Ezequiel (João Miguel, ator de Felizes para sempre?) o chefe do rígido e desumano processo seletivo. Dirigida por César Charlone (Cidade de Deus), a série aborda temáticas contemporâneas do país: injustiças, desigualdade, ameaças climáticas, meritocracia e luta por poder. "Eu sempre falo que o Brasil é uma grande distopia. O que mais me atraiu na série é a mensagem que ela quer passar: essa segregação de 3% versus 97%", compara Bianca Comparato, intérprete de Michele, uma das personagens principais.

Meritocracia é um dos temas centrais. "A série é uma alegoria em cima disso. Quais são os padrões desse homem (Ezequiel) para definir? A nossa sociedade é muito assim: você é julgada o tempo inteiro", diz Bianca. A produção estará disponível em 190 países onde a Netflix opera. A universalidade está no tema e na profundidade de personagens. O Viver assistiu aos episódios 1, com foco na introdução dos personagens e na dinâmica do Processo, e 5, com tom dramático mais acentuado ao concentrar na história de Júlia (Mel Fronckowiak) e Ezequiel.



A jornada de 3% começou em 2009, quando o roteirista Pedro Aguilera foi influenciado por obras literárias como Admirável mundo novo (1983), de Aldous Huxley, e 1984 (1949), de George Orwell. O projeto da produtora Boutique Filmes, desenvolvido por ele e pelos diretores Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotagá Crema, foi aprovado em edital do Ministério da Cultura para desenvolvimento de um piloto. A equipe disponibilizou a websérie na internet, que gerou uma comoção espontânea, com fãs traduzindo o piloto para outras línguas. O projeto foi rejeitado em novos editais e por canais brasileiros de televisão.

A reviravolta ocorreu quando o vice-presidente de conteúdo original internacional da Netflix, Erik Barmack, ficou seduzido pelo vídeo. Ao assisti-lo no YouTube, comprou a ideia. O envolvimento dele no processo foi intenso. Da ideia original para a nova versão, as cores do figurino - longe do cinza predominante da websérie - é uma das principais mudanças. "A nossa distopia é uma distopia brasileira. As pessoas improvisam, gostam de cor. Não é cinza ou triste. As pessoas estão lá, com uma esperança de vida, mas tem cor, vida", pontua Jotagá Crema, um dos diretores.

Outros aspectos foram levados em consideração, como as etnias brasileiras. No elenco, por exemplo, Zezé Motta (Escrava mãe) ocupa um cargo de poder na série. "Essas pessoas negras ocupam lugares tão diferentes na sociedade, todo mundo com a sua força. Um dos grandes méritos da série é tratar o ser humano de uma maneira multifacetada", aponta Viviane Porto, intérprete de Aline. A trilha sonora também faz clara conexão com o DNA do país. "A gente queria trazer essa brasilidade para a música, que é muito rica no Brasil. A ideia era misturar o popular com o erudito", explica Jotagá. O resultado disso vai do chorinho a clássicos da MPB, como Último desejo, de Noel Rosa.

A repórter viajou a convite da Netflix.

+ Quem é quem:

Foto: Netflix/Divulgação
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Michele (Bianca Comparato):

Protagonista, a candidata é espécie de anti-heroína, dona de obstinação singular e sede de justiça, razões que a motivam a participar da seleção.

Foto: Netflix/Divulgação
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Ezequiel (João Miguel):

Casado com Júlia (Mel Fronckowiak), o chefe do Processo é ganancioso e corrompido, mas tem inseguranças. Diante de Aline, ele se sente ameaçado.

Foto: Netflix/Divulgação
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Julia (Mel Fronckowiak):
Atua como avaliadora da seleção dos candidatos. Para não prejudicar a jornada do marido, esconde um segredo que será revelado no quinto episódio.



Aline (Viviane Porto):

É ambiciosa e não omite a rivalidade com Ezequiel, principal oponente. Uma das funções dela é fiscalizar o trabalho do personagem de João Miguel.
Foto: Netflix/Divulgação
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Fernando (Michel Gomes):
Único cadeirante, escolhe disputar em condições iguais com os concorrentes. O ator se preocupou em fazer do personagem e da cadeira de rodas "um só".

Foto: Netflix/Divulgação
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Joana (Vaneza Oliveira):

Solitária, faz aliança com Rafael para ficar no processo. Interessada em se classificar, enxerga em Rafael alguém que sabe jogar, mas não com as mesmas cartas.

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Rafael (Rodolfo Valente):
Está disposto a tudo para ser selecionado, até fraudar as etapas. Com Aline, constrói aliança para ganhar mais habilidade na disputa, e não de confiança.



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