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Gastronomia Paola Carosella lança no Recife livro que mistura gastronomia e biografia Em entrevista, chef fala sobre o livro, a relação com a cozinha e a experiência no MasterChef

Por: Eduarda Fernandes

Publicado em: 28/11/2016 20:27 Atualizado em:

Foto: Jason Lowe/Reprodução
Foto: Jason Lowe/Reprodução


A chef argentina Paola Carosella é uma veterana no ramo da gastronomia e exerce o ofício desde a década de 1990. Mas o nome dela só se tornou conhecido do grande público a partir de 2014, quando virou a única mulher jurada do reality gastronômico MasterChef Brasil (ao lado dos colegas Erick Jacquin e Henrique Fogaça), programa de TV exibido na Band (às terças, às 22h30). A popularidade com a exposição na telinha arregimenta a atenção de mais de um 1,5 milhão de seguidores nas redes sociais - alguns dos quais terão a sorte de encontrar a chef durante sessão de autógrafos no Recife do livro Todas as sextas. O evento, chamado de "tarde de abraços", será na livraria Saraiva do Shopping RioMar, na próxima quarta-feira (30), a partir das 18h30.

"Estar tão exposta gera uma grande responsabilidade. Sempre tomo cuidado e penso que o que falo pode inspirar aqueles que me seguem. Gosto de inspirar bons pensamentos e boas energias", diz a chef, cuja postura à frente do reality show alterna momentos de intervenções incisivas e duras com demonstrações de afeto para com os participantes, muitas vezes à base de lágrimas. Os laços com os admiradores serão estreitados a partir desta semana, quando ela lança o livro com receitas, relatos autobiográficos e experiências profissionais à frente do próprio restaurante, Arturito, em São Paulo.

A publicação é fiel ao interesse da chef de estabelecer conexão com os fãs. Todas as sextas procura ressaltar o conhecimento de Paola e apresentá-lo como aprendizado. Entre as receitas disponibilizadas, estão referências trazidas pela argentina que desembarcou no Brasil em 2001, terra referenciada pela chef com "caipirinha". "Esse era todo meu vocabulário em português". Estão lá a recomendação para usar "quatro ovos de uma galinha de vida digna" ou a sugestão de mudanças em uma receita tradicional, com a advertência ao leitor que, "se você fizer e ficar bem bom, me avisa", ou a orientação para "agradecer" pelo peixe da refeição.

As dicas sobre os pratos são descritas com doses de afetividade. Paola encontra maneiras de costurar as instruções do preparo com lembranças pessoais. "Não achei que o livro fosse mostrar tanto de mim", disse. Mas a exposição não vem como surpresa. "O que tenho para contar é uma história que se ergueu na cozinha e é nessa história que as receitas fazem sentido".

Todas as sextas, no entanto, não é só gastronomia. O livro, que Paola pensou que nunca fosse escrever ("Sempre me perguntei porque ainda se fazem livros de cozinha"), conta com relatos capazes de interessar até os que nunca ouviram falar da chef. Ao descrever a clientela de um restaurante no qual trabalhou em Buenos Aires, por exemplo, Paola cita a presença frequente de Mick Jagger e Iggy Pop, mas a figura que mais lhe interessa é um anônimo, Monsieur Legrand, que "pedia sempre mesa para três: ele, a mulher e a amante".

O texto, organizado em capítulos curtos, não fala diretamente sobre o relacionamento de mais de dois anos com o fotógrafo irlandês Jason Lowe, responsável pelas fotografias da obra. Discreta, Paola menciona apenas que o conheceu enquanto buscava inspiração para um livro e que, mesmo antes de encontrá-lo pela primeira vez, "sabia que, se fizesse um livro, teria que ser com ele", pois "admirava-o e acompanhava seu trabalho havia muitos anos". Lowe, em um pequeno posfácio, é um pouco mais eloquente, dizendo que o melhor momento de todos que viveu foi quando "os planetas e as estrelas se alinharam para me colocar dentro da cozinha de Paola Carosella".

A biografia ainda toca em um momento doloroso da cozinheira: o suicídio do pai, descrito assim por Paola Carosella: "Ele era um pouco louco. Todos somos. Ele era um pouco mais". 

Serviço
Tarde de abraços no Recife - Sessão de autógrafos com Paola Carosella
Onde: Saraiva Riomar (Avenida República do Lima, 251, Pina)
Quando: 30 de novembro
Que horas: 18h30
Quanto: Gratuito. Serão distribuídas 250 senhas, a partir das 17h.

Entrevista // Paola Carosella

Como surgiu a ideia do Todas as sextas
Recebi alguns convites para escrever um livro de cozinha, mas não via a necessidade de mais um. Para mim, o livro precisava fazer sentido e ter uma espinha dorsal que conduzisse a história. Foi quando pensei que poderia falar sobre as receitas do menu executivo de sexta-feira do Arturito do ano de 2014. É daí que vem o título. Foi um período importante, um ano de mudanças na minha vida e no restaurante. Começar com a biografia foi natural porque achei que fazia muito sentido contar a minha história, fatos relacionados à minha formação como cozinheira.

Por que gastronomia?
Nunca pensei em ser outra coisa que não fosse cozinheira. Cozinho desde pequena com as minhas avós, cozinhava em casa para a minha mãe e busquei a cozinha profissional porque a cozinha era, é, meu lugar preferido. Poderia fazer outra coisa, mas eu sou cozinheira e me sinto muito feliz sendo cozinheira.

Como é sua relação com os outros jurados do MasterChef, Erick Jacquin e Henrique Fogaça?
É ótima. São os melhores companheiros que eu poderia ter imaginado nessa aventura. Foi uma sorte, nossa relação deu muito certo. Tem uma química muito verdadeira entre nós três e cada um tem seu espaço e cumpre seu papel.

No programa, já se arrependeu de alguma crítica ou de ter mandando alguém para casa?
Nunca. Em cada programa, cada episódio, as escolhas são técnicas. Escolhemos os melhores e os piores de cada prova, de acordo com critérios técnicos. Não há espaço para emoção.

Trecho do livro
“Eu me lembro de cada um dos momentos que passei ao lado da minha mãe, Irma. Lembro perfeitamente de suas mãos, das pintas que começaram a aparecer à medida que a idade avançava. Lembro dela moça e lembro dela mulher. [...] Ela me ensinou a ser ética, a ter amor pelo trabalho, a respeitar o outro, a rir de mim mesma. Me educou e me ensinou que as coisas se conseguem com dedicação e esforço e que as conquistas seguem o caminho do coração. Não sei se ela planejava que eu fosse parecida com ela, mas sou. Muito. Eu tenho hoje 43 anos. Ela tinha 47 quando se foi. Acho que a vida foi extremamente generosa comigo. Tenho tudo que preciso dentro de mim para ser o mais feliz que eu consiga ser. E essa vai ser sempre a minha maior homenagem a Irma”

Todas as sextas, de Paola Carosella
Melhoramentos, 352 páginas
Preço: R$ 70


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