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Música Mestre Galo Preto, Patrimônio Vivo de Pernambuco, lança primeiro disco aos 81 anos Mestre do coco faz apresentação gratuita do disco no Recife no dia 1º de dezembro

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 28/11/2016 11:24 Atualizado em: 28/11/2016 19:04

Galo Preto sobe ao palco do Teatro de Santa Isabel no dia 1º de dezembro. Fotos: Itaú Cultural/Divulgação
Galo Preto sobe ao palco do Teatro de Santa Isabel no dia 1º de dezembro. Fotos: Itaú Cultural/Divulgação


Nos arredores do Quilombo Rainha Isabel, em Bom Conselho, no Agreste pernambucano, Tomás Aquino Leão não atendia por Galo Preto. Ganhou o apelido ao apartar briga, nos anos 1930. Menino brabo, metido a valente. Imitava os emboladores da região como quem não quer nada quando fez as primeiras rimas de improviso, aos 8 anos. Hoje, aos 81, volta ao cenário da infância com o primeiro disco da carreira debaixo do braço. Mais de 70 anos se passaram desde a despedida do município natal, todos eles dedicados à carreira como mestre do coco, repentista e embolador.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

Histórias que andei
(Itaú Cultural, R$ 15), contemplado no edital Rumos Itaú Cultural 2015-2016, reúne 12 composições do músico, com arranjos de pandeiro e sanfona. É um registro do coco trava-língua, tradição da cultura popular pernambucana, na qual Galo Preto se fez mestre. Tem a carga histórica do ineditismo: “Antes disso, participei de discos de outros artistas, cheguei a gravar coisas minhas para coletâneas de coco. Nada formal, oficial. É minha primeira vez”, diz Galo Preto. E ri do inusitado: “Depois de sete décadas de estrada. Já pensou?”.

Nos estúdios, fez o de sempre, o que faz de melhor: improvisou. Orgulhoso dos versos incompletos, aos quais retorna sempre, para um acréscimo ou outro, faz questão de confiar à memória o desenrolar das canções. Bate palmas e pés para explicar à reportagem como nascem os compassos, as pausas, cadências, repetições. “Tudo meu é improvisado. Fomos às gravações, eu simplesmente improvisei. É assim que eu funciono. Tenho até dificuldade de decorar o que eu gravei para depois cantar. Chego no palco e não me lembro de tudo, improviso de novo”, descreve.

O talento para as rimas, forjado nas tradições dos emboladores e repentistas do Agreste de sua infância, nunca o abandonou, apesar dos percalços. Acusado de liderar grupo de extermínio em 1992, passou dois anos e meio atrás das grades. Libertado por falta de provas, associou a acusação às disputas políticas nas quais se envolveu assinando jingles. Não escapou do ostracismo. Somente em 2007 voltou a participar de projetos sociais e improvisar versos. “Trabalho com isso, vivo disso. Acho que a minha vida sempre foi superar e improvisar”, reflete.

Neste último dia 13, apresentou Histórias que andei no Quilombo Rainha Isabel, na Zona Rural de Bom Conselho, no Agreste do estado, às 20h. E no dia 1º de dezembro, sobe ao palco do Teatro Santa Isabel (Praça da República, S/N - Santo Antônio), no Centro do Recife, às 19h, com entrada gratuita. Ele também fará show de lançamento do disco em São Paulo, a convite do Itaú Cultural. É o percurso do passado, mas dotado de renovação. “Fiz esse mesmo caminho, de Bom Conselho à capital [pernambucana] lá no início, há muitos anos. Me lembro de tudo. É como se fosse um recomeço”, avalia o mestre, reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2011.

Em apartamento no Centro do Recife, revisita as lembranças. Nas ruas da cidade, para onde Galo Preto se mudou ainda menino, acompanhando o irmão mais velho, vendeu frutas, legumes, amadureceu os versos. Por obra do acaso, foi ouvido por Ascenso Ferreira enquanto cantarolava em frente à casa do poeta. E o destino lhe sorriu. “Ascenso me pôs em contato com Zil Matos, que tinha um programa na Rádio Clube, na qual terminei indo cantar. E tudo começou”, resgata. Animou festas de família, inaugurações de lojas, emprestou a voz a campanhas publicitárias, criou jingles para políticos locais.

Nos anos 1970, os das “vacas gordas”, como ele diz, participou de programas de TV, contracenou com Chacrinha, Silvio Santos, Flávio Cavalcanti. Cantou com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Arlindo dos Oito Baixos. Imprimiu nacionalmente o seu nome. O desenrolar da trajetória, registrada no documentário Galo Preto, o menestrel do coco (2011), de Wilson Freire, ganha novo capítulo com o primeiro álbum autoral. Histórias que andei reconstrói memórias e inspirações de Galo Preto, enraizadas na oralidade do Agreste pernambucano e difundidas pelo mestre, rei do improviso, há mais de 70 anos.

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