Televisão Duas produções brasileiras de televisão examinam a relação entre África e Brasil Brasil: DNA África estreia nesta sexta-feira no BBC Earth. África da Sorte acabou as gravações no fim de outubro

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/11/2016 11:10 Atualizado em: 11/11/2016 12:50

Em Brasil: DNA África, episódio gravado em Pernambuco será o quarto da série. Foto: BBC Earth/Divulgação
Em Brasil: DNA África, episódio gravado em Pernambuco será o quarto da série. Foto: BBC Earth/Divulgação


Maracatu, gastronomia, língua portuguesa, religião, música, capoeira. É fácil identificar influências africanas em aspectos da vida brasileira. Um oceano separa o Brasil do continente africano, mas é inegável a proximidade cultural entre as duas regiões - realçada, no país, pela presença negra e parda na população, 53% segundo a  mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. As produções televisivas têm captado a relação histórica entre os povos e elaborado narrativas para retratá-la sob diferentes perspectivas. Duas séries nacionais com DNA pernambucano - uma delas com estreia nesta semana - contribuem com a reflexão sobre a afrodescendência, tema reverberado internacionalmente no documentário A 13ª emenda (Netflix), o seriado ficcional Insecure (HBO) e o remake da minissérie Raízes (History Channel).

Brasil: DNA África faz um mapeamento das raízes africanas no país a partir da origem genética de 150 afrodescendentes brasileiros. A série, idealizada pela recifense Mônica Monteiro, estreia nesta sexta-feira (11), às 19h10 (horário do Recife), no canal BBC Earth. "O Brasil precisa saber um pouco dessa história. A gente tem uma barreira muito grande. O Brasil não conhece a África, e a ideia é aproximar isso", comenta a produtora, em entrevista ao Viver. Em cinco episódios de 52 minutos cada, o programa foi gravado em estados com heranças africanas mais evidentes e que mais receberam escravos no país: Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão e Minas Gerais.

O primeiro episódio trata da Bahia. O quarto é dedicado a Pernambuco, no qual o artista Cannibal e a chef Carmem Virgínia, proprietária do restaurante Altar - cuja especialidade é cozinha ancestral -, submeteram-se a testes para desvendar a ascendência. O vocalista do Devotos, por exemplo, tem origem dos povos Masa e Yansi, respectivamente de Camarões e República Democrática do Congo. Já Carmen remonta à Nigéria. "O projeto nasceu em um momento em que o Brasil estava tendo vários conflitos por racismo, mas não queríamos puxar por essa questão. O intuito, na verdade, é levantar as raízes africanas que temos e mostrar isso ao brasileiro", explicou Mônica.



No episódio pernambucano, o mestre de maracatu Levi da Silva Lima descobre ser descendente dos Macuas, povo de Moçambique. Sem nunca ter andado de avião, Levi foi ao encontro de sua origem, um momento emocionante proposto pela série. O programa também mostra a origem de artistas como Zezé Motta, Antonio Pitanga, Luiz Melodia, Martinho da Vila e Ana de Holanda. Paralelamente a descobertas, a produção detalha a essência africana presente em rodas de samba, gastronomia, sincretismo religioso, língua e capoeira.

África da Sorte retrata brasileira que vai trabalhar em país fictício afriano. Foto: Aroma Filmes/Divulgação
África da Sorte retrata brasileira que vai trabalhar em país fictício afriano. Foto: Aroma Filmes/Divulgação

Primeira série televisiva da cineasta Renata Pinheiro (Amor, plástico e barulho), coridigida por Sérgio Oliveira, África da sorte narra uma história de ficção, a partir de um aspecto verídico: profissionais brasileiros que vão trabalhar na África. "Isso acontece muito. Alguns países africanos recebem profissionais de marketing do Brasil. Eles ficam em um bairro nobre para estrangeiros, enquanto o resto da população sofre com problemas sociais", resume Renata. Com previsão de ficar pronta para o primeiro semestre de 2017, a produção será transmitida na TV Brasil.

Com cinco episódios de 26 minutos, a trama acompanha uma brasileira enviada a um país africano fictício para trabalhar na campanha publicitária do governo local. A protagonista é vivida pela pernambucana Mohana Uchoa (Justiça), de 23 anos. A personagem se firma profissionalmente e se torna uma diretora de uma loteria, com mesmo nome da série, cujo objetivo era arrecadar investimento para obras filantrópicas. Ela descobre uma fraude no processo."Embora brasileira, a jovem negra passa a se sensibilizar com as questões e atinge uma consciência da raça negra, que a torna mais humana", adianta Renata. Após descobrir a lavagem de dinheiro, a publicitária denuncia o esquema e passa a ser fugitiva.

"Ela tem um aprofundamento nas questões pessoais, da África e do Brasil. É um mergulho nessas questões da colonização. Ressurge como heroína, que quer fazer justiça", detalha Renata. As gravações, concluídas no último fim de semana, foram realizadas nas praias de Itamaracá e Itapissuma, litoral norte de Pernambuco, locais onde há fortes núcleos negros. Segundo a diretora, a equipe poderia ter filmado na África, mas a decisão de gravar no Brasil foi uma escolha conceitual. "A gente resolveu criar um país miscigenado, que também se assemelha com o Brasil. É uma forma de dar uma leitura do que é Brasil, do que é África", justificou.

Renata ratifica que o "país fictício" não pareceu ser filmado no Brasil. O projeto da série existe há dez anos, mas só agora - momento em que as discussões de raça alcançam mais notoriedade - foi concretizado. Da protagonista aos papéis secundários, boa parte do elenco é negra. A equipe da Aroma Filmes, produtora responsável pelo projeto, teve auxílio de consultores africanos. "Eles leram o roteiro e acham fundamental que a série seja exibida na África. A série fala de uma estrangeira que muda a história do país", contou Renata. Para ela, é uma autocrítica e bom para a autoestima.

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