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Televisão Com toques de fantasia, Pernambuco é cenário da série Fim do Mundo, com Hermila e Jesuíta Gravada em Triunfo, série de Hilton Lacerda e Lírio Ferreira estreia neste sábado no Canal Brasil

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 19/11/2016 16:40 Atualizado em: 19/11/2016 17:18

Hermila Guedes e Jesuíta Barbosa vivem mãe e filho na série. Foto: Canal Brasil
Hermila Guedes e Jesuíta Barbosa vivem mãe e filho na série. Foto: Canal Brasil
Pernambuco aparece como cenário de produções recentes da televisão. Justiça, Amores roubados, Geração Brasil e Amorteamo foram ambientadas ou gravadas no estado. Mas nenhuma é essencialmente tão pernambucana na construção quanto Fim do mundo, nova série do Canal Brasil, que estreia neste sábado, às 21h (horário local). Da direção aos figurantes, o seriado com DNA local agrupa talentos do estado. A atração é dirigida por Hilton Lacerda (Tatuagem) e Lírio Ferreira (Baile perfumado), protagonizada por Jesuíta Barbosa e Hermila Guedes, filmada em Triunfo, realizada pela Rec Produtores, com trilha sonora de DJ Dolores (sergipano, mas com carreira construída no estado). Se o reconhecimento do cinema local é algo consumado, o objetivo agora é conquistar a televisão.

Primeiro trabalho ficcional de Hilton Lacerda para televisão, Fim do mundo é uma adaptação da obra de quatro autores nordestinos: Hermilo Borba Filho (O Mateus), Ronaldo Correia de Brito (Mentira de amor), Antônio Carlos Viana (O dia em que Céu casou), Sidney Rocha (Castilho Hernandez, o cantor e sua solidão). Com a proposta de amarrar as histórias, o quinto episódio, Epílogo, é do próprio Hilton.

Os capítulos funcionam de forma independente através de subtramas, mas são costurados a partir da história de personagens como Vitória (Hermila Guedes) e Cristiano (Jesuíta Barbosa). A série faz parte do projeto Conto que Vejo, cuja proposta é adaptar contos literários para televisão. A equipe já trabalha em uma segunda temporada para apresentar em editais.

Fim do mundo acompanha a história ficcional de Vitória, que retorna a Desterro
após o filho, Cristiano, ter saído da prisão. O regresso esbarra em cicatrizes 
da relação conflituosa entre ela e o irmão Balbino (Alberto Pires) e cede 
espaço para a aparição de elementos fantásticos na trama. "O Conto que Vejo ofereceu um grau de liberdade muito grande para nós. A princípio, não existe nenhuma conexão entre as obras desses autores. Isso fazia parte da provocação da série”, analisa Lacerda. Para o diretor e roteirista, a adaptação pode ser limitadora, mas não foi o caso de Fim do mundo. Com a liberdade encontrada, o desafio foi encontrar uma unidade e confluência entre personagens e histórias.

"O projeto Conto que Vejo busca definir uma linha de ligação entre as obras literárias, que permita uma história com arco dramático maior”, pontua o produtor João Jr. Os episódios se conectam em um arco dramático maior. Ambientada em épocas diferentes, o universo fantasmagórico foi uma saída para definir a conexão entre as histórias literárias. do mundo provoca o encontro entre Jesuíta e Hermila em cena, atores que nutriam admiração mútua e interesse em contracenar juntos. "Os dois são personagens do Agreste, sertanejos, meio parecidos. Hermila é de Cabrobó, Jesuíta nasceu perto de Salgueiro. Esse encontro é sensacional", comenta Hilton - já dirigiu Jesuíta em Tatuagem e, pela primeira vez, Hermila.

A curta diferença de idade entre os atores - 11 anos, no caso - foi solucionada no processo de caracterização, que deixou Hermila mais velha, e Jesuíta, mais novo. Na história, Vitória teve Cristiano muito nova. Essa proximidade foi fundamental na construção da relação maternal. “Eles têm muita intimidade. A relação é quase incestuosa. Talvez por ela ser muito jovem, ter tido filho muito nova. Cristiano vê que tem essa mãe, essa mulher e que precisa cuidar dela. Às vezes, ele é ‘pai’ dela”, analisa Jesuíta. "A Vitória foi mãe muito cedo. Eles têm uma relação de cumplicidade muito forte. De alguma maneira, tentamos encontrar essa maternidade como artifício”, complementa a atriz.

Após a estreia, os cinco episódios estarão disponíveis no site do Canal Brasil. Foto: Canal Brasil/Divulgação
Após a estreia, os cinco episódios estarão disponíveis no site do Canal Brasil. Foto: Canal Brasil/Divulgação


A preparação de elenco foi do ator Pedro Wagner, do grupo teatral Magiluth e da minissérie Justiça (Globo). O trabalho foi reforçado em exercícios corporais, como dança e improviso. Além de Cristiano e Vitória, Balbino (Alberto Pires), irmão de Vitória, representa o machismo nordestino. Ele tem um caso com a Joaninha, vivida por Larissa Leão, a filha da criada, personagem de Marcélia Cartaxo. A direção se preocupa em levar novos talentos para televisão. O elenco traz nomes do teatro, como Marcondes Lima, Andrea Veruska, Arthur Maia, Hermínia Mendes.

Existe a ideia de transformar Fim do mundo em um longa-metragem, mas ainda é um plano distante. “Já discutimos muito sobre isso. Mas a princípio o projeto nasceu para televisão. Provoca uma ocupação desse espaço da produção no estado. A dramaturgia para um veículo nacional é super importante”,  esclarece o produtor João Jr.. “Queria muito entender que tipo de liberdade a gente poderia ter quando fizesse esse tipo de série. Por que não ocupar outros espaços para chegar com uma linguagem tão impactante como chegamos no cinema”, questiona Hilton.

A página do Canal Brasil no Facebook transmitirá simultaneamente a estreia, neste sábado, às 21h. Além disso, o episódio ficou disponível no Canal Brasil Play. Após o lançamento do primeiro episódio, os quatro restantes estarão disponíveis na plataforma para assinantes.

>>Entrevista Jesuíta Barbosa, ator

Você está cada vez mais presente na televisão. Fim do mundo, no entanto, é o
primeiro projeto para TV por assinatura e feito por cineastas do estado. Você
sentiu alguma diferença no processo de feitura da série?
Eu sinto. Voltei a trabalhar com Hilton e ele tem um processo muito delicado de trabalho. A televisão precisa que você fique imbuído de uma energia muito prática, de maneira rápida. Quando a gente foi trabalhar com Hilton, foi necessário um processo maior de preparação, de encontro, de conversa. A intimidade que tinha com ele deixou tudo mais delicado. Os planos são demorados, são longos. Então é bem diferente da televisão da comum. São cinco médias-metragens, porque são cinco histórias diferentes e o tempo é muito de cinema clássico.

É o seu segundo trabalho com Hilton Lacerda. O que destacaria nele?
Tem coisas em Hilton que me impressionam: é um homem extremamente culto e, ao mesmo tempo, muito simples. Aí acontece uma sofisticação na finalidade desse diretor. Hilton tem um respeito grande pelos atores e set inteiro. O tratamento que dá para toda a equipe é de muito respeito. Em nenhum momento ele está acima, por ser diretor, em qualquer pessoa do set. É isso que dá um bom resultado.

Você sentiu uma diferença muito grande entre o estilo de trabalhar dos
diretores Hilton e Lírio?
Totalmente. Eles são homens muito cientes do que estão fazendo. Lírio tem uma alegria em dirigir, em criar cena. Ele trabalha de forma muito alegre, concentrada. Hilton também, mas é mais branda a alegria dele. Os dois juntos pegavam fogo. São muito amigos.

A série representa uma ocupação da dramaturgia pernambucana na televisão Como enxerga esse momento?
Acho que a legislação ainda tem um embate muito grande. Esse sistema de capital e dinheiro, a televisão viciou num tempo muito veloz. Alguns projetos são fugazes, vão embora. Essa vontade de Hilton é muito legítima. No Canal Brasil, Hilton não estava seguindo uma regra. Estava fazendo o que queria. Essa é uma função do artista para conseguir falar sobre algo. Acho que a televisão está caminhando para isso. As minisséries têm uma pegada cinematográfica. As pessoas estão assistindo mais. O olhar do público está mudando para uma nova atmosfera de audiovisual. Ainda tem que galgar muito para conseguir arranjar espaço para o experimental.

>>Outros projetos de Hilton Lacerda:

Lama dos dias:
A proposta de levar a dramaturgia pernambucana para televisão terá continuidade em dois projetos. Em parceria com Helder Aragão (DJ Dolores), a série Lama dos dias, aprovada no programa Brasil de Todas as Telas, será exibida no Canal Brasil. No momento, o diretor desenvolve a estrutura da segunda temporada da atração, série ficcional ambientada no momento da formação do movimento mangue. As gravações estão previstas para abril de 2017.

Chão de estrelas:
Série derivada do longa-metragem Tatuagem (2013), o projeto é inspirado no coletivo teatral  do filme. A previsão é que as filmagens comecem em outubro do próximo ano e seja exibida no Canal Brasil. Não há definição de elenco, mas a ideia inicial é que haja uma parceria com o coletivo Magiluth. A série será ambientada nos dias atuais, diferente da produção original, que se passava na década de 1970.


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