Música A história do pernambucano que conhece Lenine mais que o próprio cantor Alexandre Pontes coleciona raridades da carreira do músico, entre cartazes, discos e LPs, e acompanha agenda do ídolo no estado

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 03/11/2016 17:06 Atualizado em: 03/11/2016 17:42

Alexandre Pontes tem 39 anos e acompanha shows e ensaios de Lenine por todo o país. Foto: Karina Morais/DP
Alexandre Pontes tem 39 anos e acompanha shows e ensaios de Lenine por todo o país. Foto: Karina Morais/DP

“O primeiro da primeira caixa. Tinha que ser o seu”, diz a dedicatória assinada por Lenine no encarte de Carbono (2015), seu último disco de inéditas. É uma das preciosidades ofertadas pelo músico ao seu principal seguidor - termo que Lenine prefere, em vez de fã -, o conterrâneo e analista de sistemas Alexandre Pontes.

Compactos amadores do início da carreira do músico, o raro LP Baque solto (1983), versões estrangeiras dos principais álbuns, edições limitadas, comemorativas, muitas ainda lacradas, abarrotam as estantes do apartamento de Pontes. Apelidado de Oráculo pelo artista, é a ele que Lenine recorre ao buscar informações sobre a própria carreira.

Pontes acompanha apresentações e ensaios há quase 15 anos por todo o país, feito um pedaço de casa que lhe seguisse durante as turnês. Não fará diferente nesta quinta (03), quando Lenine lança no Recife o álbum The Bridge - Lenine e Martin Fondse Orchestra Live at Bimhuis (Coqueiro Verde, R$ 24,90), às 19h, na Passadisco. Nem nesta sexta (04), quando apresenta Carbono no Teatro Guararapes, em Olinda.

LPs, CDs, cartazes e credenciais estão entre os objetos colecionados por Alexandre. Foto: Karina Morais/DP
LPs, CDs, cartazes e credenciais estão entre os objetos colecionados por Alexandre. Foto: Karina Morais/DP
Pela casa dele, se acumulam cartazes, camisetas, quadros, revistas, jornais, scripts de programas de televisão, fotografias, credenciais de acesso aos bastidores de shows. As quantidades são imprecisas, mas atualizadas semanalmente: todos os dias, Pontes faz uma varredura em sites internacionais de lançamentos, garimpa versões dos principais álbuns de Lenine prensadas na Europa e na Ásia, lista artigos que ainda não possui, articula a compra e o envio de material. Aos 39 anos, alimenta o acervo desde 2004.

“O primeiro show foi em 1997. Era época pré-vestibular, fui porque todos os meus amigos iam... Em 1999, minha esposa me mostrou Paciência, trilha sonora da telenovela Vila Madalena, na TV Globo. Somente alguns anos depois, comecei a buscar informações, produções de Lenine. Comprei meu primeiro disco em 2004, Falange canibal (2002), que é meu preferido até hoje”, lembra Alexandre Pontes, que conheceu Lenine pessoalmente em 2006, numa sessão de autógrafos. Hoje, vê no ídolo um amigo de longa data.

As dedicatórias provam: “Só você mesmo, Alexandre...”, diz uma delas. E as portas abertas também: no ano passado, quando Lenine subiu ao palco do Festival de Inverno de Garanhuns dois dias depois de perder o pai, Seu Geraldo, o filho de Alexandre Pontes, Bernardo, então com 2 anos, foi um dos únicos autorizados a entrar em seu camarim. Conversaram por algum tempo, Lenine e Bernardo, que agora quer ser músico, conhece todo o repertório de Carbono e está deixando o cabelo crescer.

O show de amanhã será o primeiro da filha mais nova, Malu, de 6 meses. “Eu estava grávida dela no show do último carnaval. Não perdemos nenhum, fazemos questão levar os meninos conosco. Fizemos amizade com Lenine, os instrumentistas, a equipe de produção. Bernardo conversa com eles sobre afinação, pede para testar os pedais... É tudo muito espontâneo, estamos entre amigos”, conta a administradora de empresas Katiuza Pontes, esposa de Alexandre. A rotina de “Oráculo”, ela revela, requer dedicação: os shows são filmados, editados e publicados no YouTube, a título de documentação. Pontes mantinha, ainda, página virtual dedicada às obras de Lenine - retirada temporariamente do ar para ajustes - e deve colaborar com o site oficial do músico em breve.

TRÊS PERGUNTAS: Lenine, músico

Lenine prefere o termo seguidor a fã e desenvolveu vínculo afetivo com a família de Alexandre Pontes. Foto: Flora Pimentel/Divulgação
Lenine prefere o termo seguidor a fã e desenvolveu vínculo afetivo com a família de Alexandre Pontes. Foto: Flora Pimentel/Divulgação
Como conheceu Alexandre? Como teve início a amizade entre vocês?

Passei a reconhecê-lo nos shows, ele me acompanhava pelo Nordeste inteiro. Onde eu tocava, ele sempre aparecia. E sempre foi de uma educação, uma delicadeza... A palavra fã não se adequa a Alexandre. Não define ele. Alexandre é muito mais que isso. É meu amigo, meu oráculo. Brinco dizendo que ele é meu HD externo, porque ele sabe mais sobre mim do que eu mesmo. Prefiro dizer que não tenho fãs, mas seguidores. E Alexandre é um seguidor profissional. Ele foi pouco a pouco me mostrando isso, o conhecimento que ele tinha, o material que ele acumulava. Nos tornamos amigos queridos. A esposa dele, Katiuza, é uma flor de pessoa. Os filhos dele são nossos mascotes. E tem mais: Alexandre tem espiões pelo mundo inteiro, pessoas que descobrem e adquirem raridades da minha trajetória, discos lançados em todo canto.

O que Alexandre somou à carreira de Lenine?
Muito. Eu acho que faz parte do meu trabalho desmistificar essa coisa de artista, essa distância entre artista e fã. Eu não sou uma celebridade, eu presto um serviço. Foi graças a Alexandre que eu desenvolvi o projeto .Doc. Foi depois de bater um papo com ele sobre gravações minhas com outras pessoas, na voz de outros artistas. Ele me disse que eu tinha mais de 60 gravações com outros músicos. Eu não sabia, falei que a conta estava errada. Mas não estava, ele me enviou a lista. Vi que aquele material ia além das fronteiras da música. Tinha relação com o cinema, o teatro, o palco em geral. E grande parte daquele material jamais havia sido lançado em disco. Então fiz uma compilação, gravei as músicas. E devo retomar esse projeto outras vezes, ainda há muito material por gravar. Alexandre me municia com coisas que eu já fiz e não lembrava. E ele tem um refinamento, ele tem sede de som, cumpre um ritual ao consumir música. É um cara sofisticado. Além disso, ele é um polarizador. Atrai pessoas que também gostam do meu trabalho, parceiros musicais. Em termos de bagagem sobre minha carreira, ninguém se compara a Alexandre Pontes. Nem eu.

E com os seguidores, de modo geral, como é sua relação?
Eles dão sentido a tudo que eu faço. Estão sempre presentes nos shows, em tudo. E todos se conhecem, eles são uma grande rede. No meio desse universo de nuvem que é a internet, no qual as pessoas deixam de ser elas mesmas e assumem avatares, sendo o que não têm coragem de ser na vida real, é muito bom ter um núcleo de seguidores que me conhece de verdade. Eles sabem quem eu sou, não tem confusão. Entendem o que eu digo, o que é raro nesse universo em que estamos expostos e somos tão julgados. Também sempre fui muito coerente com as coisas que eu faço, da maneira que eu faço. Essa coerência, essa autenticidade também geram identificação com esses seguidores.

SERVIÇO
Lançamento The Bridge - Lenine e Martin Fondse Orchestra Live at Bimhuis, com sessão de autógrafos

Quando: Quinta-feira (03), às 19h
Onde: Loja Passadisco (Estr. do Encanamento, 480 - Parnamirim)
Quanto: Entrada gratuita
Informações: 3268-0888

SERVIÇO
Show da turnê Carbono

Quando: Sexta-feira (04), às 21h30
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções. Avenida Professor Andrade Bezerra, S/N - Olinda)
Quanto: R$ 110 (balcão inteira) e R$ 55 (balcão meia); R$ 140 (plateia inteira) e R$ 70 (plateia meia); R$ 160 (plateia especial inteira) e R$ 80 (plateia especial meia)
Informações: 3182-8020

>> SAIBA MAIS: The Bridge


“Esse projeto nasce com a função de tornar físico algo que já existe, que já existiu. Esse não é o início de uma turnê. Isso o difere em muitos aspectos, em todos os processos que normalmente envolvem a gravação de um CD ou DVD. A orquestra já existe há muito tempo, tem uma autoralidade por causa do Martin Fondse. E esse ambiente sonoro que o Martin tem à disposição dele é muito bacana. Tem um relevo sonoro que é muito característico dele. Então, toda a equação que foi descobrir repertório, tudo era em função dessa assinatura sonora que a Martin Fondse Orchestra tem. Eu só entrei ali com as canções. E disposto a me jogar naquele conceito musical. E foi isso que aconteceu." (Lenine)

>> PRECIOSIDADES

Alexandre, o "oráculo" de Lenine, ganhou o primeiro exemplar de Carbono. Foto: Karina Morais/DP
Alexandre, o "oráculo" de Lenine, ganhou o primeiro exemplar de Carbono. Foto: Karina Morais/DP
Carbono

Alexandre possui o primeiro exemplar do álbum Carbono, que chegou às mãos de Lenine durante o ensaio para uma transmissão ao vivo de seu show, no Rio de Janeiro. Pontes estava lá e acompanhou quando o ídolo desempacotou os CDs. Ao abrir as caixas, Lenine autografou o primeiro dos discos e ofereceu ao seguidor.

Baque solto
Entre os LPs, o raro Baque solto, lançado em 1983. É o álbum de estreia de Lenine, lançado em parceria com o também pernambucano Lula Queiroga. Ao longo dos anos, Alexandre foi acumulando autógrafos dos músicos que participaram do disco, até obter a assinatura de todos na capa do vinil.

Estrangeiros
Entre discos e cartazes, Alexandre tem edições encartadas fora do Brasil, em outros idiomas. Em maior volume, artigos vindos do Japão, ponto que o pernambucano identificou como próspero para o trabalho de Lenine. Os sites japoneses de lançamentos são alguns dos principais monitorados por Pontes.

Limitadas

O seguidor fez questão de adquirir itens colecionáveis, como edições de discos que não chegaram a ser comercializadas, itens comemorativos e encartes temáticos. Diferentes versões de Olho de peixe estão entre as suas preferidas. O setlist de alguns álbuns sofre pequenas alterações entre uma edição e outra.

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