Cinema Suposto arrastão não atrapalha sessão histórica do filme Hair no festival Janela Público que estava na fila tomou susto com a passagem de mais 100 pessoas pela Rua da Aurora no momento em que ocorreram pelo menos uma briga e um assalto

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 31/10/2016 00:00 Atualizado em: 31/10/2016 00:27

Fila dobrava as esquinas, mas ingressos não esgotaram. Fotos: Victor Jucá/ Divulgação
Fila dobrava as esquinas, mas ingressos não esgotaram. Fotos: Victor Jucá/ Divulgação
 
"Arrastão" foi a palavra mais usada pelas pessoas que estavam em frente ao Cinema São Luiz para descrever o que ocorreu minutos antes da sessão do clássico Hair no festival Janela. Logo em seguida, o filme foi exibido em sala cheia, sem perder o brilho.

Por volta das 21h30, quando a fila para Hair dava uma volta no quarteirão, um grupo de mais de 150 pessoas que vinham do Recife Antigo atravessou a Ponte Duarte Coelho e passou pela Rua da Aurora. O pânico começou por causa de uma briga na esquina, de barulhos de explosões (do cano de escape de uma moto, segundo testemunhas) e do roubo do celular de uma pessoa que havia acabado de sair cinema. Após o ocorrido, os seguranças do São Luiz receberam apenas um relato de assalto, mas outros registros nos arredores foram divulgados por vítimas nas redes sociais.

A sessão transcorreu normalmente. O cinema não ficou lotado e os ingressos não esgotaram. A fila era formada por pessoas que chegaram cedo para conseguir sentar em um bom lugar. Após o início da projeção, só havia assentos vazios no primeiro andar do São Luiz.

Em 1980, o musical Hair, de Milos Forman, tornou-se um fenômeno de público no Recife ao passar seis semanas em cartaz no extinto Cinema Veneza. "Foi meu recorde. Eu cheguei a assistir ao filme 16 vezes no Veneza. Foi o filme que eu mais vi na minha vida", relembra Geraldo Pinho, que hoje é diretor e programador do São Luiz. "Era um sucesso de público e também um filme subversivo, que subvertia certos valores que tentavam nos impor. O movimento hippie, que está em Hair, defendia a liberdade, o sonho, a paz e o amor", recorda.

"O Brasil estava saindo da ditadura e o filme é muito libertário", destacou o cineasta Kleber Mendonça Filho, coordenador do Janela (e diretor do longa-metragem Aquarius), ao subir ao palco para apresentar Hair. "Acho que Hair fez sucesso aqui no Recife também porque o Recife tem muitos maconheiros", brincou com a plateia.

Durante a projeção, esperava-se que o público cantasse, dançasse ou fizesse algum tipo de performance, mas todos assistiram ao filme em silêncio, sem manifestações. Antes do início, entretanto, foi exibida uma vinheta do festival que recebeu intensos aplausos e gritos quando uma mulher (interpretada pela bailarina Marta Guimarães) começa a dançar, dentro do Cinema São Luiz, ao som da música Aquarius, canção-tema de Hair.

Foi exibida uma vinheta, filmada no São Luiz, ao som da canção Aquarius
Foi exibida uma vinheta, filmada no São Luiz, ao som da canção Aquarius

A plateia também demonstrou bastante entusiasmo no começo da sessão anterior, nos créditos iniciais do longa-metragem mineiro A cidade onde envelheço, quando surgiu na tela a frase "Cinema contra o golpe". O filme retrata o cotidiano de duas amigas portuguesas em Belo Horizonte e também foi aplaudido pelo público que lotou o térreo do São Luiz.

No próximo domingo, às 14h, Hair será reprisado no Cinema do Museu, em Casa Forte. A cidade onde envelheço ganha reprise nesta segunda-feira, também no Museu do Homem do Nordeste, às 17h.


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