Luto Morre aos 80 anos Dib Lutfi, diretor de fotografia que criou a estética do Cinema Novo Seu primeiro contato com o cinema aconteceu graças a um seminário promovido pelo Itamaraty, em 1962

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 27/10/2016 15:10 Atualizado em: 27/10/2016 16:49

Para o crítico Luiz Zanin Oricchio, Lutfi captou como ninguém a necessidade do momento histórico vivido pelo cinema brasileiro a partir década de 1960. Foto: Reprodução/Facebook
Para o crítico Luiz Zanin Oricchio, Lutfi captou como ninguém a necessidade do momento histórico vivido pelo cinema brasileiro a partir década de 1960. Foto: Reprodução/Facebook


O diretor de fotografia Dib Lutfi, ícone em produções do cinema brasileiro nas últimas décadas, morreu na noite desta quarta-feira (26), no Rio de Janeiro. Ele tinha 80 anos e estava internado há cinco dias no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, tratando de uma pneunomia, à qual não resistiu. Lutfi morava no Retiro dos Artistas desde 2011. 

Nascido em Marília, no interior de São Paulo, em 1936, Dib Mudou-se para o Rio de Janeiro no fim da adolescência. Em 1957, começou a trabalhar como câmera na TV Rio. Seu primeiro contato com o cinema ocorreu graças a um seminário promovido pelo Itamaraty, em 1962, com o sueco Arne Sucksdorff, com quem Dib trabalharia em seguida como assistente de câmera no longa-metragem Fábula: Minha casa em Copacabana (1964).

Foi com o irmão Sérgio Ricardo que ele estreou de fato como cinematografista - Sérgio chamou-o para fazer a câmera do curta O menino da calça branca. Conservou-o na função em Esse mundo é meu, de 1963. Os diretores do Cinema Novo viram o talento do câmera e começaram a convocá-lo para seus filmes. Com isso, ele se tornou um dos principais artistas a dar um contorno ao movimento.

"Ainda está para ser estabelecida a contribuição de Dib Lutfi para a estética do Cinema Novo", escreveu no Caderno 2, em 1997, o crítico Luiz Zanin Oricchio. "Em sua origem, era caudatário de um movimento mais amplo, que vinha da nouvelle vague francesa. As câmeras começaram a ser tiradas do tripé e levadas na mão. O cinema precisava, tecnicamente, reproduzir a instabilidade de um mundo em ebulição e transformação rápida."

Ainda segundo o crítico, Lutfi captou como ninguém essa necessidade do momento histórico e a reciclou com técnica única e pessoal. "Teve a capacidade de administrar essa instabilidade com infinita elegância. Era dotado para inventar os mais inusitados movimentos com a câmera sem que parecesse estar realizando uma proeza física". Não tremia, como constata Paulo Cesar Saraceni. Mas esse não tremer era apenas parte do segredo. "O importante é que Lutfi consegue associar a proeza técnica à uma leveza extraordinária. É só conferir alguns planos de Lira do Delírio, por exemplo. A câmera parece suspensa no ar, mas estranhamente em movimento. Como se o segredo da imponderabilidade tivesse sido descoberto. Ou como se a máquina ficasse lá, pairando, suspensa no nada, amparada apenas pela mão de Deus."

Trabalhou com diretores como Nelson Pereira dos Santos (em Fome de amor, de 1968, e Azyllo muito louco, de 1969,), Arnaldo Jabor (Opinião pública, de 1967, O casamento, de 1975, e Tudo bem, de 1978) e Ruy Guerra (Os deuses e os mortos, 1970). A sua habilidade com a câmera na mão chamou a atenção de Glauber Rocha, que o convidou para Terra em transe (1967).

Trabalhou ainda nos filmes ABC do amor (1966), de Eduardo Coutinho, Edu, coração de ouro (1967), Feminices (2004) e Carreiras (2005), de Domingos Oliveira, Os herdeiros (1970), Quando o carnaval chegar (1972) e Joana francesa (1973), de Carlos Diegues, Como era gostoso o meu francês (1970), de Nelson Pereira dos Santos, A lira do delírio (1973), de Walter Lima Jr, Pra frente, Brasil (1981), de Roberto Farias, Harmada, de Maurice Capovilla, Vida e obra de Ramiro Miguez (2002), de Alvarina Souza Silva, e 500 Almas (2004), de Joel Pizzini.



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