HQs Criador de HQs clássicas, Alan Moore vai se aposentar; conheça sua obra Autor de clássicos como Watchmen e V de vingança, ele revolucionou o modo como as HQs eram escritas

Por: Alexandre de Paula

Publicado em: 03/10/2016 20:24 Atualizado em: 03/10/2016 18:16

Alan Moore anunciou que vai se aposentar: "Gostava de quadrinhos quando as pessoas os odiavam". Foto: Phil Fisk/Divulgação
Alan Moore anunciou que vai se aposentar: "Gostava de quadrinhos quando as pessoas os odiavam". Foto: Phil Fisk/Divulgação


A cara de mal, a barba e os longos cabelos brancos dão a Alan Moore uma aura mística. Polêmico e sem medo de incomodar, Moore ficou conhecido como o mago dos quadrinhos. A mágica feita por ele? Elevar a maneira como eram escritas as HQs para um patamar diferente. Criador de clássicos como Watchmen e V de vingança, Moore anunciou, recentemente, que deixará de escrever e só as obras já concluídas serão publicadas. "Todos gostam de quadrinhos agora. Eles são uma coisa bonita de se ter na mesa dos cafés. Mas eu realmente gostava deles quando as pessoas os odiavam. Acho que era uma mídia genial que era deixada para lá e que eu poderia fazer coisas fantásticas", justificou, em entrevista, a aposentadoria.

Inglês, nascido em 1953, Moore já criava confusões desde cedo. Aos 16 anos, foi expulso da escola por vender LSD no pátio do colégio. Depois disso, a breve carreira de vendedor de drogas foi abandonada para dar espaço aos quadrinhos. Ele desenhou para jornais e revistas e, nos anos 1980, começou a escrever roteiros das histórias que o transformariam num dos maiores autores de  HQS de todos os tempos.

Foi com o lançamento de Watchmen, em 1986, que a carreira do autor realmente virou. O livro, entre outros reconhecimentos, foi eleito como um dos 100 melhores de todos os tempos pela revista Time. Moore já havia começado a publicar a série V de vingança em 1982 e confirmou com Watchmen o status de um dos melhores escritores do universo dos quadrinhos.

"Alan Moore é o primeiro 'escritor de quadrinhos'. Antes dele, os roteiros eram mal escritos. Ele passou a escrever histórias em quadrinhos literárias. E foi seguido por vários outros. Pode-se dizer que ele recriou a profissão de roteirista", explica o especialista em quadrinhos e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Marcelo Bolshaw.

Watchmen, lançado em 1986, foi o ponto definitivo para Alan Moore ser reconhecido como grande autor. Foto: Warner Bros./Divulgação
Watchmen, lançado em 1986, foi o ponto definitivo para Alan Moore ser reconhecido como grande autor. Foto: Warner Bros./Divulgação


As mudanças provocadas por Alan Moore, explica o professor, foram várias, tanto em relação à linguagem quanto na maneira como os personagens eram abordados. "Há várias mudanças específicas em relação à linguagem. o protagonismo coletivo, o protagonismo feminino, a forma de utilizar a ficção para dizer verdades sociológicas e históricas", aponta.

Além de os próprios personagens, Moore também trabalhou com heróis da DC e mesmo da Marvel. A piada mortal, uma das HQs mais cultuadas do Batman, por exemplo, foi escrita por ele. Bolshaw destaca que ele levou os personagens para outro patamar. "Particularmente, acredito que ele levou o desencantamento dos super-heróis até seu ponto mais extremo e depois passou a investir no re-encantamento deste universo de uma forma mais satírica", comenta.

Com sua obra, Moore foi capaz de criar vários universos, além de reinventar o mundo feito por outros autores, no caso do super-heróis. "Há vários, um universo por trabalho. Além de trabalhar dentro do universo narrativo dos outros, como no caso da DC Comics, roteirizando Batman, Arqueiro Verde, entre outros".

A série 'V de vingança', que criou a icônica máscara de Guy Fawkes, foi um dos trabalhos de Alan Moore que se destacaram. Foto: Alan Moore/Divulgação
A série 'V de vingança', que criou a icônica máscara de Guy Fawkes, foi um dos trabalhos de Alan Moore que se destacaram. Foto: Alan Moore/Divulgação


Sem desenhar, Moore conseguiu, com a escrita inventiva e potente, a proeza de fazer com que ilustradores fossem só um detalhe. "Os desenhistas passaram a ser autores secundários em virtude de Alan Moore. Gosto especialmente da esposa de Moore, Melinda. Mas todos são muito bons", expõe Bolshaw.

Para o professor, Moore foi um dos responsáveis por dar aos quadrinhos o status de arte. "O quadrinho se tornou a nona arte com trabalhos como os dele. É mais e menos que literatura. É outra forma de expressão com uma linguagem própria, cheia de possibilidades específicas".

Cheio de truques e polêmicas, há quem duvide que ele vá, de fato, se aposentar. Bolshaw faz parte do time que não acredita na aposentadoria do escritor. "Soube que ele anda fazendo apresentações em pubs, contando histórias, junto com dois músicos. Mas, só para convidados. Não acredito que ele vá se aposentar. Ele deve estar tirando onda".

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