Show No Recife, Tom Zé fala em erotismo e novo disco Ingressos para shows do cantor começam a ser vendidos nesta terça-feira (27)

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/09/2016 08:45 Atualizado em: 27/09/2016 09:02

Tom Zé se apresenta durante quatro dias com o show Tom Zé 80 anos. Foto: André Conti/Divulgação.
Tom Zé se apresenta durante quatro dias com o show Tom Zé 80 anos. Foto: André Conti/Divulgação.


Foram necessárias décadas até Tom Zé, artista inventivo e singular, pinçar em suas memórias da infância em Irará, na Bahia, as primeiras referências ao sexo. E transformá-las, sem pudor, em música. A coragem, quase tão potente quanto o erotismo, será celebrada no dia 11 de outubro: é no aniversário de 80 anos que Tom Zé oferta ao mercado o novo Canções eróticas de ninar: Urgência didática. Antes disso, armado da própria inquietude, ele resgata a discografia e celebra as oito décadas no palco da Caixa Cultural do Recife, no Bairro do Recife, onde se apresenta de amanhã até o sábado, às 20h, com a turnê Tom Zé - 80 anos.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se


Reformulou, para a temporada, canções de seu repertório, sobretudo do álbum Vira lata na Via Láctea (2014), e as interpreta como novas, enfeitadas por outros arranjos, com aura comemorativa e - mais - humor. O percurso musical que permeia Tom Zé: 80 anos se estende dos álbuns mais recentes à infância na Bahia, quando a música era prêmio transmitido oralmente, geração à geração. "Irará está em mim, nesta pessoa que faz as letras. Nas conversas com as pessoas mais próximas, a família, a banda. Minhas referências são iraraenses. Os pontos de vista das pessoas de minha cidade são meu romance de formação, meu Bildungsroman. E os cantos das lavadeiras da Fonte da Nação, que nem sei se ainda existe, estão em tantas músicas que faço", analisa o cantor.


Irará está também em Canções eróticas de ninar: Urgência didática, que ele define - logo no encarte - como fruto dos assuntos do sexo como eram tratados (ou não) em sua infância e juventude. O álbum ainda está nascendo, mas já repercute. Traz à tona inibições, encantamentos, vetos e excitações em torno do sexo. Exibe o símbolo do feminino na capa, não sem razão. "Espero que contribua para que se pense no poder da mulher, na autonomia feminina. Uma das esperanças que tenho para o destino desse punhado de canções é essa", explica Tom, que faz os primeiros shows de lançamento no início de outubro, em São Paulo. Dedo, No tempo em que havia moça feia e Orgasmo terceirizado são algumas das faixas.


Esse novo começo deposita sobre as apresentações no Recife a aura de encerramento: o músico finaliza na capital pernambucana a temporada de celebração às oito décadas, a Vira lata na Via Láctea, com a qual ainda não havia subido aos palcos locais. "Para o Recife, não é possível fazer nada menos que um trabalho bem cuidado. Estava triste porque não havia levado [o show] a Pernambuco ainda, e terei o prazer de fechar a turnê no estado", conta o baiano, um dos protagonistas do movimento tropicalista.


No cenário atual da música brasileira, Tom Zé desconhece a chamada Geração Tombamento (que se apropria da estética de matriz africana e das letras de cunho político e social), descendente daquela que ajudou a conceber. "Peça a esses meninos que me mandem sua produção. Pode ser por e-mail", propõe ele.


Tom Zé não espera da atualidade - ou de qualquer tempo, reforça - movimentos musicais semelhantes ao tropicalismo. Ele dispensa, inclusive, comparações. Mas vê na música a chance de evolução - "ou revolução, volição...", acrescenta - social. Os ingressos para Tom Zé: 80 anos começam a ser vendidos hoje, às 10h, na bilheteria da Caixa Cultural do Recife, no Bairro do Recife.

Entrevista Tom Zé // músico

"Sou um trabalhador persistente. Não sou gênio"

Você é considerado um dos músicos mais criativos/inventivos da música brasileira. Quando pensa em si mesmo, é assim que se vê? Como seria sua autodefinição?

Eu sou um trabalhador persistente. Sempre digo que não sou gênio, sou japonês; sem desdouro para com os bravos nipônicos, refiro-me à persistência oriental que determina seu agir.

Como o novo álbum contribui para desmistificar a liberdade sexual, o sexo de modo geral?


O sexo compartilha terrenos aparentemente inconciliáveis: por exemplo, o sagrado e o profano (salve, Mircea Eliade!), a origem da vida (no encarte do disco digo "olá!" a Courbet) e a identificação com o apagar, a extinção (a "pequena morte" dos franceses)... São elementos tão fortes nele que as tentativas de banalizá-lo não prosperam definitivamente. Antes assim: degradação e luz são preferíveis à banalização.

O que é o "erótico" para você? Como o erótico lhe inspira?

Há Eros em todos os fenômenos naturais, nos quatro elementos, na fantástica Floresta Amazônica, no caminhar balançado das e dos adolescentes, na saudade do olhar dos velhos, nas galáxias dançando.

A música de sua infância, a fase que você chama de pré-Gutenberguiana, transmitida via oral, lhe deixou ensinamentos? O que essa forma de propagação da música tem de mais valioso?

As vozes das gentes me trazem: os cantos do povo de minha terra, as histórias que eu ouvia e que lembro para sempre. Na contracapa de meu livro Tropicalista lenta luta há uma frase que o extraordinário editor que é Arthur Nestrovski colocou: "Não era música, era vida". É isso.

Qual será a próxima revolução musical? Pensa que haverá outro movimento como o tropicalismo vindo à tona nos próximos anos?

Evolução, revolução, volição... Espero que a vontade de fazer inspire essas viagens humanas. Não é preciso que seja um movimento comparável a este ou aquele: basta que seja.

Como é a sua relação com Pernambuco? Guarda alguma memória especial do estado?

Em um Abril pro Rock, há anos, o público me descobriu e eu o descobri. Não era mais palco-plateia, foi um bate-peito fantástico, um choque de mútua descoberta. Aquele encontro, aquele show, desencadeou sentimentos muito fortes, em mim e em vocês.

Serviço
Tom Zé: 80 anos

Quando: de amanhã a sábado, às 20h
Onde: Caixa Cultural do Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Informações: 3425-1915



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