Filme Inquietações sobre o corpo feminino guiam documentário exibido nesta segunda no Cinema do Museu Dirigido por Caroline Oliveira, Invólucro aborda questões íntimas ao retratar o cotidiano de três mulheres

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/09/2016 09:40 Atualizado em: 26/09/2016 08:46

Uma das personagens do longa-metragem é transexual. Foto: Roda Filmes/ Divulgação
Uma das personagens do longa-metragem é transexual. Foto: Roda Filmes/ Divulgação
 
Logo depois da primeira gravidez, após o nascimento de um filho, Caroline Oliveira passou a estranhar o próprio corpo, como se não se reconhecesse. Em uma das primeiras cenas do documentário Invólucro, ela aperta e estica a pele da barriga com as mãos enquanto diz que se sente fisicamente diferente. A partir da inquietação inicial, ao longo do filme, a cineasta visita três mulheres para tentar entender o que as torna "bem resolvidas" (expressão mencionada em uma das cenas). Vencedor do prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) no festival Aruanda, em João Pessoa, o longa-metragem, que é uma produção pernambucana, será exibido no Recife pela primeira vez nesta segunda-feira, às 20h, no Cinema do Museu.

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"Há um discurso político por trás, apesar do meu dispositivo ser o afeto e a admiração por aquelas mulheres", acredita a diretora, que conseguiu deixar as personagens bastante à vontade enquanto eram filmadas, inclusive nas importantes cenas de nudez. Para Carol, "o filme tem uma certa humildade pra se colocar nesse contexto feminista onde tudo precisa ser gritado".

Uma das mulheres retratadas é uma transexual que busca a felicidade ao transformar o corpo por meio de plásticas. As outras duas são mulheres com mais de 50 anos de idade que decidiram não ser mães e nunca tiveram filhos. Uma delas revela que gosta de ficar sempre nua quando está sozinha em casa e aceita ser filmada em um desses momentos. A outra é surfista e confessa que só gosta de ter relações com homens bem mais jovens, com 35 anos no máximo.

"A maternidade também é um estigma pras mulheres, como se para sermos grandes mulheres e seres completos, tenhamos que exercê-la", questiona Caroline ao justificar a escolha das personagens. "Queria mostrar que existe a escolha", assume a cineasta, que estreia na direção com Invólucro, mas já trabalhava no meio cinematográfico como figurinista (um ofício também diretamente relacionado ao corpo).

Ao retratar o cotidiano das três mulheres, o documentário toca em temas como beleza, padrões de comportamento, alteridade, valores morais, envelhecimento, maturidade, preconceitos e espiritualidade, entre outros assuntos inesgotáveis. A diretora conduz tudo de forma bem íntima e assume admiração pelas personagens.

Invólucro não é um autorretrato, mas começa em primeira pessoa e é conduzido como uma investigação pessoal. Aos poucos, o desconforto das cobranças é substituído pelo prazer de viver. Transformar essa busca em filme é uma forma de compartilhar a experiência e tornar coletivas as descobertas.

SERVIÇO
Exibição do filme Invólucro, de Caroline Oliveira
Quando: Nesta segunda, às 20h
Onde: Cinema do Museu (Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte)
Quanto: Entrada grátis

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