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Show Humberto Gessinger faz nesta sexta 24º show no Recife. Relembre todas as apresentações Líder dos Engenheiros do Hawaii apresenta a turnê "Louco pra ficar legal" no Baile Perfumado

Por: Fred Figueiroa

Publicado em: 09/09/2016 13:01 Atualizado em: 09/09/2016 16:30

Relembre todos os shows do artista em Pernambuco. Foto: Twitter/Reprodução.
Relembre todos os shows do artista em Pernambuco. Foto: Twitter/Reprodução.

Na noite de 14 de outubro de 1988, Humberto Gessinger - então com 24 anos - fazia o seu primeiro show no Recife. O salão principal do Clube Português foi o palco da apresentação que encerrava a turnê nacional do segundo disco dos Engenheiros do Hawaii, A revolta dos dândis. Álbum que, três décadas depois, faz parte de nove entre dez listas de clássicos indispensáveis da história do rock brasileiro. Certamente, alguns daquelas centenas de garotos e garotas que estavam no Clube Português há 28 anos estarão nesta sexta-feira à noite, no Baile Perfumado. Talvez levem seus filhos. Mas serão minoria. A maior parte do público sequer havia nascido em 1988. A música, o tempo, as pessoas e a cidade se cruzarão nas próximas linhas. Ou entrelinhas do horizonte, se preferir.
 
 
Entre aquela distante noite de outubro de 1988 e a de amanhã - anunciada em outdoors espalhados pela cidade -, Humberto Gessinger fez outros 22 shows na Região Metropolitana do Recife. Passou por quase todos os palcos. Dos mais tradicionais aos improvisados para uma única noite. Dos que foram engolidos pelo tempo - e por outros mercados - aos que resistem. A lista passa por casas de show, clubes, ginásio, boates, centro de convenções, teatros, estacionamento, armazém, praia e parque aquático.
 
Um recorte interessante das transformações do segmento de shows no Recife nos últimos 30 anos (passando por mudanças do mercado, da arquitetura e do comportamento de consumo do público). Uma visão possível a partir de uma das trajetórias mais lineares da música popular brasileira. As oscilações de popularidade de Gessinger nunca foram extremas. Do auge dos Engenheiros (no início dos anos 1990) ao formato reduzido do duo Pouca Vogal entre 2008 e 2012, Gessinger nunca foi um fenômeno popular para arrastar multidões, nem segmentado o suficiente para tocar em bares ou pubs. Nem Arruda, nem Downtown, digamos assim.
 
"É possível conhecer uma cidade a partir de seus palcos. Eu tenho um Recife na minha mente e talvez ele só exista ali. Mas o guardo com muito carinho", garante Gessinger, que revela uma lembrança guardada da cidade. "Frequentemente me lembro de uma livraria que existia no antigo aeroporto, nos anos 1980. Era a melhor livraria de aeroporto do Brasil... Muitos livros comprei ali. Para mim, era um símbolo da riqueza cultural da cidade, da força de sua arte popular". E, de fato, parte dos lugares em que Humberto tocou hoje só resiste na memória. O Geraldão é um deles. Ginásio que assistiu à banda em seu auge de popularidade nas turnês dos discos Alívio imediato e O papa é pop em 1990 e 1991. Hoje é um imenso e melancólico esqueleto de cimento e aço. Sem receber um grande evento desde 2002, espera por uma reforma com início, meio e fim.
 
Em janeiro de 1992, os Engenheiros do Hawaii fizeram um show dentro de um festival em uma área ao lado do Shopping Recife. A cada sábado, uma banda nacional se apresentava. No dia 11, Gessinger, Licks e Maltz lotaram o espaço com capacidade para quase 20 mil pessoas. O festival aconteceu no terreno onde foram erguidos os edifícios do Evolution.
 
Além da construção civil, outros segmentos foram "engolindo" os palcos da cidade. As boates Fun House (depois Usina do Som) e Fashion Club se tornaram, respectivamente, uma casa de festas infantis e uma academia de ginástica. Paredes que viram as turnês do Tchau radar (2000), 10.000 destinos (2000 e 2001) e do Surfando karmas e DNA (2002). Mudanças de mercado. O fim dos anos 1990 e início dos anos 2000 marcaram justamente o auge das grandes boates no Recife, com espaço para receber shows de bandas nacionais e internacionais. A Fun House foi o grande símbolo da época. Praticamente toda a geração do pop/rock brasileiro dos anos 1990 (Charlie Brown Jr, O Rappa, Skank…) passou por ali.

Rota de fuga para nova fase

Mais resistentes às transformações urbanísticas e mudanças do mercado, os teatros de Pernambuco acabaram voltando a ser uma alternativa viável para abrigar os shows do rock brasileiro na última década. Não por acaso, das últimas seis apresentações de Gessinger por aqui, quatro foram nos teatros da UFPE ou Guararapes. Durante a fase do Pouca Vogal - um duo acústico ao lado de Duca Leindeker (Cidadão Quem) -, os shows cabiam bem nesses ambientes.
 
Mas a partir da atual fase solo, iniciada com o lançamento do disco Insular e a volta da formação do trio clássico (baixo, guitarra e bateria), as poltronas já não se encaixavam com o repertório e mais uma fase de renovação do público de Humberto. Bastavam os primeiros acordes, para uma aglomeração se formar em frente ao palco.
 
Por isso nada de poltronas amanhã à noite. Em seu 24º show na Região Metropolitana do Recife, Gessinger - aos 52 anos - ganhará mais um palco para guardar em sua memória. Pela primeira vez tocará no Baile Perfumado diante de um público que também passou por transformações nesses 30 anos. Resta ao velho engenheiro a missão de fazer sua música dialogar com adolescentes de 15 anos e "veteranos" de 50.
 
"Acho melhor assim. Sempre me parece prepotente quando vejo artistas resumindo seus fãs como se todos fossem iguais. Assim como acho prepotente por parte de alguns fãs tentar congelar seus ídolos. É muito mais rica a fruição artística livre de barreiras. De tempo, de espaço, de estilo", diz Gessinger, que completa: "O maior sinal de respeito de um artista em relação ao seu público é não pensar nele quando cria, não querer bajulá-lo de maneira fácil. Claro que é maravilhoso agradar, e - se fosse possível - agradar a todos, mas isso tem que ser consequência de uma busca interior, espiritual, e tem que estar sujeita ao risco de desagradar. Senão não é arte, é ciência".

Serviço
Humberto Gessinger e Anabela
Quando: nesta sexta-feira, às 21h
Onde: Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado)
Quanto: R$ 100, R$ 70 (social, com um quilo de alimento) e R$ 50 (meia), para pista, e R$ 160, R$ 100 (social)e R$ 80 (meia), para frontstage


Relembre

Todos os shows de Gessinger no Recife e em Olinda (ano, turnê e local)

1988
Revolta dos dândis 
Clube Português

1989
Ouça o que eu digo… 
Pavilhão do Centro 
de Convenções

1989
Ouça o que eu digo…
Teatro Guararapes
 
1990
Alívio imediato
Geraldão
 
1991
O papa é pop
Geraldão
 
1992
Várias variáveis 
Área externa do Shopping Recife
 
1993
GLM 
Teatro Guararapes
 
1997
Minuano
Praia do Pina
 
2000
Tchau radar
Fun House
 
2000
10.000 destinos
Veneza Water Park
 
2001
10.000 destinos
Usina do som
 
2001
10.001 destinos
Armazém 14
 
2002
Surfando karmas
Fashion Club
 
2003 
Dançando no campo minado 
Chevrolet Hall
 
2004
Sem turnê
Área externa do Centro 
de Convenções
 
2005
Acústico MTV 
Área externa do Centro 
de Convenções
 
2006
Acústico MTV 
Catamarã
 
2010
Pouca vogal
Teatro da UFPE
 
2011
Pouca vogal
Teatro da UFPE
 
2012
Pouca vogal
Clube Internacional
 
2013
Insular
Teatro da UFPE
 
2014
Insular
Teatro Guararapes
 
2015
Insular ao vivo 
Classic Hall
 
2016
Louco pra ficar legal
Baile Perfumado


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