Cinema Doze anos depois, Bridget Jones volta ao cinema sem medo dos clichês Expoente das comédias românticas, personagem vivida por Renée Zelweger retorna aos cinemas amanhã, 15 anos após o primeiro filme da franquia

Por: Eduarda Fernandes

Publicado em: 28/09/2016 19:57 Atualizado em:

Interpretado por Patrick Dempsey (ao centro), Jack Qwant divide as atenções da protagonista com Mark Darcy (Colin Firth), um antigo amor. Foto: Universal Pictures/Reprodução
Interpretado por Patrick Dempsey (ao centro), Jack Qwant divide as atenções da protagonista com Mark Darcy (Colin Firth), um antigo amor. Foto: Universal Pictures/Reprodução


A personagem Bridget Jones, vivida por Renée Zelweger, teve êxito no gênero comédia romântica como nenhuma outra. Criada por Helen Fielding para coluna no jornal britânico The Independent, foi levada às telas pela primeira vez em 2001, com O diário de Bridget Jones, adaptação do livro homônimo. O estereótipo de heroína desengonçada que não consegue manter relacionamentos já era recorrente, mas Bridget era distinta: seus defeitos eram realmente defeitos, e não peculiaridades que fariam os pretendentes se apaixonarem. Ela parecia familiar porque era real - tinha problemas com álcool, cigarros, com a busca pelo corpo ideal, com homens e com o trabalho.
 
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Três anos depois, Bridget Jones: No limite da razão pareceu desfazer tudo o que O diáriohavia feito. A ironia com que Bridget tratava a si mesma e o paradoxo de reforçar padrões de gênero e ao mesmo tempo rir deles foram deixados de lado e a personagem que era dona da piada tornou-se a piada. Quando a Universal Studios anunciou que o projeto para um terceiro filme estava em andamento, a recepção foi cautelosa: afinal, que Bridget Jones entraria em cena? Depois de mais de uma década, ela ainda teria espaço no cinema?

A despeito da desconfiança, O bebê de Bridget Jones, que estreia amanhã (29) nos cinemas brasileiros, mostra que a protagonista consegue se adaptar como ninguém. O longa encontra um balanço entre a comédia romântica e a chamada “comédia da gravidez não planejada”. Embora mais madura, a personagem ainda precisa lidar com os mesmos problemas. Para provar que mesmo tendo atingido o peso ideal e o sucesso profissional ela não mudou tanto assim, a trama começa com uma cena familiar: sozinha no quarto, de pijama, ela canta All by myself, de Celine Dion. Existe uma sensação de familiaridade bem-vinda, mas o filme também soa moderno.

No longa, que em duas semanas já arrecadou nas bilheterias internacionais cerca de US$ 84 milhões (bem acima dos custos de produção, de US$ 35 milhões), Bridget, solteira novamente, desiste de encontrar o amor e quer apenas se divertir. Em um festival de música, conhece o matemático Jack Qwant (Patrick Dempsey, adicionado ao elenco para substituir Hugh Grant, que não quis atuar no novo filme), com quem passa uma noite. Alguns dias depois, reencontra um grande amor do passado, Mark Darcy (Colin Firth). Após ficarem juntos, descobre que está grávida e não sabe quem é o pai da criança.

Os dois homens decidem acompanhar a gravidez de Bridget até o bebê nascer e o exame de paternidade ser feito. O que se segue é uma série de situações que, apesar de não serem inovadoras, conseguem ser divertidas. Renée Zellweger volta para o papel que a consagrou na telona e lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar, em 2002. Uma novidade é a presença de Emma Thompson, que reescreveu e modernizou o roteiro. Thompson, que é a única pessoa na história do Oscar a ganhar o prêmio tanto por atuação (Retorno a Howard’s End, 1993) quanto por roteiro (Razão e sensibilidade, 1996), também faz uma ponta no longa como a sarcástica obstetra de Bridget.

Que o filme é protagonizado por uma mulher acima dos 40 anos em uma época em que a indústria cinematográfica parece querer extinguir todas elas não deve ser ignorado. A idade de Bridget é, claro, alvo de piadas (referências a ela como “mãe geriátrica” são constantes), mas o tom das observações encontra um balanço entre humor e crítica que poucas comédias românticas conseguem alcançar. O longa apresenta vários clichês comuns ao gênero, desde a ideia de dois homens brigando pela mesma mulher até mesmo o artifício da dama em apuros, deixando bem claro que o faz intencionalmente.

Apesar de ser mais coerente com as noções modernas do que constitui sucesso para a mulher no século 21, O bebê de Bridget Jones satiriza a ideia da personagem como uma figura feminista. Em determinada cena, uma marcha a favor dos direitos das mulheres atrapalha o trânsito, colocando o feminismo como, literalmente, um obstáculo a ser ultrapassado.

O filme parece reconhecer a própria bagagem de estereótipos de gênero e sugere que talvez haja algo mais para Bridget além da fantasia normativa de casamento e filhos. No final, ele renega essas sugestões, mas a mera presença delas diz muito sobre como a protagonista funciona como heroína de comédia romântica em 2016. 

Estereótipos:

Recorrentes em comédias românticas, os estereótipos colaboram com a identificação por parte do público com as personagens da trama, além de manter as produções dentro de uma zona de conforto no que diz respeito a variações no roteiro. As protagonistas (ou coadjuvantes, a depender do longa-metragem) repetem padrões de comportamento nem sempre condizentes com a realidade. Como a proposta do gênero é, com frequência, oferecer narrativas leves e descompromissadas, este não chega a ser um problema. Confira alguns personagens que se repetem com frequência nas comédias românticas.  

Jornalista
Com frequência uma personagem de caráter duvidoso, ela faz de tudo por informações exclusivas - até se envolver romanticamente. Em Descompensada, uma repórter de uma revista cujo conteúdo é questionável se apaixona por um entrevistado. Já em Como perder um homem em dez dias, uma jornalista feminista está escrevendo um artigo sobre relacionamentos e, por isso, decide infernizar a vida de qualquer homem que apareça em sua vida.  

“Patinho Feio”
Ela não se encaixa no padrão de beleza, mas passa por uma transformação e consegue o homem dos seus sonhos. É o caso da protagonista do longa-metragem O diário da princesa, interpretada por Anne Hathaway. Ela descobre que faz parte da família real de Genovia e precisa deixar de ser uma garota introvertida e mudar completamente o visual. Situação semelhante ocorre em Casamento grego

Cosmopolita
Ela tem a vida quase perfeita em uma cidade como Nova York ou Chicago, mas já tem mais de 30 anos e está em busca do homem perfeito. A descrição é adequada para as personagens principais de Sex and the city (baseado na série e no livro homônimos). No longa-metragem Ele não está tão a fim de você, baseado em livro de autoajuda de mesmo nome e protagonizado por Ben Affleck e Jennifer Aniston. 

Workaholic
Viciada em trabalho, a personagem não tem tempo para o amor, que geralmente se apresenta na forma de alguém que ela inicialmente odeia. A verdade nua e cruaacompanha a vida de uma produtora de TV controladora e romântica. Ela se apaixona por um homem machista e grosseiro. Outro exemplo é o longa A proposta, em que a editora-chefe de multinacional propõe um casamento de fachada com o seu assistente. 


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