Estreia Carolina Dieckmann interpreta mulher que sofre estupro e mantém segredo em filme em cartaz nos cinemas Suspense O Silêncio do Céu retrata tensão vivida por casal que sofre um trauma, mas prefere não tocar no assunto

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/09/2016 10:09 Atualizado em: 29/09/2016 09:08

Marido chega em casa e assiste ao esturpo da esposa, mas prefere não falar no assunto. Fotos: Vitrine Filmes/ Divulgação
Marido chega em casa e assiste ao esturpo da esposa, mas prefere não falar no assunto. Fotos: Vitrine Filmes/ Divulgação
 
Ao chegar em casa, um homem vê a esposa ser estuprada por dois estranhos, que não percebem a presença do marido. Por medo, ele resolve não agir e ir embora sem ser visto. Ao retornar, a encontra no chuveiro, mas não fala com ela sobre o que viu. Os dias passam e o casal nunca toca no assunto, só que a normalidade da vida já foi abalada.

A sinopse do filme O silêncio do céu já é uma premissa suficientemente intrigante para um bom suspense psicológico. A maneira como os desdobramentos são conduzidos de forma imprevisível, em uma escala crescente de revelações, faz o espectador repensar os próprios pré-julgamentos a cada nova surpresa apresentada. É um filme que foge de caminhos fáceis, tanto no estilo quanto na história, e prende a atenção de forma tensa do início ao fim, como se uma tragédia ainda maior estivesse prestes a acontecer.

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Exibido pela primeira vez em agosto no Festival de Gramado, o filme foi lançado em um momento em que o Brasil discute a questão da violência sexual contra a mulher como um dos mais urgentes problemas sociais da atualidade, principalmente diante de casos de maior repercussão como a da garota violentada por 30 homens em maio no Rio de Janeiro. Em Pernambuco, nas últimas semanas, as mulheres têm vivido uma rotina de medo que levou até o governador a se posicionar.

Personagem sofre uma violenta pressão psicológica após o trauma
Personagem sofre uma violenta pressão psicológica após o trauma

No filme, a questão da violência contra a mulher, na verdade, não está manifestada apenas no estupro. O silêncio do marido que finge não saber sobre o crime é também uma espécie de tortura. Ele não fala sobre o assunto, mas passa a se comportar de forma diferente depois do flagrante e ainda faz insinuações que podem pesar violentamente sobre os sentimentos da esposa. Enquanto isso, inicia uma investigação em segredo para tentar identificar e localizar os agressores, com o objetivo de vingar-se.

O estupro, que surge logo na primeira cena de forma impactante, com efeito reforçado pela edição de som e pela maneira como foi filmado, atravessa todo o filme como um eixo invisível, mas sempre presente como um fio condutor. Ao longo da trama, o crime é ressignificado aos poucos. No início, parece um problema de violência urbana. Depois, passa a ser recontextualizado como um gesto passional, ligado a um passado misterioso, o que não o torna menos hediondo.

O silêncio do céu demonstra uma forte influência de Alfred Hitchcock, de filmes como Rebecca, Um corpo que cai e Psicose, pois o clima de suspense é construído a partir de informações descobertas gradativamente pelo espectador, que se sente enganado junto com os personagens e é obrigado a inverter a compreensão de alguns dos fatos. A direção é do cineasta paulista Marco Dutra, que já havia exercitado o terror em Trabalhar cansa (2011) e Quando eu era vivo (2014).


No Brasil, criou-se uma expectativa em torno do filme, desde o lançamento do trailer, por causa da presença de Carolina Dieckmann, que interpreta a silenciosa vítima do estupro. A atriz alcança um tom sutil (até porque a situação em si já é bem pesada), que não eleva o resultado e também não prejudica. Atuar na língua espanhola parece ter sido um desafio que funciona bem porque a personagem também é brasileira.

O filme tem também uma forte identidade latina e um visual que o aproxima também de Almodóvar (até pela influência hitchcockiana), apesar da ausência de humor. O roteiro é baseado no livro Era el cielo, do escritor argentino Sergio Bizzo, que também assina o roteiro. O protagonista é interpretado pelo ator Leonardo Baraglia, conhecido pela participação em sucessos do cinema da Argentina, como Relatos selvagens e Plata quemada. A uruguaia Mirella Pascual (de Whisky) vive a mãe dos estupradores. O silêncio do céu foi filmado em Montevidéu, retratada em tons fortemente verdes e azuis como uma cidade bonita e cheia de segredos.

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