Televisão Após boa participação em A regra do jogo, Maeve Jinkings brilha em Aquarius Em entrevista cedida ao Viver, a atriz comenta o momento atual da carreira no cinema e na TV

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/09/2016 10:00 Atualizado em:

Maeve Jinkings em cena de Amor, plástico e barulho. Foto: Boulevard Filmes/Filmes
Maeve Jinkings em cena de Amor, plástico e barulho. Foto: Boulevard Filmes/Filmes
Depois de alcançar respaldo junto ao grande público ao interpretar a personagem Domingas na novela A regra do jogo, Maeve Jinkings ainda não decidiu qual será seu próximo trabalho na TV, mas tem sido bastante celebrada atualmente pela participação em Aquarius, que está em cartaz nos cinemas. Nascida em Brasília, a atriz começou a carreira em São Paulo e foi em Pernambuco que ela começou a ficar mais famosa graças a filmes como O som ao redor, Amor, plástico e barulho (pelo qual foi premiada no Festival de Brasília) e Boi Neon.

Filmado no Recife e dirigido pelo  pernambucano Kleber Mendonça Filho, Aquarius levou Maeve ao Festival de Cannes, onde ela chegou a ser considerada uma das artistas mais elegantes dos tapetes vermelhos pela glamourosa revista norte-americana Vanity Fair. No filme, ela participa de cenas dramaticamente marcantes no papel da filha da protagonista interpretada por Sonia Braga. É uma personagem complexa, que não chega a ser uma vilã, mas leva elementos de tensão à trama. Em entrevista cedida ao Viver, a atriz comenta o momento atual da carreira no cinema e na TV.

Ana Paula, a sua personagem em Aquarius, seria uma metáfora para que parcela da sociedade brasileira?
Provavelmente para a maioria das pessoas. Ela cede à pressão ao não resistir. Eu diria que a minha personagem seria a maioria das pessoas, que não consegue ter a força e a coragem de ir contra uma ordem predominante, que, no caso, é essa lógica do poder, do dinheiro e do mercado. Dentro da família de Clara (Sonia Braga), ela é uma espécie de antagonista, mas tive o cuidado de humanizar Ana Paula, até porque eu acho que essa personagem está na minha vida de várias formas e no meu círculo de relações. De alguma forma, eu teria sido isso na medida em que a gente nem sempre consegue ser resistente e corajoso. Nesse recorte do filme, ela cede à pressão e passa a pressionar a personagem de Sonia Braga, que é uma figura de luta e de resistência. E infelizmente essas figuras são raras.

Sonia Braga também contribuiu para a construção da sua personagem e você também participou da construção da personagem dela?
Sim. A gente conversou muito sobre relações familiares. A gente trocou muitas confidências. Contei pra Sonia que minha mãe, por uma grande coincidência, viveu uma história assustadoramente parecida com a história de Clara. A gente conversava muito. Ficamos muito próximas. Eu tava gravando a novela A regra do jogo e fazendo Aquarius simultaneamente. Mesmo quando eu me ausentava pra gravar no Rio, a gente ficava muito ligada por e-mail, ela me mandava fotos da orla de Boa Viagem e contava o que estava acontecendo aqui. Acho que a gente manteve uma relação amoroso e protetora, intuitivamente, como duas atrizes que estão exercendo esse papel de mãe e filha.

Você começou a trabalhar como atriz em São Paulo, mas ficou mais conhecida depois que passou a atuar no cinema pernambucano. É uma trajetória inversa ao que as pessoas estão acostumadas a ver. Você acha que isso foi uma decisão sua ou isso tem a ver também com mudanças na cultura brasileira de uma forma geral?
Eu acho que isso é reflexo de uma porção de coisas, inclusive de mudanças nas políticas culturais e nas formas de distribuir dinheiro público para fomentar o audiovisual no Brasil, mas acho que junto com isso existe um movimento muito rico da comunidade do audiovisual em Pernambuco para dar resposta a esse fomento. No meu caso, acho que tive uma intuição muito forte. Quando eu vim pra cá, fiquei muito apaixonada pela cultura de Pernambuco. Eu não pensava apenas em fazer cinema. Eu me sentia profundamente atraída pela cena cultural do Recife, mas também da música, da dança, de artes plásticas e de literatura. Eu andava com livros de poesia de Solano Trindade. Quando decidi vir pro Recife, eu encaixotei minhas coisas em São Paulo e deixei em um depósito, mas não trouxe tudo. Hoje em dia eu já trouxe tudo, todas as minhas coisas estão no Recife, absolutamente tudo. Meus amigos em São Paulo diziam que eu estava fazendo uma loucura, abandonando minha carreira e desistindo de tudo depois de ter estudado tanto. Eu lembro claramente de me questionar, dentro de mim, de pensar que eu poderia estar ficando louca, quando eu decidi vender meu carro. Eu não sabia o que significava e nem onde isso ia dar, mas meu coração estava pedindo que eu fosse. Eu senti que tinha algo a construir com os artistas do Recife. Me senti chamada. 

Na novela A regra do jogo, você conseguiu pegar um bom papel que tinha todo um significado social e político. Para as próximas novelas, você vai ter liberdade de escolher os melhores trabalhos? Como funcionará essa negociação?
Eu construí uma rede de relações dentro da TV e descobri amigos lá dentro. Descobri inclusive que a TV é permeável nas questões de coautoria com os atores. Antes eu achava que a televisão era impermeável nesse tipo de colaboração e portanto achava que tinha mais a colaborar com o cinema e o teatro. Descobri nesse trabalho que é possível colaborar, sugerir e ser escutada para transformar o curso dos personagens. Encontrei parceiros ali dentro. Tem profissionais com quem eu tenho interesse de trabalhar, com quem eu tenho uma admiração mútua, mas isso vai depender também de projetos que sejam adequados para mim e da hora de fazer ou não. Já surgiram algumas coisas depois da novela, mas achei que não era o momento e nem o personagem ideial. Agora estou paquerando com outros. É um processo.

Você sente que tem procurado projetos com um perfil mais coletivo de autoria?
Eu vim do teatro de grupo, minha formação é do teatro coletivo, que é basciamente feito de coautoria. É uma dinâmica de artistas que se admiram e que se alimentam uns dos outros. Essa coautoria nasce um pouco de escutar o outro para agregar ao seu trabalho. Caminhando juntos a gente vai mais longe.  São artistas parceiros e amigos. Eu achava que era algo particular de Pernambuco, mas vejo que é uma dinâmica de uma forma de fazer cinema de autor, que tenho percebido também em novos projetos que estou desenvolvendo com Adirley Queirós, do Distrito Federal, e com Gabriela Amaral de Almeida, de São Paulo. Tem artistas que trabalham de maneira mais solitária, mas acho que tive sorte com isso ao cair no cinema pernambucano e trabalhar com diretores como Renata Pinheiro, Kleber, Leonardo Lacca e Gabriel Mascaro, com quem sempre tive a liberdade de ser propositiva porque isso os interessava. Eu acho que mudam os graus. Na TV, por ser um produto industrial e mais engessado em alguma medida, eu fui com a expectativa que não ia ser isso, mas também encontrei ali um espaço para me colocar, ir colaborando e ir mudando algumas coisas, dando um pouco a minha autoria.


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