Música Alceu, Elba e Geraldo apostam em inéditas e nova pegada no resgate do Grande Encontro Cantores e compositores nordestinos retomam turnê do projeto 20 anos após primeira edição

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/09/2016 17:30 Atualizado em: 20/09/2016 17:28

Turnê passará por São Paulo, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco e Ceará. Foto: Livio Campos/Divulgação (Foto: Livio Campos/Divulgação)
Turnê passará por São Paulo, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco e Ceará. Foto: Livio Campos/Divulgação

Os violões foram substituídos por uma banda formada por sete instrumentistas. O clima de improviso, com repertório pinçado pouco antes de subir aos palcos, foi incrementado por espetáculo ensaiado durante um mês. As performances individuais cederam espaço a apresentações em trio e duetos. Duas décadas mais maduros, Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo resgatam a histórica turnê O grande encontro. O projeto original, com Zé Ramalho, estreou em 1996, conquistou a marca de 1 milhão de cópias vendidas e originou mais dois discos, em 1997 e 2000, sem Alceu. 

Confira o roteiro de shows no Divirta-se


A retomada, envolta na aura de comemoração das duas décadas, foi gestada a partir do espetáculo Encontro inesquecível, de Elba e Geraldo. A primeira apresentação ocorreu no último sábado e domingo, no Rio de Janeiro. São Paulo, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco e Ceará são os estados já confirmados na agenda, paralela às carreiras deles. A turnê é mais um encontro entre os vários dos três nordestinos cujos destinos se cruzaram definitivamente na década de 1970 para cravar os nomes na história da música brasileira.

Dois sertanejos, um agrestino. Na bagagem, mais de 30 anos de amizade. O encontro musical foi no Rio de Janeiro, onde Elba e Geraldo dividiram apartamento, Alceu pôde mostrar a Geraldo as composições feitas por ele e Elba e Alceu participaram, como atriz e autor de músicas, respectivamente, do espetáculo teatral do recifense Luiz Mendonça responsável por lançá-la. %u201CAmizade, cumplicidade e identidade%u201D, resume a paraibana. 

No currículo, parcerias e duetos musicais. Elba gravou cerca de 25 músicas de Geraldinho, mais de dez de Alceu. O primeiro lançamento fonográfico das carreiras de Geraldo e Alceu foi Quadrafônico, dos dois, de 1972. Do vinil histórico, é resgatada a faixa de abertura, Me dá um beijo. Apesar da idade, chega com tom de ineditismo, por nunca ter sido regravada, e de xodó de Elba: %u201CVai ser a grande surpresa do show%u201D.





Assista:



Inéditas, mesmo, serão três. Compositora intermitente, Elba divide com Geraldo e Toni Garrido a autoria da melodia de O melhor presente, cujos versos são assinados pelo pernambucano de Petrolina. Ele apresenta ainda Só depois de muito amor, com Abel Silva, uma %u201Ccanção bem sertaneja%u201D, segundo ele. A novata de Alceu é Ciranda da traição, música praieira com interpretação intercalada pelos três e ainda um coro da plateia.

A direção artística é do pernambucano André Brasileiro, o mesmo do show Cordas, Gonzaga e afins, no qual Elba reverencia o Rei do Baião e cujo CD foi premiado nas categorias Melhor Cantora e Melhor Álbum no 27º Prêmio da Música Brasileira. "Eu me senti honradíssimo. É uma aula diária de música brasileira. Os três conhecem tudo de música nordestina, da geração que explode nos anos 1970", comemora, sobre os cerca de dez ensaios e outras tantas conversas e mensagens trocadas.

Nos palcos, com cenografia do renomado Gringo Cardia, o trio é acompanhado por sete instrumentistas, responsáveis pela nova pegada sonora do projeto: César Michiles (flauta), da equipe de Elba, Cássio Lima (baterista) e Paulo Rafael (guitarra), de Alceu, Meninão (sanfona), Nei Conceição (baixo), Anjo Caldas (percussão) e Marcos Arcanjo (violões), de Geraldo.
 
Embora ausente, Zé Ramalho é relembrado com Frevo mulher,interpretada pelos três, e Chão de giz, por Elba, entre apresentações solo, duetos e muitos trechos em trio. Pelas ruas que andei (Alceu Valença e Vicente Barreto), Caravana (Alceu e Geraldo), Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) e Táxi lunar (Geraldo, Zé e Alceu) serão entoadas no encontro. O setlist contempla um verdadeiro passeio pelas carreiras dos nordestinos.

Entrevista // Alceu, Elba e Geraldo

Qual a importância do Nordeste para a carreira de vocês?
Elba: Eu sou muito lisonjeada por poder dividir a cena com estes mestres, estes monstros sagrados da música do meu Nordeste. A minha régua e o meu compasso é o Nordeste. Os pés estão fincados lá, o olhar está no mundo, porque a música é universal, mas é o Nordeste que dá o termômetro e me inspira.

Geraldo: O Nordeste é a nossa fonte, nossa raiz, uma coisa grandiosa do Brasil. Tem uma cultura muito marcante para o país.
Alceu: Eu nasci em São Bento do Uma, uma cidade muito cultural, aprendi a cultura ibérica lá, que é muito presente. Depois, eu morei no Recife, peguei a cultura litorânea, dos frevos, maracatus. Andei pelo mundo, mas, de uma certa maneira, o Nordeste é a minha influência primal.

Desta vez, vocês sobem ao palco com banda, bateria, percussão. Como é a sonoridade?
Elba: Eu particularmente acho que era necessário a gente renovar. Não trazer o mesmo modelo de 20 anos atrás, que foi circunstancial. Aconteceu daquele jeito, todo mundo topou. Mas eu acho que a presença da banda vai trazer mais peso, mais suingue para todos nós, principalmente nas partes solo.

Alceu: Os arranjos estão sensacionais, maravilhosos. Está tudo incrível. É uma aula de música popular brasileira, com um pé fincado nas matrizes e raízes do nosso Nordeste. Pernambuco de Geraldo, Pernambuco meu, Paraíba de Elba. Tem essa coisa e também é uma coisa universal.

Como foram os primeiros encontros? Como se conheceram?
Geraldo: Eu vim muito cedo para cá, antes de Naná (Vasconcelos). Eu conheci Alceu na casa de Wilson Lira. Mas eu já via você assistindo à gente lá no Recife, nos bares, fumando cigarro, numa pose de Jean Paul Belmondô.

Alceu: Quando voltei de um curso nos Estados Unidos, encontrei Geraldo Azevedo num bar, na frente do Colégio Padre Félix, no Recife. Eu cheguei lá e me apresentei %u201CGeraldinho, eu estive nos Estados Unidos cantando uma música sua, chamada Aquela rosa". Ele %u201Cfoi mesmo? Obrigado%u201D. (risos) Uns três anos depois, vou à casa de Wilson Lira e encontro Geraldo, em 1970. Eu, que era muito inseguro, toquei uma música e ele falou "bicho, suas músicas são bonitas, vai lá em casa". No outro dia, eu estava lá, na casa dele, na Glória. Gosto de fazer exercício, então fui do Leme até a casa dele.

Elba: Eu conheci Geraldo no Rio, em 1974. Foi quando eu cheguei com o Quinteto Violado e fiquei batalhando para ver se eu chegava a um grupo de teatro. Quando eu conheci Geraldo, fiquei muito amiga. Até hoje, a gente mantém essa coisa meio sagrada, sacramentada na nossa relação. Eu ia para o Baixo Leblon, que era o point. Eu não conhecia ninguém, morava de favor. Não sei porque das quantas, eu já estava indo para a casa de Alceu.

Alceu: Você (Elba) não deve lembrar, mas aquela peça que você fez com Luiz Mendonça, tinha uma música minha. Você não me reconheceu porque eu não era conhecido.



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