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Show Turnê de 'preto com gay' de Ana Carolina e Seu Jorge chega a Pernambuco Donos de vozes poderosas, os amigos apresentam repertório com músicas deles, MPB, bossa nova, funk, axé e pagode

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 12/08/2016 08:56 Atualizado em: 12/08/2016 09:14

Primeiro show do encontro foi em abril, em Sao Paulo. Foto: Manuela Scarpa/Divulgação
Primeiro show do encontro foi em abril, em Sao Paulo. Foto: Manuela Scarpa/Divulgação


São Paulo - Foram quase 12 anos de intervalo entre a gravação do bem-sucedido Ana e Jorge, de agosto de 2004, e a estreia da turnê em dueto, em abril deste ano. Com mais de 300 mil cópias do disco vendidas na bagagem e sólidas carreiras individuais, Seu Jorge e Ana Carolina resgatam hoje, em Pernambuco, o repertório do álbum conjunto, além de canções de cada um deles e covers, da bossa nova ao funk.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se


"A criança já tem 11 anos, é filha de preto com gay e é super bem-sucedida", explica Ana, com a máxima marcante repetida desde o início da aventura sobre os palcos. O texto de apresentação, recitado durante o show, brinca com a passagem de tempo, ressalta fatos históricos, como a primeira presidente mulher do Brasil, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o primeiro papa sul-americano, e ironiza sandálias tipo Crocs, tomada de três pinos, a inesquecível derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo, Xuxa ter trocado a Globo pela Record. "Eu peguei um monte de gente", provoca Ana. "E agora a gente está aqui, né?", finaliza ele.

Em clima descontraído, os amigos de vozes marcantes e graves concentram 30 músicas nas quase duas horas de performance, nas quais cantam e tocam, quase sempre juntos. A sonoridade essencialmente acústica do CD e DVD abre espaço para batidas e samplers eletrônicos, combinados à iluminação em tons escuros e de azul. É isso aí, Comparsas/O pequeno burguês, Garganta e Carolina, hits de Ana & Jorge, são mesclados a músicas de ambos: Pole dance, Rosas e Elevador, dela, e Mina do condomínio, Quem não quer sou eu e Burguesinha, dele.

Ana Carolina e Seu Jorge curtem Dindi, clássico da música popular brasileira composto por Tom Jobim e já interpretado por Maria Bethânia, Gal Costa e até Frank Sinatra, Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa e Osvaldo Molles, e Chiclete com banana, de Jackson do Pandeiro. Eles também cantam a nova Mais uma vez, canção com pegada de sertanejo pop escrita por Ana em parceria com o pernambucano Dudu Falcão, Gabriel Moura, Pretinho da Serrinha e Leandro Fab, e se deliciam com hits do axé e do pagode.

Coleção, famosa na voz da baiana Ivete Sangalo, é resgatada pela dupla e até ganhou um "eu amo você" de Seu Jorge para Ana Carolina na estreia do projeto, em São Paulo. A versão de Araketu para Mal-acostumado é definida por Ana Carolina como "uma dessas músicas populares que a gente não tem muita oportunidade de cantar, mas eu queria", enquanto Talismã, do recifense Michael Sullivan e Paulo Massadas, registrada pela banda de pagode Raça Negra e pela dupla sertaneja Leandro e Leonardo, é lembrada por Seu Jorge como "música que marcou época". O passeio entre gêneros é finalizado por música eletrônica, dançada pela dupla e - esperam - pelo público.

SERVIÇO

Ana & Jorge
Onde: Classic Hall (Avenida Agamenon Magalhães, s/n, Olinda)
Quando: Hoje, às 22h
Quanto: R$ 120 e R$ 60 (meia), para pista, R$ 240 e R$ 120 (meia), para frontstafe, R$ 1,3 mil (mesa VIP para quatro pessoas), R$ 1,6 mil (mesa premium) e R$ 1,5 mil a R$ 2,1 mil (camarote para 10 pessoas), à venda nas Lojas Renner, Classic Hall e no site Ingresso Rápido
Informações: 3427-7500

* A repórter viajou a convite dos organizadores da turnê

ENTREVISTA //ANA CAROLINA E SEU JORGE

O repertório é bem eclético, com MPB, funk, axé. Como foi a construção?
Jorge: A gente sabia que precisa fazer um show baseado em sucessos, nos nossos, principalmente: aquilo que as pessoas ouviram lá atrás e que conhecem hoje. Queria unir o trabalho dos autores que somos e o instrumento de intérprete. "Vamos tentar achar uma canção que faz sentido para todo mundo na plateia, mas não está na memória". No meu caso, foi o Talismã: restaurar a memória dessa música, que ouvi com Nelson do Forrogode, não foi nem com Leonardo, um "sambanejo" que eu queria trazer. Tenho certeza que as pessoas que chegam lá querem se livrar dos problemas, dessa coisa que está acontecendo com a gente. Naquela hora, elas querem cantar o amor, a fantasia, sair da dificuldade de todo dia empreender o Brasil.

Na apresentação, Ana diz que "temos uma presidente mulher". Tem algum receio de causar um efeito negativo?
Ana: (Aquela frase no show) é só uma citação de coisas que aconteceram sem ser tendenciosa, sem entrar no mérito. Eu não gostaria de dar uma opinião sobre isso agora.

Por que a opção pela música eletrônica?
Ana: Eu vinha paquerando com a música eletrônica desde o #AC, que não tem bateria. Quando a gente se encontrou, a gente ficou em dúvida de fazer voz e violão ou banda. "E se a gente botar dois caras tocando com a gente, disparando, botando música eletrônica?". E deu certo.

Há quem diga que a demora para uma turnê foi devido a brigas entre vocês…
Ana: A gente briga toda hora e faz as pazes. Não  ficamos brigados. Nós dois temos personalidades superfortes.
Jorge: Entre parceiros, não pode haver formalidades. Quando se juntam duas personalidades assim, é para ser um negócio foda, até intransponível. A porrada canta mesmo, a chapa pela. Mas essa história de brigados, de que nós não nos falamos, isso não existe. É justamente desse encontro de personalidades distintas que nasce o diferencial do nosso trabalho.

Vocês dizem que o projeto é filha de "preto com gay". Há o que comemorar?
Ana: A gente é muito minoria para o sucesso todo que a gente faz, mas temos o que comemorar sim. Ver um país como os Estados Unidos com um presidente negro, o Brasil com uma presidente mulher, isso são avanços. Mas a luta continua. Porque o preconceito existe. Eu vejo mães que vão ao show e dizem: "Foi difícil quando a minha filha disse que era gay. Mas ouvi o seu disco, ouvi teu discurso, e o processo foi mais fácil". É gratificante. Que bom que estou ajudando de alguma maneira. Não levanto bandeira, mas o preconceito existe mesmo. Nada me tira da cabeça que as pessoas mais preconceituosas são aquelas que têm algum problema com a própria sexualidade.

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