Stranger Things narra eventos sobrenaturais em uma pequena cidade dos EUA e conta com Winoma Ryder no elenco. Foto: Netflix/Divulgação

Nas rodas de bate-papo sobre Stranger things, nova produção original da Netflix que estreou neste mês, as classificações sobre o seriado soam parecidas. Você ouvirá referências a Steven Spielberg, com comparações aos filmes do diretor que fizeram sucesso nos anos 1980, como E.T. - O extraterrestre e Os Goonies, à franquia Arquivo X e ao longa Super 8, de J.J. Abrams.

Foi exatamente essa inspiração nostálgica que garantiu o sucesso da estreia do seriado, que já figura entre os fenômenos do serviço de streaming, principalmente no Brasil. E também já tem a segunda temporada garantida.
O retorno satisfatório obtido pela produção ressoa também o culto recente a produções audiovisuais da década, manifestada em remakes de filmes e retomadas de séries já encerradas, como Máquina mortífera (longa transposto para a TV) e MacGyver, prestes a ser revivido.

No cinema, obras inspiradas em blockbusters dos anos 1980 têm propiciado vida nova a franquias históricas e feito das tramas caixas de ressonância de temas sociais contemporâneos, a partir de mudanças em personagens e enredos. Os recentes Caça-Fantasmas e Mad Max evidenciaram a questão feminina ao tornar fortes os papéis desempenhados por mulheres.

Produzida pelos irmãos Matt e Ross Duffer, Stranger things nada mais é do que uma homenagem aos fãs da década. Ela, inclusive, é descrita como uma "carta de amor aos anos 1980". "Nós seguimos três gerações: crianças, adolescentes e adultos. Nós gostamos de pensar em cada uma dessas gerações como existente em um universo dos anos 1980 diferente. Os adultos estão em um filme de Spielberg. Os adolescentes em um terror como Halloween. E as crianças estão em um romance de Stephen King, em que uma cidade pequena que tem de se unir para enfrentar um horror terrível", afirmou Matt em entrevista à imprensa internacional.

O seriado se passa na cidade de Hawkins, em Indiana, nos Estados Unidos, em 1983. Tudo parecia ir bem até que o jovem Will Byers (Noah Schnapp) desaparece misteriosamente após deixar os amigos Mike Wheeler (Finn Wolfhard), Dustin Henderson (Gaten Matarazzo) e Lucas Sinclair (Caleb McLaughlin) depois de uma partida de Dungeons & dragons, um jogo de RPG que surgiu em 1974.

Já não bastasse o clima nostálgico dos anos 1980 e o bom mistério, Stranger things ainda conta com um ótimo elenco. O grande nome da produção é Winona Ryder, musa de Tim Burton que atuou em Beetlejuice (1988), Edward Mãos de Tesoura (1990) e Frankenweenie (2012), seguida do ator David Harbour, que esteve em Aliança do crime, Caçada mortal e O protetor.

Mas é o elenco mirim que, de fato, rouba a cena. A começar por Millie Bobby Brown, 12 anos, que vive a misteriosa Eleven e dá um show de atuação mesmo com poucas falas. A atriz já atuou na série Intruders (2014) e na franquia NCIS. Também vale destacar Finn Wolfhard, que tem no currículo atuações em Supernatural e The 100; Caleb McLaughlin, que já esteve em Shades of blue e Law & order; Gaten Matarazzo, que fez a série Blacklist; e Noah Schnapp, que esteve em Ponte dos espiões e fez dublagem na animação Snoopy & Charlie Brown.

NOSTALGIA
A nostalgia de décadas passadas se tornou elemento explorado em anos recentes. Incluir referências na narrativa nos seriados se tornou estratégia comum:

Megaprodução, Vinyl não foi renovada para a segunda temporada. Foto: HBO/Divulgação

Anos 1970
Além das décadas de 1980 e 1990, os anos 1970 também estão sendo “recapitulados” em seriados. O seriado Vinyl (foto), da HBO, é ambientado no surgimento de movimentos do punk e hip-hop. Feito por Mick Jagger, Terence Winter e Martin Scorsese, o seriado, cancelado pelo canal, conta a história da decadência de uma gravadora. O viés musical da época também é abordado na série The get down, a primeira produção musical da plataforma de streaming. O seriado, criado por Braz Luhrmann (Moulin Rougie), teve o primeiro vídeo divulgado. Os 13 episódios chegam ao serviço no dia 12 de agosto. A Netflix também relembra costumes
dos anos 1970 em F is for family, com foco no politicamente incorreto a partir da vivência da família protagonista.

Fuller House retomou trama de Três é demais. Foto: Netflix/Divulgação

Anos 1980
A CBS produzirá a série MacGyver, com novas aventuras do inacreditável agente secreto - mas sem o icônico ator Richard Dean Anderson. A 20th Century anunciou a continuidade de Soldados da fortuna. Ash vs Evil dead leva para a telinha desdobramentos dos filmes sobre mortos-vivos, produzida pelo criador Sam Raimi e exibida no Brasil pela Fox. Três é demais, sobre o dia a dia de um viúvo encarregado de cuidar das filhas, ganhou novas cores pelas mãos da Netflix nos 13 episódios do seriado Fuller house (foto). A franquia de ação clássica Máquina mortífera, eternizada por Mel Gibson e Danny Glover, será prosseguida na televisão em uma série com a dupla formada por Damon Wayans e Clayne Crawford - a previsão de estreia é no fim do ano.

A história de OJ Simpson é revivida nas telas. Foto: FX/Divulgação

Anos 1990
Um dos casos mais recentes foi a nova temporada de Arquivo X, série da Fox, comDavid Duchovny e Gillian Anderson. Sucesso dos anos 1990, a 10ª temporada bateu recorde de audiência nos EUA, com cerca de 21 milhões de espectadores no país. Há a expectativa para novos episódios, previstos para 2017. A Fox ainda não deu a confirmação oficial. Com 22 indicações ao Emmy deste ano, o seriado American crime story: O povo vs O. J. Simpson (foto) remete a um caso policial ocorrido nos anos 1994. O jogador norte-americano foi acusado de matar a esposa, e o julgamento é considerado um dos mais polêmicos da história norte-americana. A questão racial é um dos pontos abordados na produção, que acompanha em dez episódios o desenrolar do caso.

Haja Coração se inspira na novela Sassaricando. Foto: Globo/Divulgação

TV BRASILEIRA
O saudosismo é exposto em novas versões de novelas antigas, como trama das 19h, Haja coração, que faz uma homenagem à Sassaricando, exibida nos anos 1980. A trama foi inspirada na original, mas incluiu novos personagens e apostou na contemporaneidade para narrar a história de personagens como Tancinha, Apolo e Fedora. A lista de remakes de obras da década de 1980 inclui nomes como Guerra dos sexos e Ti ti ti. Além das produções oitentistas, a Globo também recordou folhetins como O rebu (1974), Gabriela (1975) e O astro (1977). Na década de 1990, a emissora promovia remakes. A segunda versão de Mulheres de areia, estrelada por Glória Pires em 1994, foi inspirada na original em 1973, exibida pela TV Tupi.