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Cinema Sonia Braga declara amor ao Recife: Uma da cidades mais importantes da minha vida Estrela do filme pernambucano Aquarius será homenageada no Festival de Cinema de Gramado

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/08/2016 12:15 Atualizado em:

Atriz volta às telonas no filme pernambucano que estreia no país no dia 1º de setembro. Foto: Victor Juca/Divulgação
Atriz volta às telonas no filme pernambucano que estreia no país no dia 1º de setembro. Foto: Victor Juca/Divulgação


Depois de Dona Flor, Gabriela, Tieta, Mulher-Aranha e A Dama da lotação, entre outras personagens históricas do cinema brasileiro, Sonia Braga agora é Clara, a protagonista de Aquarius. Antes de voltar às telas no filme pernambucano, que estreia no país no dia 1º de setembro, a atriz também será homenageada nesta semana no Festival de Gramado, onde receberá o Troféu Oscarito pelo conjunto da obra na noite de abertura, na sexta-feira.

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Um ano depois de participar das filmagens no Recife, Sonia voltou à cidade na última quinta para passar mais um fim de semana. Durante quatro dias, cedeu entrevistas para a imprensa local, conheceu o Cinema São Luiz, foi à Festa Sem Loção e fez questão de visitar o Café Castigliani, no bairro de Parnamirim, pertencente ao cineasta Leonardo Lacca, que foi um dos preparadores de elenco de Aquarius. Bem antes do início da elaboração do longa-metragem, ela veio ao Recife em 2012, quando recebeu uma homenagem do bloco carnavalesco Siri na Lata.

Há três meses, o filme do diretor Kleber Mendonça Filho concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes e fez Sonia reconquistar a atenção nacional e internacional. Ela já havia sido jurada em Cannes, foi uma das apresentadoras do Oscar e participou de produções de Hollywood na década de 1980. Nos últimos anos, fez pontas em filmes e em seriados, como Sex and the city. Depois de Aquarius, participa da série Luke Cage (parceria da Marvel com a Netflix) e fará personagens coadjuvantes nos filmes Wonder (com Julia Roberts e Owen Wilson) e Going places (com John Turturro e Susan Sarandon).

"Sou a mesma pessoa que fez Dancin Days, Gabriela e Dona Flor e seus dois maridos, mas é como se eu estivesse esquecida em Marte. A equipe de Aquarius me resgatou para o cinema brasileiro", declarou a atriz em entrevista coletiva no Recife na última sexta. "A Clara me deu as palavras que me faltavam", falou para a imprensa, antes de ceder uma entrevista exclusiva ao Viver.

Entrevista Sonia Braga // atriz

Sonia e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho nos bastidores do filme. Foto: Victor Juca/Cinemascopio
Sonia e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho nos bastidores do filme. Foto: Victor Juca/Cinemascopio

O que o Recife passou a significar para você depois de Aquarius?
Quando eu fiz Gabriela, a Bahia me recebeu como se eu fosse nordestina. O Jorge me recebeu como se eu fosse filha dele. Criei essa relação com o Nordeste. Eu já tinha vindo ao Recife e já tive namorados pernambucanos, mas não conhecia a cidade. Por ter filmado com Kleber e com as pessoas que fizeram o filme, Recife passou a ser uma das cidades mais importantes da minha vida. Não como atriz, mas como pessoa.

No filme, você parece muito espontânea e natural, como se não enfrentasse grandes dificuldades para atuar. Quais foram os maiores desafios que você encontrou durante as filmagens?
Eu não dirijo. Eu não sei nadar. Eu não toco piano. A cena que mais me fez sofrer foi a cena do piano, em que eu toco quatro acordes. Não sei se é um trauma. Comecei a aprender piano quando eu era criança e fui obrigada a parar. Eu fui obrigada a parar de fazer muitas coisas que eu gostava muito quando meu pai morreu. Cantar em público, pra mim, também é uma dificuldade.

Em uma entrevista cedida no Festival de Cannes, você fez uma analogia entre seu trabalho em Aquarius e figuras da religiosidade afro-brasileira. O que você quis dizer com essa comparação?
Eu falei, mas, na mesma hora, repensei o que eu disse porque eu acho que a religião não cabe nesse filme. É apenas uma metáfora bonita, que eu continuo gostando. No candomblé, a força da religião é a natureza. São as florestas, o mar, as cachoeiras... Eu e Clara viemos de lugares diferentes. Ela é do mar, como Iemanjá. Eu sou da cachoeira, como Oxum. Quando nos encontramos, viramos uma energia só. Nós duas somos do elemento água. Eu sou agnóstica, mas quando vejo um terremoto ou um tsunami eu vejo a força que esse planeta tem. É uma coisa de um poder incrível. São coisas que podem ser incrivelmente destruidoras.

No filme, há cenas em que Clara toma banho de mar em Boa Viagem, apesar das placas de advertência sobre os ataques de tubarões. Na sua opinião, a presença desses tubarões no Recife têm algum significado maior?
Os tubarões estão na natureza, que é o ambiente deles. Os prédios tapam o sol. O homem nem permite que o sol chegue na água. Da minha varandinha, no hotel, eu ficava olhando aquelas faixas de sombra. Prédios mais baixos, como o Aquarius, teriam sido melhor para todo mundo, inclusive para os tubarões. Quando Clara toma banho de mar, ela mostra que tem respeito pelos tubarões. Acho que essas metáforas existem. Eu não sei nadar e sempre tive medo das ondas, mas se o diretor me pediu pra entrar no mar é porque aquilo era muito importante.

Você já trabalhou em filmes com estilos de produção diferentes, mas a forma de trabalhar da equipe de Aquarius aparentemente foi algo marcante, que você sempre comenta nas entrevistas. Que diferencial foi esse?
Me pareceu a equipe mais democrática com quem eu trabalhei. Eles sabiam muito sobre o roteiro e pareciam já ter discutido muito entre si. Cada um ali já fez seu próprio filme. É um movimento. É difícil encontrar uma equipe como essa, em que todo mundo trabalha no filme de todo mundo. Eu não gosto quando dizem que sou atriz principal, porque todos nós somos principais. Todo mundo é esse ator principal. Não é a atriz que costura tudo, são os pequenos detalhes das cenas.

Você é bastante ativa no Facebook e por isso ficou muito vulnerável a ataques depois que participou do protesto junto com a equipe de Aquarius no Festival de Cannes. O Facebook também te machuca?
Quando eu voltei de Cannes, passei cinco dias, 11 horas por dia, para ver quem eram aquelas pessoas que escreviam aquelas coisas horríveis. Eu sofri muito. Ver um país dividido me faz sofrer muito. Nas Diretas Já, nós queríamos democracia. A democracia foi uma coisa muito difícil de ser conquistada e é uma coisa fácil de se perder. Eu sugeri ao Facebook que eles começassem a aceitar denúncias por perseguição política. Um homem me chamou de vaca. Tinha outras coisas medonhas que eu não vou nem repetir. O que se perdeu foi o direito de cidadania. Minha página era aberta para quem quisesse postar comentários. Depois de Cannes, mantive a página aberta para quem quiser ver, mas agora só meus amigos podem deixar comentários.

Você vai contracenar com Julia Roberts no filme Wonder?
Em Wonder, eu só vou fazer uma cena. Eu sou a mãe de Julia Roberts, mas ela não está na cena. É uma cena com a personagem que é a filha dela, a minha neta. Eu vou dizer a ela que os pais ficam tão preocupados com os filhos que às vezes esquecem de conhecê-los. É uma cena bem bonita. Eu gosto de participar de apenas um dia de filmagem em um filme. Na série Luke Cage, da Marvel, por exemplo, eu fiz apenas quatro episódios. Eu estou ali para dar um passado para outra personagem, que é a minha filha. Eu adoro fazer coadjuvante.

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