Diario de Pernambuco
Busca
Cinco dias Lendas urbanas do Recife são tema de festival gratuito Festival será dividido em encenações teatrais, exibição de vídeos, exposição de fotos, leitura de contos fantásticos e bate-papo com escritores

Por: Augusto Freitas

Publicado em: 31/08/2016 13:30 Atualizado em: 31/08/2016 14:16

Festival terá encenações montadas pelo ator e diretor teatral Paulo André Viana. Foto: Deborah Bittencourt/Divulgação
Festival terá encenações montadas pelo ator e diretor teatral Paulo André Viana. Foto: Deborah Bittencourt/Divulgação


A mulher emparedada, a loira de Santo Amaro, a menina do algodão, o acendedor de lampião da Ponte D'Uchoa. As figuras seriam apenas nomes de personagens do imaginário popular recifense se não fossem, antes, lendas urbanas que se arrastam durante anos e permeiam o universo assombrado do Recife. Essa tradição pernambucana alimentada nos quatro cantos da capital pernambucana será tema, a partir desta quarta-feira (31), de um festival promovido pelo projeto O Recife Assombrado.

O evento, que vai acontecer no Sesc Santo Amaro até o próximo domingo (4), é uma boa alternativa de programa cultural para quem não conhece ou deseja enriquecer os conhecimentos sobre as principais histórias mal assombradas do Recife. O festival, segundo a organização, será dividido em encenações teatrais, exibição de vídeos, exposição de fotos, leitura de contos fantásticos e bate-papo com escritores, além de sorteio e lançamento de livros sobre o tema.

De acordo com os coordenadores do evento, os editores do site www.orecifeassombrado.com, André Balaio e Roberto Beltrão, que agrega um conteúdo exclusivo sobre o projeto O Recife Assombrado, nos três primeiros dias do festival (quarta à sexta-feira), o foco será o teatro, com encenações montadas pelo ator e diretor teatral Paulo André Viana. O foco será em histórias típicas das pequenas cidades de Pernambuco, com antigos causos envolvendo almas penadas e monstros.

"Neste segundo festival resolvemos não apenas repetir lendas, mas criar contos mais refinados do ponto de vista literário, sem perder a tradição do cenário assombrado que norteia o Recife. A ideia também é contar histórias do imaginário popular assombrado típicas do interior do estado, que muitas pessoas da capital não conhecem. Isso estimula a contação de lendas tradicionais e inspiração para descobrir novas histórias assombradas", disse Roberto Beltrão.

Público conhecerá contos produzidos a partir de uma experiência na casa nde viveu o sociólogo Gilberto Freyre. Foto: Deborah Bittencourt
Público conhecerá contos produzidos a partir de uma experiência na casa nde viveu o sociólogo Gilberto Freyre. Foto: Deborah Bittencourt


No sábado e domingo, o festival vai priorizar a literatura e o público terá surpresas. Nesses dois dias, conforme explicou Beltrão, serão apresentados os resultados de uma experiência inédita em Pernambuco, quando oito escritores encararam o desafio proposto pelos editores do site de passar uma noite na histórica casa-museu da Fundação Gilberto Freyre, no bairro de Apipucos, para produzir contos e poemas. A estadia dos escritores ocorreu na madrugada entre os dias 29 e 30 de julho passado.

O local, por muitos anos, foi a residência do sociólogo, antropólogo, historiador, poeta, pintor e jornalista recifense, conservando em exposição objetos pessoais, móveis antigos, porcelanas, pratarias e peças de arte popular de Gilberto Freyre. Virou, inclusive, atração com visitas assombradas baseada nos contos do livro Assombrações do Recife Velho (1955), de autoria de Freyre, com vários registros de histórias apavorantes de fantasmas da capital pernambucana.

"A experiência de passar uma noite na casa onde viveu Gilberto Freyre, junto a outros escritores, foi intensa. Trocamos experiências e nos inspiramos na proposta de criarmos novas histórias baseadas nesse universo gótico de Pernambuco, um misto de espiritualidade e cultura afro que sempre permeia o imaginário das pessoas. São estilos diferentes de literatura que acabam enriquecendo o cenário assombrado do Recife, sempre atual e controverso", explicou Beltrão.

Nova versão
A ideia para o festival, segundo Beltrão, será mostrar que cada conto ou poema feito naquela noite ganharão uma interpretação dramática feita por atores. Depois, os autores de cada trabalho debaterão com o público sobre a experiência. Na parte teatral, o autor potiguar Márcio Benjamin, que vem se destacando no campo da literatura de horror, apresentará os livros Maldito sertão (contos) e Fome (romance), com narrativas soturnas que têm como cenário localidades esquecidas no interior do Nordeste. 

Entre essas apresentações, também serão exibidos vídeos de ficção realizados pela produtora pernambucana Portela Produções, que produzirá um longa metragem sobre a tradição dos fantasmas recifenses. No festival, haverá ainda o relançamento da história em quadrinhos A rasteira da perna cabeluda (Edições Bagaço, 2015), de autoria de André Balaio e do quadrinista Téo Pinheiro, e o lançamento do álbum ilustrado Sete assombrações em retratados falados (Edições Bagaço, 2016), uma parceria de Roberto Beltrão com o artista plástico Fábio Rafael. Na publicação, os autores brincam com a possibilidade das aparições de fantasmas e monstros serem tratados como casos de polícia.

Confira os escritores presentes no Segundo Festival O Recife Assombrado:

André Balaio - escritor, roteirista de quadrinhos e editor de O Recife Assombrado. Foi o vencedor do prêmio literário Off Flip 2016 na categoria conto com a história de fantasmas O lado de lá. Tem contos e textos publicados nos livros Histórias medonhas d%u2019O Recife assombrado, Malassombramentos e Viva Carrero (Edições Bagaço). É autor de A rasteira da perna cabeluda e coautor e editor de Histórias em quadrinhos d%u2019O Recife Assombrado

Roberto Beltrão - jornalista, escritor e editor de O Recife Assombrado. Há quase 20 anos pesquisa o rico imaginário pernambucano com mitos e lendas. É autor do livro de contos Na escuridão das brenhas (Edições Bagaço, 2013), do compêndio de lendas urbanas Estranhos mistérios d%u2019O Recife Assombrado (Edições Bagaço, 2008) e do Almanaque pernambucano dos causos, mal-assombros e lorotas (Massangana, 2014), em parceria com a folclorista Rúbia Lóssio. Organizou e editou as coletâneas Histórias medonhas d%u2019O Recife Assombrado (2002) e Malassombramentos: os arquivos secretos d%u2019O Recife Assombrado (2010)

Maria Alice Amorim - graduada em jornalismo, atua na área de comunicação e literatura, com ênfase em jornalismo cultural, principalmente nos temas literatura de cordel, poéticas de oralidade, arte e cultura populares. É autora de diversos livros e ensaios, entre eles o premiado No visgo do improviso ou A peleja virtual entre cibercultura e tradição, publicado em 2008, pela Educ

Rômulo César de Melo - advogado, escritor, poeta e autor de dois livros de contos publicados, Minimalidades (Ed. Bagaço, 2013) e Dois nós na gravata (Ed. Cepe, 2015), este último vencedor na categoria contos do II Prêmio Pernambuco de Literatura. Também escreveu o inédito Ao lado do guarda-chuva, um dos vencedores do Prêmio Lima Barreto 2014, da Academia Carioca de Letras 

André de Sena - poeta, escritor e músico, é professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco e líder do Belvidera (Núcleo de Estudos Oitocentistas), grupo de estudos especializado em obras, gêneros e modalidades imaginativas do século XIX. É autor de livros autorais de poesia, contos e teoria literária e organizador de obras teóricas especificamente relacionadas à literatura fantástica, a exemplo de Literatura fantástica & afins (Edufpe, 2012), Literatura fantástica e orientalismo (Edufpe, 2013) e Literatura fantástica em Pernambuco & histórias de fantasmas (Edufpe, 2015)

João Paulo Parísio - contista e poeta, estreou no cenário literário em 2014 com a coletânea de contos Legião anônima. Em 2015, lançou Esculturas fluidas, de poemas, ambos pela Cepe Editora e incluídos na seleção de melhores livros do ano da Tribuna de Santos. Tem textos veiculados em publicações literárias, como o Pernambuco e o Rascunho, e sites como Interpoética. Participa ainda este ano do segundo volume de Ficcionais, onde "escritores revelam o ato de forjar seus mundos"

Meca Moreno - poeta e estudioso da poesia popular nordestina, tem dois livros e diversos de cordéis publicados. É ator e também atua como xilógrafo, criador de bonecos de mamulengo. Ministra oficinas de livros artesanais, de xilogravura e de literatura de cordel em todas as regiões do Pernambuco. É membro da União Brasileira de escritores e da Comissão Setorial de Literatura do Estado de Pernambuco

Frederico de Oliveira Toscano - bacharel em Gastronomia pela UFRPE, mestre em História pela UFPE e doutorando em História pela USP, escreve textos de humor e ficção especulativa a serem publicados em meios de comunicação tais como blogs e quadrinhos. Já contribuiu com textos de ficção para as revistas Mesnch, Somnium, Trasgo, entre outras, e para O Recife Assombrado. Em 2015, recebeu o Prêmio Jabuti, em terceiro lugar, pelo seu livro de história da alimentação À Francesa: a belle époque do comer e do beber no Recife, lançado em 2014, pela Cepe Editora

Márcio Benjamin - advogado, costuma apresentar-se como um escravo das letras. Maldito sertão foi o seu primeiro livro de contos, lançado em 2012 pela Editora Jovens Escribas, e considerado um dos melhores de 2012 e 2013 pelo Troféu Cultura Potiguar. Em 2015, foi lançada a segunda edição com mais contos. Este ano, foi convidado pela Universidade de Sorbonne (França) e expôs seu trabalho em Paris bem como participou do Salão do Livro na capital francesa






Acompanhe o Viver no Facebook:





MAIS NOTÍCIAS DO CANAL