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Cinema Polêmicas do Oscar ganham ainda mais evidência no Festival de Gramado Evento gaúcho promoveu encontro entre os artistas do filme Aquarius e alguns dos responsáveis pela escolha do representante do Brasil na disputa por uma indicação

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/08/2016 17:17 Atualizado em: 27/08/2016 18:22

Em entrevista coletiva, Sonia Braga reafirmou que o Brasil sofreu um golpe de estado. Foto: Edison Vara/ Divulgação
Em entrevista coletiva, Sonia Braga reafirmou que o Brasil sofreu um golpe de estado. Foto: Edison Vara/ Divulgação
 
Por causa de uma coincidência entre datas, o Festival de Gramado deste ano reuniu os principais envolvidos nas polêmicas sobre a indicação do filme brasileiro que disputará uma indicação ao Oscar. Na noite de abertura da programação, o filme exibido foi Aquarius, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, que tem sido apontado como natural candidato do Brasil à vaga por causa da repercussão internacional já conquistada (inclusive nos Estados Unidos), mas tem enfrentado empecilhos por causa das posições políticas do cineasta contra o governo interino de Michel Temer.

Quando o diretor e a equipe de Aquarius subiram ao palco, estavam na pateia o ministro da cultura Marcelo Calero, o secretário do audiovisual Alfredo Bertini e o radialista Marcos Petrucelli, que são justamente três dos agentes que tem sido acusados de colocar pedras no caminho de Aquarius em direção ao Oscar.

Na coletiva de imprensa cedida após a exibição de Aquarius em Gramado, Kleber e Sonia voltaram a falar sobre o protesto. "Nosso ato foi um gesto democrático, ,mas tem uns que simplesmente não aceitam que alguém se posicione", alertou o diretor. "Foi golpe", reafirmou a atriz sobre a maneira como Temer assumiu a presidência.

Na mesma semana da abertura do Festival de Gramado, representantes de três filmes que concorreriam à indicação ao Oscar (Mãe só há uma, Boi Neon e Para minha amada morta) resolveram retirar a candidatura em solidariedade a Aquarius e como protesto pela maneira como tem sido conduzida a seleção. Nos mesmos dias, a atriz Ingra Liberato e o cineasta Guilherme Fiúza, que eram dois membros da comissão que escolherá o representante do Brasil, anunciaram que desistiram de participar da seleção. Ela disse que sentiu a pressão da classe artística e ele alegou questões pessoais.

O cineasta Bruno Barreto, que também estava na abertura do Festival para entregar um troféu especial a Sonia Braga (atriz de Aquarius), confirmou, em entrevista ao Diario de Pernambuco, que substituirá Fiúza na comissão e já aceitou o convite feito por Bertini. Ele mesmo já concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com O que é isso companheiro? em 1998 e dirigiu Sonia em Dona flor e seus dois maridos e Gabriela, cravo e canela. "Estou me sentindo elevado pelo filme e pelo trabalho dela", disse o diretor carioca após ver Aquarius.

A polêmica começou com a indicação de Petrucelli para compor a comissão, já que o jornalista, pelas redes sociais, atacou Kleber Mendonça Filho e os artistas de Aquarius quando eles protestaram contra Michel Temer no Festival de Cannes. Além de criticá-los, ele fez insinuações caluniosas a respeito da presença deles no evento, como demonstram prints de postagens publicadas pelo radialista no Facebook.

Em Gramado, Calero foi vaiado antes da projeção de Aquarius e chamado de "golpista". Em entrevista cedida em junho no Canal Brasil, o ministro considerou que o protesto da equipe de Kleber em Cannes foi "quase infantil" e causou "prejuízos à reputação e à imagem do Brasil".

Quem convidou Petrucelli para a comissão foi Bertini, que assumiu o cargo de secretário a convite de Calero, que foi empossado como ministro por Temer, que resolveu recriar o Ministério da Cultura após extingui-lo dias antes da participação de Aquarius no Festival de Cannes em maio. "Eu não tinha conhecimento desse posicionamento porque não sou de redes sociais. Eu só soube depois que já tinha feito o convite. Não acho grave porque, de qualquer maneira, ele ainda nem tinha assistido ao filme", justificou o secretário.

Procurado pelo Diario para comentar a saída de Ingra e Fiúza, Petrucelli falou: "Foi uma opção deles. Não posso julgar. Respeito, mas sinto muito. Acho que eles não deveriam sair. Estão se rendendo a uma pressão."

Uma homenagem ao Cine PE, festival organizado por Bertini no Recife, estava prevista para acontecer em Gramado antes da exibição do filme Aquarius.  A programação foi alterada pela produção e remarcada para a noite deste domingo.

ENTREVISTA // ALFREDO BERTINI

Depois das desistências de membros da comissão e da saída de filmes concorrentes, algo precisa mudar na forma como a escolha do representante do Brasil no Oscar será feita?
Não. A gente manteve tudo o que sempre se fez. Tudo foi colocado da maneira mais nítida e transparente. Qualquer filme está livre para concorrer. Não há nenhuma imposição ou ordem governamental em relação a nenhum filme. Eu mesmo não conversei com nenhum jurado. Apenas fiz os convites. Por causa de movimentos e pressões, as pessoas têm a liberdade de desistir. A gente repõe, como fizemos ao convidar Bruno Barreto.

Quando convidou Petrucelli, você sabia que ele tinha esse comportamento de ataque contra a equipe de Aquarius?
Eu não tinha conhecimento desse posicionamento porque não sou de redes sociais. Eu só soube depois que já tinha feito o convite.

Você não acha que é questionável a presença de alguém com esse posicionamento na comissão?
Não acho grave porque, de qualquer maneira, ele ainda nem tinha assistido ao filme. As pessoas têm que saber separar um pensamento, uma ideologia, de um respeito profissional. Eu, por exemplo, já dei nota 10 para projetos de Claudio Assis e Gabriel Mascaro, apesar de eles sempre terem tido uma postura política crítica em relação ao festival Cine PE. Cria-se uma aura negativa sem nenhuma necessidade. Não tenho respondido a nenhuma provocação ou resposta porque estou em uma condição absolutamente equilibrada. O que existe é um movimento de uma parte do segmento audiovisual, como se tirassem o mérito e o reconhecimento dos outros filmes concorrentes. E o pior é o constrangimento em que se coloca os jurados.

Veja prints com insinuações caluniosas de Marcos Petrucelli contra a equipe de Aquarius, que só recebeu apoio do governo para o pagamento da passagem de quatro dos mais de 30 integrantes presentes em Cannes:




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