Artes visuais Ocupação urbana no interior de Pernambuco vira tema de exposição com mostra Três Cidades, de José Paulo Abertura acontece nesta quinta, com trabalhos criados a partir de passagens pelas cidades de Belo Jardim, Garanhuns e Petrolina

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 31/08/2016 17:21 Atualizado em: 31/08/2016 18:03

Azulejos de cerâmica usados para revestimentos de casas viraram mote para criação da instalação 'A praça', que convida à interação. Crédito: José Paulo/Divulgação
Azulejos de cerâmica usados para revestimentos de casas viraram mote para criação da instalação 'A praça', que convida à interação. Crédito: José Paulo/Divulgação

O artista visual José Paulo apostou nos deslocamentos pelo interior do Estado como matriz poética para a sua nova exposição, Três cidades, cuja abertura acontece nesta quinta, na Amparo 60 Galeria. As relações do Agreste e do Sertão com a natureza e o passado deram origem a um projeto que revive o interesse dele em modos de fazer e de pensar técnicas e materiais tidos como populares e artesanais. Suas andanças por Belo Jardim, Garanhuns e Petrolina o levaram a repensar o que significa o urbano em uma paisagem construtiva que se modifica aceleradamente.

Os trabalhos artísticos resultantes dessas experiências foram expostos em cada um dos três municípios e encontram uma conclusão no Recife, onde são reunidos em uma só mostra. José Paulo reservou o ano de 2015 para essa investigação estética, originada por sua observação da Feira da Sulanca, em Caruaru. Ele decidiu filmar o local justamente enquanto os estandes estavam fechados e, com isso, deu à feira uma feição inesperada, de melancolia em um tempo suspenso. Essa visão particular pode ser conferida no vídeo Labirintos caruaruenses, que será exibido na mostra.

A partir daí, José Paulo percorreu Belo Jardim e encontrou um pinguim em tamanho natural em uma loja da cidade. O achado inusitado rendeu a ideia para uma imagem emblemática. "Desloquei esse pinguim para uma plantação de palmas. Lá é como se ele fosse estrangeiro, uma entidade". Em paralelo, o artista também percebeu o uso de blocos de cerâmica industrializados usados indiscriminadamente em construções. Essa situação deu origem à instalação A praça, que emula um local de convivência. "A identidade visual das cidades do interior está se modificando e por isso resolvi criar este mobiliário", completa.

Já em Petrolina, a relação entre a irrigação e a aridez e a grande insolação presente no Sertão deram origem a outra instalação, intitulada O sol estranho, na qual melancias são iluminadas artificialmente por uma luz amarelada. "Há a referência do nosso planeta banhado pela luz e a referência à tentativa de controle da natureza pelo homem. Talvez o ser humano ainda se estranhe muito com o que é natural".  Por fim, o artista também aborda o deslocamento físico realizado por retirantes do Nordeste no objeto Saudade danada, uma mala que lembra uma das estruturas que costumam secar a carne no Sertão.



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