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Pesquisa Novo olhar sobre trajetória do Rei do Cangaço é tema de livro lançado nesta quinta-feira Obra escrita por Marcos Edílson de Araújo Clemente fará parte de lançamento coletivo na sede da Fundaj

Por: Augusto Freitas

Publicado em: 18/08/2016 11:10 Atualizado em: 17/08/2016 21:03

Pesquisa foi transformada em livro, que será lançado nesta quinta. Foto: Severiano Ribeiro/divulgação
Pesquisa foi transformada em livro, que será lançado nesta quinta. Foto: Severiano Ribeiro/divulgação
Setenta e oito anos após a morte de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaço ainda desperta curiosidade na mesma proporção em que parte da trajetória de Lampião e seus comandados permanece obscura. Uma nova abordagem sobre o fenômeno social, agora publicada em livro, pode ajudar a desvendar outros traços da atuação cangaceira no Sertão. Cangaço: poder e cultura no tempo de Lampião (354 páginas, R$ 45), de Marcos Edílson de Araújo Clemente, é um dos lançamentos da Editora Massangana, nesta quinta-feira (18), às 18h, na sede da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). 

A análise explicita singularidades do cangaço, comparativamente a outros modelos de banditismo social existentes desde a segunda metade do século 19. O livro revela a complexa trajetória de Lampião, o conjunto de valores, atitudes, normas e crenças nos sertões nordestinos, precisamente entre as décadas de 1920 e 1930.

Na obra, há uma abordagem da hierarquização imposta pelo líder máximo, como a permissão por Lampião do ingresso de mulheres nos bandos. Do mesmo modo, é analisada a expansão do território de atuação dos cangaceiros, arregimentando o maior número de comparsas e agindo nos sertões em proveito próprio, distribuindo alguma forma de justiça quando lhe convinha. 

“A hierarquização imposta por Lampião vai muito além da ordem tática e planejada das ações do cangaço. Remete, de sobremaneira, aos valores em comunidade, impondo um sistema de disciplina cuja quebra gerava punições severas. Lampião retificou os bandos como organização articulada junto aos poder dos coronéis, com pactos e rompimentos, algo que outros grupos jamais haviam feito antes”, explicou Clemente. 

De acordo com o autor, muito do cangaço ainda não foi totalmente explorado pelos estudiosos. Até 1970, havia o conhecimento da versão do fenômeno que não era realista, ou seja, um produto da cultura da época, fruto de uma imagem bárbara do cangaço através dos coronéis. A partir dos anos 1980, há um movimento de simplificação da história, com elementos trágicos e éticos, com ressalva de que a violência não foi um produto do cangaço.

Serviço
Lançamento coletivo da Editora Massangana, com palestra e show de Silvério Pessoa
Quando: quinta-feira (18), às 18h 
Onde: sala Calouste Gulbenkian da Fundaj (Av. 17 de Agosto, 2187, Casa Forte) 
Entrada: gratuita

Três perguntas // Marcos Edílson de Araújo Clemente

O que o livro revela a respeito do cangaço? 
Há uma percepção da contribuição para o conceito entre o bem e o mal associado ao movimento. Lampião foi partícipe de um sistema e de um processo histórico de influência e afluência de desdobramentos, ora sabendo perfeitamente articular suas alianças, ora impondo a justiça ao modo que julgava correto, embora o movimento seja bastante associado à violência. 

No livro, o senhor menciona o processo de hierarquização imposto por Lampião no bando que comandou, bem como os demais sob sua influência. O senhor considera ele uma espécie de coronel andante? 
É possível considerá-lo um coronel nômade, que não tinha terras demarcadas, mas que impunha um modo de governar nos grotões do Sertão que muitas vezes se assemelhava ao que de fato os coronéis faziam, com articulações e alianças minuciosamente elaboradas para atender os seus interesses. Ele assumiu serviços típicos dos coronéis, inclusive através da maneira de demonstrar justiça, ausente e presente a quem lhe interessava. 

Como explicar a mística do cangaço diante de uma visão em que quase sempre o movimento é associado à violência? 
Havia uma sinalização da invulnerabilidade de Lampião, mas que não se alcança, à medida em que a figura do ser humano carismático, ainda mais pelos quem eram considerados oprimidos pelos coronéis, passa a ser mais notada. A mística aponta para um amor e ódio alimentados pela violência, mas essa dicotomia de herói e bandido mostra as várias facetas de um homem que também tinha qualidades de um ser humano. O processo atual aponta para simplificar, também, um homem comum, como líder, chefe e organizador.

[Outros lançamentos
Desigualdade educacional e pobreza no Nordeste (190 páginas, R$ 40)
Elaborado pelos pesquisadores Henrique Guimarães Coutinho, Carlos Augusto Sant’Anna e Flávio Cireno Fernandes, analisa as trajetórias escolares de jovens no Brasil pela ótica da raça, gênero e classe, analisando a influência desses fatores durante o processo formativo desses jovens. 

Pernambuco de Agamenon Magalhães: consolidação e crise de uma elite política (300 páginas, R$ 45) 
Obra de referência acadêmica sobre os rumos da política em Pernambuco entre os anos de 1930 e 1964, centrada na atuação, legado, conservadorismo político e fidelidade do ex-ministro de Getúlio Vargas antes e durante o Estado Novo e interventor no estado entre 1937 e 1945, Agamenon Magalhães. 

Desenvolvi-gente: a dimensão antropológica da cultura e o jovem artesão em Araçoiaba (280 páginas, R$ 40)
Livro da antropóloga Vânia Brayner é parte da experiência que a autora desenvolveu com a equipe do projeto Jovem Artesão, quando coordenava o Museu do Homem do Nordeste. A obra discute políticas públicas na dimensão antropológica a partir da experiência do museu no município pernambucano de Araçoiaba, através do Programa de Formação do Jovem Artesão. 

Museus e patrimônio: experiências e devires (160 páginas, R$ 35)
Organizado por Manuelina Maria Duarte Cândido e Carolina Ruoso, o livro reúne textos sobre museus e patrimônio. O contexto está relacionado com a política de formação na área de museus no Brasil. É uma forma de contribuição para as ações que venham a estimular a circulação de saberes a respeito dos museus e do patrimônio.



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