Luto Caetano Veloso, jornalistas e fãs lamentam morte de Geneton Moraes Neto Jornalista pernambucano faleceu nesta segunda-feira, em decorrência de complicações de um aneurisma na artéria aorta

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 22/08/2016 22:18 Atualizado em: 22/08/2016 23:05

Caetano Veloso e Geneton Moraes Neto durante entrevista para o Diario de Pernambuco em 1971. Foto: Facebook/Reprodução
Caetano Veloso e Geneton Moraes Neto durante entrevista para o Diario de Pernambuco em 1971. Foto: Facebook/Reprodução


A morte do jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, na noite desta segunda-feira, foi lamentada por colegas de trabalho e admiradores. Em poucos minutos, o assunto passou a figurar entre os mais comentados do Twitter. Ícone do jornalismo nacional, o recifense tinha 60 anos e tinha mais de 40 anos de profissão. Ele começou aos 16 anos, no Diario de Pernambuco.

Um dos incontáveis artistas entrevistados por Geneton, o cantor e compositor baiano Caetano Veloso recordou a entrevista concedida ao pernambucano após jejum de dois anos sem conversar com repórteres. "Escolhi falar com ele, e só com ele, para reiniciar um diálogo normal com a confusão dos cadernos B. A impressão que o garoto pernambucano me causara e a percepção de sua inteligência honesta só fizeram crescer ao longo dos anos. Se o jornalismo brasileiro tem algo de que se orgulhar, Geneton o representa melhor que ninguém - se não for exemplo único. Eu o adorava. Fiquei tristíssimo hoje ao saber que ele tinha morrido", lamentou ele.

Responsável pela difícil missão de noticiar o falecimento, a apresentadora da GloboNews Leilane Neubarth não conseguiu conter a emoção e pediu desculpas aos mais de 47 mil seguidores na rede social. "Peço desculpas por não ter conseguido segurar a emoção, mas fiquei sabendo da morte do meu amigo Geneton 30 segundos antes de dar a notícia", escreveu ela.

O cineasta, jornalista e professor da Universidade Federal de Pernambuco Paulo Cunha relembrou as parcerias profissionais e as décadas de amizade por telefone. "Estou muito tocado, não sei nem o que dizer. Só tenho uma certeza, que é a perda do meu melhor amigo. A gente ainda tinha tanta coisa para falar. Ele sempre dizia que queria voltar para o Recife, trabalhar um pouco menos, mas nunca efetivou isso. Recentemente, ele conseguiu tirar um tempo sem trabalhar e passeou muito aqui pelo Nordeste. Talvez, se ele tivesse diminuído um pouco a velocidade… Mas ele tinha uma gana, foi a pessoa que conheci que mais gostava de entrevistar. Recentemente, ele fez um documentário muito bonito sobre Glauber Rocha", desabafou, muito emocionado.

Paulo Cunha e Geneton Moraes Neto eram amigos desde quando ambos tinha 16 anos e foram integrantes do Ciclo do Super-8 da cinematografia recifense. Eles dirigiram juntos o filme Esses onze aí, sobre futebol, em Super-8, na década de 1970. Anos depois, assinaram O coração do cinema, em bitola de 16mm. Os amigos trabalharam juntos na sucursal pernambucana do jornal O Estado de São Paulo e na TV Globo.

Leia algumas mensagens:

"Geneton era um repórter adolescente quando o conheci. Gostei dele imediata e imensamente. Depois, fiquei tão impressionado com a honradez que ele demonstrou ao publicar nosso diálogo (eu tinha dito alguma coisa que soaria picante se fosse usada por um jornalista ordinário, e ele, tendo entendido o sentido respeitoso com que foi dito o que eu disse, nem publicou a frase arriscada), fiquei mesmo tão grato à sua grandeza que, para deixar para trás um período de dois anos em que me recusava a conceder entrevista a qualquer veículo da imprensa (muita agressão gratuita e muita inverdade oportunista se lia nas páginas dedicadas à música), escolhi falar com ele, e só com ele, para reiniciar um diálogo normal com a confusão dos cadernos B. A impressão que o garoto pernambucano me causara e a percepção de sua inteligência honesta só fizeram crescer ao longo dos anos. Se o jornalismo brasileiro tem algo de que se orgulhar, Geneton o representa melhor que ninguém - se não for exemplo único. Eu o adorava. Fiquei tristíssimo hoje ao saber que ele tinha morrido. Eu nem sabia que ele estava doente. Como disse Fernando Salem, essa é 'a notícia que mata a notícia. Quando morre um verdadeiro jornalista a verdade fica triste'"
Caetano Veloso, cantor e compositor


"É extremamento doloroso, mas eu costumo dizer que pessoas como Geneton, que reúnem ao memso tempo a capacidade de criar com a capadidade de escrever, não morrem. Eu o conheci na redação do Diario de Pernambuco. Ele era um garoto de uns 15 anos e eu, chefe de redação. Logo no começo, ele tinha que fazer uma reportagem no Hospital da Tamarineira. Ele se vestiu de médico e acompanhou por 24 horas o funcionamento do hospício. No dia seguinte, foi entrevistar o diretor. Mesmo novo, ele já revelava um grande talento de reportagem investigativa e um texto maravilhoso"
Raimundo Carrero, escritor e jornalista

"Eu não cheguei a trabalhar em jornal com Geneton, mas fui amigo dele durante toda a minha vida profissional, convivi com ele em várias coberturas. A memória que fica é a de um profissional muito criativo, uma pessoa que conseguiu dar ao jornalismo na televisão uma nova leitura, um novo enfoque. É uma perda muito grande para o telejornalismo do Brasil e uma perda pessoal para mim. Para a geração dele, para as pessoas que conviveram com ele aqui no Recife, ela era uma inspiração"
Ricardo Leitão, jornalista e ex-diretor de redação do Diario de Pernambuco

"Perdi há pouco um grande ídolo e grande amigo: Geneton Moraes Neto, um dos maiores repórteres que conheci. Foi ele que me botou na TV. É um dia de luto para o jornalismo brasileiro e, para mim, em particular, uma imensa dor a morte de Geneton Moraes Neto. Geneton me indicou pra fazer o programa Preto no branco no Canal Brasil e me deu aulas pra enfrentar esse novo desafio. Meu mestre querido"
Jorge Bastos Moreno, jornalista

"Muito, muito triste essa notícia. Geneton era brilhante"
Mariana Godoy, jornalista (no Twitter)

"Que triste, lá se foi um amigo e jornalista dos maiores. Sem palavras"
Xico Sá, escritor e jornalista (no Twitter)

"Lá se foi outro bom amigo, jornalista de muito talento"
Ricardo Noblat, jornalista (no Twitter)

Assista ao depoimento de Geneton para os 190 anos do Diario de Pernambuco:



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL