Música Festivais independentes e novos discos movimentam a cena rock pernambucana Treta Fest e Visions of Rock estão entre novos eventos do segmento, cenários para Monomotores e Will2Kill lançarem trabalhos inéditos

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 15/08/2016 09:10 Atualizado em: 12/08/2016 17:43

Diablo Motor, Vamoz! e Cosmo Grão se reuniram no fim de semana em novo festival independente na cidade. Fotos: Facebook/Reprodução
Diablo Motor, Vamoz! e Cosmo Grão se reuniram no fim de semana em novo festival independente na cidade. Fotos: Facebook/Reprodução

O rock pernambucano é vermelho e branco. O ilustrador Kin Noise, solicitado por bandas e festivais dedicados ao gênero no estado, chegou à constatação após seis anos dedicados às artes visuais - dois deles aplicados exclusivamente em obras envolvidas com o segmento musical. “As bandas locais preferem cores quentes, como o vermelho. Essa paleta remete ao nosso clima e, ainda, ao estilo predominante entre elas, mais rústico, pesado, o rock bruto”, explica Noise. É dele a arte usada pelo Festival Abril Pro Rock no ano passado, vitrine para músicos e artistas da região: uma caveira mexicana margeada por lanças de maracatus. Remete à resistência da produção local, movimentada por festivais independentes e novos lançamentos no setor.

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Neste fim de semana, dois projetos inéditos ganham o mercado, ambos apresentados em festivais autônomos: Will2Kill, EP de estreia da banda de mesmo nome, e Monomotores, álbum que marca retorno do grupo homônimo, após sete anos longe dos palcos. O primeiro, lançado no festival Visions of Rock, no Estelita, Zona Sul da cidade, e o segundo, no Treta Fest, no Burburinho, Bairro do Recife.

As ilustrações de Kin Noise ganharam mostra em festival co-produzido pelos artistas participantes. Foto: Kin Noise/Divulgação
As ilustrações de Kin Noise ganharam mostra em festival co-produzido pelos artistas participantes. Foto: Kin Noise/Divulgação
“Hoje, as redes sociais facilitam a articulação de eventos, mobilizando o público com antecipação. Por outro lado, isso diminui a circulação espontânea de gente pelas ruas. Há dez anos, as pessoas iam ao Centro, a Olinda, ao Pina, viam o que estava rolando, escolhiam em qual festa ficar, mas acabavam por acompanhar as outras, ter conhecimento delas. Sabendo pela internet o que vai acontecer, você decide antes se sai de casa ou não. Isso esfria um pouco a cena”, avalia Saulo Bernardino, baixista da Monomotores. Eles dividiram a noite de lançamento com Cosmo Grão, Diablo Motor, Vamoz! e o DJ Nicola Sultanum, além dos ilustradores Kin Noise, Peter, Mandíbula Ink e Neilton Carvalho, que expuseram obras com atmosfera rock no local.

“Torcemos para que os festivais independentes tenham vida longa, precisamos disso. Nos anos 1990, época de maior visibilidade e investimento para o rock, surgiram o Abril Pro Rock, PE no Rock, Rec-Beat. Hoje, na noite recifense, o cover tem mais espaço que o autoral. E o irônico é que muitas das bandas reproduzidas nesses projetos, como Los Hermanos, Planet Hemp e Raimundos, foram diretamente influenciadas pelo rock pernambucano”, diz Neilton Carvalho, artista visual e guitarrista do Devotos há 28 anos - são dele as capas dos oito discos lançados pelo grupo.

Neilton vê a cena como órfã de espaços de referência, pontos de encontro regulares. Filipe Cabral, vocalista da Diablo Motor, endossa: “Ninguém mais suporta ficar sem tocar no Recife, ou tocar em condições ruins. Foi como surgiu a necessidade de nos reunirmos e planejarmos tudo o que deveria compor um minifestival que respeitasse os artistas de rock locais”, diz, em relação ao Treta Fest. Thiago Sabino, baterista da banda, está à frente da organização do evento, co-produzido pelos músicos e ilustradores participantes.

Mandíbula INK, Neilton e Kin assinam ilustrações inspiradas no rock. Fotos: Divulgação
Mandíbula INK, Neilton e Kin assinam ilustrações inspiradas no rock. Fotos: Divulgação

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“Não é que os covers não tenham seu mérito, mas a predominância desse tipo de trabalho sobre o autoral deixa a sensação de que não temos nosso próprio trabalho, nosso mérito. E nós temos. Pernambuco tem uma movimentação gigantesca entre o público de rock. Entre as bandas, existem aquelas voltadas ao indie, ao mainstream e ao underground. O Devotos participou disso nos anos 1980 e 1990, o underground verdadeiro, e sempre tentou misturar os três setores. Mas, ainda há muitos ignorando ou desmerecendo os nichos diferentes do seu. Isso enfraquece a cena rock de modo geral. Muitos acham que não devemos nos ‘misturar’, no sentido pejorativo. Nós discordamos. O Devotos, há quase 30 anos em atividade, aprendeu a não precisar de rótulos, limitações.” (Neilton Carvalho, artista visual e guitarrista da Devotos)

“Há mais gente produzindo. Mas sentimos falta de mais festivais. Usamos as redes sociais, produzimos eventos independentes, financiamos as produções. No fim dos anos 1990, início dos anos 2000, tínhamos mais eventos dedicados ao gênero, como o Microfonia, no qual a Monomotores se lançou, vencendo a competição. Johnny Hooker, por exemplo, participou daquele festival. O Monomotores tocou no Abril Pro Rock de 2007, esse era um dos prêmios. Esse tipo de espaço, incentivo, mantém a cena ativa. É fundamental.” (Saulo Bernardino, baixista da Monomotores)

Monomotores lançou disco de inéditas, o primeiro do grupo, com dez faixas inéditas. Foto: Facebook/Reprodução
Monomotores lançou disco de inéditas, o primeiro do grupo, com dez faixas inéditas. Foto: Facebook/Reprodução
“No Recife, ainda falta bastante coisa. As casas de show fecham as portas em poucos anos, algumas em poucos meses. Mas ainda há espaço. Tem muita coisa de qualidade acontecendo. Somente no Cabo de Santo Agostinho, 30 bandas ativas estão produzindo rock, coisas novas. Precisamos de mais festivais independentes, amadores. Muitos grupos precisam se profissionalizar, se levar mais a sério. O público precisa acreditar na própria cena.” (Kin Noise, ilustrador)

“Nos últimos anos, o pequeno espaço do rock despencou ainda mais. Acreditamos, porém, que esse quadro não se trata de reflexo do público local, que, no quesito rock, se comporta e frequenta eventos de forma bem diferente em relação a outros estados do país, mas da redução de grupos do gênero que se profissionalizem, construam carreira sólida, se mantenham relevantes na cidade. Apesar disso, parece que o sentimento de ‘volta do rock’ tem tomado conta das pessoas, especialmente se considerarmos o surgimento de ótimas bandas em shows de talentos de grandes emissoras de TV, como a Scalene e a Plutão Já Foi Planeta. Podemos estar enganados, esperamos que não, mas sentimos que algo de bom está para acontecer na cena rock.” (Filipe Cabral, Diablo Motor)

>> NOVIDADES

Monomotores (Independente, disponível por streaming)
Com gravação concluída em 2012, o álbum de estreia da Monomotores chega agora ao mercado, disponível nas plataformas digitais. São dez faixas autorais, entre Pausa pro cigarro, Ela é meiga e O rock levou minha alma, influenciadas por nomes do rock nacional e internacional, como Raul Seixas e AC/DC. O último show do grupo foi há sete anos, na Torre Malakoff. Marcos Lau, Victor Poggi, Saulo Bernardino e Pedro Gouveia compõem a formação atual. “É um rock direto, despojado, tem um pouco de humor”, classifica o baixista Saulo.

Will2Kill (Independente, valor ainda não definido)
O EP de estreia do grupo formado por Wilfred Gadêlha, Hugo Medeiros, Eddie Cheever e Daniel Araújo Melo, homônimo, reúne três faixas: Will to kill, Empire of ignorance e Cause for alarm. A capa mostra imagem impactante da fotógrafa Annaclarice Almeida, editora de fotografia do Diario, trabalhada pelo designer Alcides Burn. O EP foi produzido por Mathias Severien Canuto, guitarrista do grupo pernambucano Desalma Brasil. Igor Capozzoli e Renato Correia (Desalma), Rogério Mendes (ex-Decomposed God e Sanctifier), Alcides Burn (Inner Demons Rise) e Rodrigo Costa estão entre as participações especiais.



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