Cinema Carolina Dieckman fala sobre cena de estupro presente em filme exibido no Festival de Gramado Dirigido por Marco Dutra, O Silêncio do Céu foi exibido na programação na noite de domingo e entra em cartaz nos cinemas no dia 22 de setembro

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/08/2016 13:41 Atualizado em: 29/08/2016 13:50

Atriz participou de entrevista coletiva na manhã seguinte e falou sobre o desafio de atuar em espanhol (Cleiton Thiele/ Pressphoto/ Divulgação)
Atriz participou de entrevista coletiva na manhã seguinte e falou sobre o desafio de atuar em espanhol
 
A brutalidade de um estupro, logo na primeira cena, é o ponto de partida em torno do qual é construído o suspense O silêncio do céu, do cineasta paulista Marco Dutra, exibido na noite de domingo no Festival de Gramado. O impacto da violência contra a personagem interpretada por Carolina Dieckmann  provoca uma tensão que atravessa todo o filme e revela complexas camadas das relações humanas.

"É também uma questão política", opinou a atriz a respeito do tema da violência de gênero, que está em evidência no Brasil atualmente por causa da crescente repercussão de notícias sobre estupros em diferentes cidades. "Ao levantar uma discussão através da arte, a gente atinge um assunto que as pessoas têm sentido necessidade de discutir", disse Carolina em entrevista coletiva cedida na manhã seguinte à exibição do filme.

"É um assunto muito duro. A gente trouxe para o filme a ideia de como é difícil falar sobre isso", explicou o diretor Marco Dutra, que antes havia exercitado o gênero do terror em Trabalhar cansa (2011) e Quando eu era vivo (2014). O silêncio do casal de protagonistas após a sequência inicial é um dos eixos do filme. O crime é presenciado pelo marido da personagem, que sente medo quando vê a situação e resolve ficar escondido. Depois, ele finge que não viu nada, enquanto ela também prefere não denunciar o caso à polícia e não conversar com o companheiro sobre o que aconteceu. Ao mesmo tempo em que respeita o direito dela de não mencionar o assunto, o homem inicia uma investigação para descobrir quem eram os dois estupradores.

"Esse marido também tem um constante comportamento violento em relação a essa mulher, que também tem muito a ver com a questão da violência de gênero pela maneira como ele molda esse relacionamento até chegar a um ponto da impossibilidade da comunicação", observou o roteirista Caetano Gotardo.

"Eu tenho interesse pelo drama e por mostrar aquilo da maneira mais crua possível", complementou a atriz. Para ela, O silêncio do céu "é um projeto especial porque dá uma possibilidade dramática profunda, forte e intensa".

O filme é ambientado em Montevidéu e a maioria dos diálogos é falada em espanhol. "Fazer as sensações ganharem sentido é difícil quando você fala em uma língua de que você não tem conhecimento profundo. Foi o trabalho mais difícil que eu já fiz nesse sentido", confessou Carolina. O marido dela é interpretado pelo ator argentino Leonardo Sbaraglia (presente no elenco de Relatos selvagens).


Ao apresentar O silêncio do céu no palco do festival, Marco Dutra chamou atenção para a total ausência de mulheres na direção dos longas-metragens brasileiros selecionados para o Festival de Gramado em 2016.
Mulheres que vivem situações de dor intensa por causa de ações dos homens também foram temas abordados pelos curtas-metragens paulistas Lúcida (SP), de Caroline Neves e Fabio Rodrigo, e A página, de Guilherme Andrade, exibidos antes do longa.

Na mesma noite, o festival Cine PE, realizado no Recife, foi homenageado pelo Festival de Gramado pelos 20 anos de atividades. Pessoas da plateia gritaram Fora Temer no momento da homenagem, já que o evento pernambucano sempre foi organizado por Alfredo Bertini, nomeado pelo governo interino como secretário nacional do audiovisual.

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