Artes visuais Artista pernambucana Dani Acioli expõe desenhos inspirados em Zuzu Angel Mostra Trama - Diálogos com Zuzu traz desenhos e trabalhos com renda renascença

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 26/07/2016 08:21 Atualizado em: 26/07/2016 09:04

Exposição de Dani Acioli vai passar um mês em cartaz no Rio de Janeiro. Crédito: Helder Ferrer/Divulgação
Exposição de Dani Acioli vai passar um mês em cartaz no Rio de Janeiro. Crédito: Helder Ferrer/Divulgação

As histórias de vida da jornalista e artista plástica pernambucana Dani Acioli e da estilista Zuzu Angel (1921-1976) se cruzaram a partir de um convite inesperado e, ao mesmo tempo, difícil de recusar. A partir dele, Dani se embebeu do universo estético e da luta incansável da mineira que vestiu a alta sociedade carioca para produzir a exposição Trama - Diálogos com Zuzu, que fica em cartaz no espaço Galerio, em Botafogo, no Rio de Janeiro até o fim de agosto.

A mostra é uma parceria da Prefeitura do Rio de Janeiro com o EixoRio e o Instituto Zuzu Angel e a iniciativa colocou Dani em um lugar ainda não experimentado: o de produzir por meio de uma motivação exterior. Ela já estava em atividade com os desenhos e havia desenhado a coleção de roupas Para Tarsila, com referências diretas à pintora Tarsila do Amaral. "Estava com muita vontade de encontrar uma nova história, aprofundar temas femininos, coisa que sempre gostei muito de fazer. Estava pensando em quem poderia ser ou sobre como criar e o convite para a mostra surgiu nesse contexto. Desde o começo, estive totalmente livre para criar como queria”.

 A vida de Zuzu - crítica ferrenha da ditadura militar e que sempre cobrou publicamente respostas sobre o paradeiro do filho, o desaparecido político  Stuart Angel -  impulsionou a realização de 13 trabalhos pela artista plástica. A exposição também vai marcar o lançamento do prêmio Viés da Moda 2016, que homenageia justamente Zuzu Angel, cuja morte, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas, completou 40 anos em abril.

Desenhos de Dani Acioli trazem para o desenho a experiência de talhar como arte. Crédito: Helder Ferrer/Divulgação
Desenhos de Dani Acioli trazem para o desenho a experiência de talhar como arte. Crédito: Helder Ferrer/Divulgação

Além dos desenhos com nanquim e caneta posca, linguagem explorada há mais tempo pela artista, a galeria também vai receber um quadro feito de renda renascença e uma foto na qual ela veste um tecido tingido por ela própria, com água sanitária. "Durante o tempo de execução do trabalho, tive uma afinidade muito maior com a trajetória da pessoa Zuzu Angel do que por suas criações em moda, embora haja uma ligação natural por ela ter sido uma apaixonada pelo Nordeste e eu seja de Pernambuco”, detalha Dani.

Nos desenhos, Dani traz como técnica uma espécie de talha sobre o papel amarelo que ela escolheu para suporte. A ideia de ciclo, tão familiar ao feminino, se faz presente de forma sutil nas obras da exposição. “Penso muito o desenho no negativo, no que vão sendo as linhas de preenchimento. Ele vai se construindo durante o tempo de trabalho e revela algo não sabido nem por mim. Geralmente, o ponto de partida é a palavra, mesmo ela não estando diretamente no trabalho. Gosto de construir narrativas. Aqui, o elemento dor foi muito forte. Por isso, a exposição tem a presença das tramas como marcação de tempo, como resiliência, nascimento, morte. Me liguei muito mais a isso, como feminista em descoberta de quem sou e onde estou neste momento", afirma a artista plástica.

+QUEM FOI ZUZU ANGEL

Zuleika de Souza Netto, nascida em Curvelo, Minas Gerais, se estabeleceu no Rio de Janeiro após a juventude e seu trabalho foi inovador por trazer de forma criativa elementos brasileiros para a moda dos anos 50, 60 e 70. Rendas, estampas, motivos tropicais se tornaram o DNA de seu trabalho. A estilista se casou com o americano Norman Angel Jones e teve dois filhos: o militante político Stuart Angel (1946-1971) e a jornalista Hildegard Angel. Stuart foi preso, torturado e morto durante a ditadura militar e, a partir daí, a vida de Zuzu Angel se direcionou para denunciar a situação no Brasil e no exterior. Suas roupas passaram a ter outro tom: anjos feridos e estampas bélicas se tornaram um testemunho de sua dor como mãe. Sua busca pelo filho só acabou com sua morte, em um mal explicado acidente de carro em um túnel do Rio de Janeiro, em 1976.

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