Academia da Berlinda lança disco Nada Sem Ela: 'o público decide quem ela é'

“Ela”, enquanto entidade feminina, pode ser a música, a natureza, uma estrela, uma personagem, uma mulher. A interpretação do título do novo disco da banda olindense Academia da Berlinda, Nada sem ela (Independente, download gratuito), cabe ao público. E os músicos fazem questão de deixá-la em aberto. “Quando composta, a canção que dá nome ao álbum se referia à água, era o que tínhamos em mente, estávamos imersos na natureza. Mas se trata do feminino em geral. Desde o começo, soubemos que seria natural a associação com a figura de uma mulher. O público decide quem 'ela' é”, explica o vocalista e baixista Yuri Rabid.

Confira o roteiro de shows do Divirta-se

Ele, Alexandre Urêa (voz e timbales), Gabriel Melo (guitarra), Tiné (voz, pandeiro e maraca), Irandê César (bateria e percussão), Hugo Gila (Microkorg) e Tom Rocha (percussão e bateria) se reuniram na casa de Rabid, em sítio na Zona Rural de Olinda, Região Metropolitana do Recife, em março de 2015, para dar início ao processo de pré-produção do novo CD. Os instrumentos na varanda, a captação de som e o fluxo criativo dos músicos são retratados em teasers divulgados nas últimas semanas no YouTube, revelando bastidores do projeto e da influência do ambiente bucólico.

O disco foi disponibilizado para download gratuito (através do site da banda e da página oficial no Facebook) no dia 1º deste mês, e será comercializado em formato físico, com valor ainda não definido, durante os shows de lançamento em capitais brasileiras. As primeiras apresentações ocorrem nos próximos dias 29 e 30, no Sesc Pompeia, em São Paulo. No Recife, Academia da Berlinda deve subir ao palco em agosto ou setembro, durante turnê de divulgação.

Nada sem ela compila 14 das mais de 20 músicas compostas pelo grupo desde o último disco, Olindance (2011), com captação e mixagem de Fumato Snaidefight e Adriano Duprat, técnicos de som da banda. As faixas não aproveitadas no momento serão guardadas para produções futuras - uma delas será lançada em breve, em formato de single independente. Em relação aos gêneros musicais, a Academia prefere não classificar o novo disco, mas antecipa que se trata, provavelmente, de seu mais ousado em relação a melodia e arranjos.

“Tivemos oportunidade de explorar outras vertentes rítmicas e melódicas. Buscamos atingir mais gêneros. Deixamos as definições com o público, com quem recebe a música”, explica Rabid. “Quando a gente pensa em fazer música, pensamos de outra forma. Muita gente pensa em fazer um disco mais intimista, mais radiofônico, mais percussivo… nós não pensamos nisso, vamos fazendo e depois avaliamos a forma que ele adquiriu. É como um artista pintando um quadro, ele vai fazendo e não há forma definida, mas pode ter vários significados”, compara. Lia de Itamaracá, Otto, Lula Lira, Fábio Trummer e Rapha B. participam do projeto recém-lançado.

Desde o álbum de estreia, Academia da Berlinda (2007), o amadurecimento técnico e o entrosamento entre os músicos são apontados pelos integrantes como os principais ganhos ofertados ao público no novo trabalho. “É natural. São 12 anos de banda, com a mesma formação desde o princípio. Você acaba criando uma identidade, sem falar na afinidade, na sintonia. No palco, nós olhamos um para o outro e já sabemos o que falta, o que um está esperando, o que devemos fazer. Nas gravações também funciona assim”, conta o baixista e vocalista. “Um disco é como um raio-x da banda naquele momento. Esse fala muito sobre nós, sobre nossa fase atual”, conclui.

>> DUAS PERGUNTAS: Yuri Rabid, vocalista e baixista

Já tiveram algum tipo de feedback? Como analisam o resultado final do trabalho?
Ninguém ouviu ainda, a não ser nossas esposas. Estamos na expectativa de saber como o público vai receber. Por mais que a gente espere algo, a resposta do público sempre é muito importante e surpreendente. Nos primeiros discos, por exemplo, havia músicas em que nós apostavamos todas as fichas. E essas músicas simplesmente não ‘aconteceram.’ Outras, como Ivete, do primeiro disco, não iriam entrar no repertório… Terminamos nos surpreendendo, a música estourou, é uma das mais populares. Quem dá a resposta final é o público.

A produção independente é característica da Academia da Berlinda. Quais as vantagens? Quais os desafios?
É importante falar sobre isso, sobre o processo de produção independente. Parece fazer um tempão que começamos a pré-produzir o disco, por exemplo, mas é isso mesmo, é assim que funciona. Quando se fala em produção independente, o tempo corre de forma diferente. Esse disco foi feito exclusivamente com dinheiro de shows, é preciso fazer shows, juntar dinheiro, pagar os músicos, custear a produção… isso requer tempo. Tudo depende de nós. Mas, com certeza, ao mesmo tempo, nós temos tempo bastante para maturar nossas ideias. Às vezes, uma banda que tem uma gravadora não tem essa liberdade. É como uma agência de publicidade que brigasse o tempo todo por prazos e metas. Antigamente, cada artista tinha que gravar no mínimo um disco por ano. Muitas vezes eles tinham a turnê de lançamento e, quando acabavam as viagens, ja restava pouquíssimo tempo para o próximo disco. E muitas vezes a coisa não sai como você queria, sai muito verde, porque não há tempo para pensar em outras possibilidades, outras oportunidades de criar, inovar. Nao que quiséssemos passar tanto tempo sem lançar um disco inédito, vale ressaltar. O último foi em 2011. Mas, sim, a independência e o amadurecimento foram fundamentais nesse intervalo.