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Música Vinte anos após álbum de estreia da Mestre Ambrósio, Helder Vasconcelos lança disco solo Músico pernambucano deixou a banda, ícône do movimento mangue dos anos 1990, há 12 anos, se dedicando à dança e ao teatro desde então

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 19/06/2016 16:20 Atualizado em: 14/06/2016 19:43

Helder Vasconcelos lança primeiro disco solo, 12 anos após deixar a Mestre Ambrósio. Foto: Ricardo Moura/Divulgação
Helder Vasconcelos lança primeiro disco solo, 12 anos após deixar a Mestre Ambrósio. Foto: Ricardo Moura/Divulgação

Percussão e sopro do maracatu rural se combinam à melodia circular da valsa em Sambador, música que dá título ao primeiro disco solo do pernambucano Helder Vasconcelos, lançado nesta semana. Cuidadosa, a associação pouco provável de ritmos marca o retorno de um dos fundadores da Mestre Ambrósio - referência no movimento mangue dos anos 1990 em Pernambuco - à cena musical. Em oito faixas inéditas, Helder se equilibra entre o experimentalismo sonoro, o preciosismo dos versos e métricas e, ainda, a ode às raízes do cavalo marinho e do maracatu rural - nortes para os quais mais se inclina, conscientemente.

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“Essa influência percorre tudo o que faço, pois o cavalo marinho e o maracatu são minhas origens, minha escola. É a esses elementos que eu credito minha formação artística, não há como nem por que não abraçá-los”, diz o músico, forjado entre as tradições populares da Zona da Mata pernambucana. Sozinho em campo desde 2004, Helder Vasconcelos conclui, com o lançamento do disco, trilogia de espetáculos dedicados ao teatro, à dança e, por fim, à música, iniciada naquele ano. Espiral brinquedo meu, montagem teatral concebida há 12 anos, deu origem à trama, reunindo ritmos, figuras e canções do folclore nordestino. Em 2007, o espetáculo de dança Por si só deu sequência ao trabalho de investigação multiartística do pernambucano, concluído neste mês com Sambador (Independente, R$ 20), viabilizado por financiamento colaborativo.

Helder usa fole de oito baixos e instrumento digital em formato de tapete no palco. Foto: Ricardo Moura/Divulgação
Helder usa fole de oito baixos e instrumento digital em formato de tapete no palco. Foto: Ricardo Moura/Divulgação
“O disco compila rascunhos feitos em diferentes épocas. Quando decidi lançar novo álbum, eu sabia que precisava dar mais atenção às letras, e depois adequar a melodia às composições. Eu queria versos fáceis de cantar, não necessariamente simplistas”, explica Helder, que assina todas as faixas, melodias e arranjos. A linearidade do projeto (gravado em parceria com Marco França e Johann Brehmer, produtores do CD), portanto, está mais nos versos que no som. Sem marcação ou arranjos estreitamente comuns a todas as canções, Sambador será apresentado ao público no espetáculo solo Eu sou, entre os dias 17 e 19 deste mês, em São Paulo. Com direção do músico e ator Marco França, o pernambucano entra em cena com fole de oito baixos e instrumento digital em formato de tapete - sobre o qual Helder se movimenta, emitindo sons com os pés.

O intervalo de 12 anos entre a saída da Mestre Ambrósio e o retorno ao circuito musical com Sambador (com participação especial de Renata Rosa, Walter Areia, Laura Tamiana e Poliana Savegnago) se deve, segundo Helder, ao processo de busca - e saciedade - pessoal em torno das artes cênicas. “No Mestre Ambrósio, eu já era dançarino, ator. Mas precisava criar projetos nas artes cênicas, concretizar meus pensamentos e afinidades com essas vertentes”, explica. Em cartaz no Sesc Pompeia, em São Paulo, até o próximo domingo, ele reúne as três etapas da trajetória solo - Espiral brinquedo meu (teatro), Por si só (dança) e Sambador (música) - durante a Ocupação Helder Vasconcelos, dedicada à sua obra. Ainda não há data para show de lançamento do novo disco no Recife.

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Helder repassa lições do maracatu e do cavalo marinho em oficinas instrutivas. Foto: Ricardo Moura/Divulgação
Helder repassa lições do maracatu e do cavalo marinho em oficinas instrutivas. Foto: Ricardo Moura/Divulgação
Desafio

“Para a criação do novo espetáculo, o desafio maior foi querer com ele voltar ao circuito musical, que tem uma forma muito consolidada de funcionar. A pergunta-chave era como fazer algo que fosse um espetáculo cênico e que também atendesse às expectativas de quem saísse de casa pra ver um show de música.”

Solo
“É meu primeiro disco solo. Mas não gravei ele sozinho. Marco [França] e Johann [Brehmer] produziram o álbum e tocaram comigo. Nós fizemos tudo juntos. Tive a participação de Renata Rosa (voz), Areia (baixo acústico), Laura Tamiana (coro) e Poliana Savegnago (coro). Foram aproximadamente nove meses de concepção e produção, embora eu esteja amadurecendo o projeto há dois anos.”

Lições
“O viés educativo do meu trabalho envolve palestras e oficinas, nas quais eu transmito os princípios do maracatu e do cavalo marinho. A repetição criativa é um dos princípios fundamentais, envolve a repetição de poucos elementos sonoros que podem se estender por uma noite inteira sem cansar o público. Essa repetição gera uma renovação de energias, que é outro princípio dessas manifestações. Há, ainda, o da pulsação: é preciso estabelecer uma relação direta e precisa com a pulsação.”

Letras
“Ao conceber o disco, decidi que ele não seria dedicado exclusivamente à música instrumental, nem ao experimentalismo exagerado. Eu precisava de composições fortes, bem boladas, com versos fáceis de decorar e cantar. Adequei as melodias a essas letras, porque elas eram a minha prioridade.”

Intersecção
“Durante os últimos 12 anos, percorri caminhos próprios das artes cênicas. Produzi teatro, dança, atuei no cinema, continuei ligado à música… Não faço distinção entre essas artes. Tento associá-las, somar umas às outras. O cerne é meu impulso criativo interior.”



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