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Música O Rappa homenageia o Recife e Francisco Brennand em novo DVD. Confira entrevista Recém-lançado, projeto foi gravado na capital pernambucana, na Oficina de Cerâmica Francisco Brennand e em passeio pelo Capibaribe

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 08/06/2016 08:48 Atualizado em: 08/06/2016 01:36

O Rappa gravou no Recife durante dois dias e fez show na oficina de cerâmica de Brennand. Foto: Guto Costa/Divulgação
O Rappa gravou no Recife durante dois dias e fez show na oficina de cerâmica de Brennand. Foto: Guto Costa/Divulgação

São Paulo - Com contornos de longa musical, os recém-lançados CD e DVD O Rappa - Acústico Oficina Francisco Brennand se destina, muito antes de expor show no formato eletroacústico, a estabelecer relação entre as artes plásticas do pernambucano Francisco Brennand e a produção musical do grupo formado nos anos 1990. Dirigido pelo cineasta recifense Lírio Ferreira (Baile perfumado) e gravado em novembro passado, durante o amanhecer e o entardecer de dois dias, o filme ganha tons bucólicos que ressaltam o misticismo em torno de Brennand e suavizam a mistura de rock, rap e reggae da banda liderada por Marcelo Falcão - sem que se perca a tenacidade que arregimentou seus fãs.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

“Brennand não nos conhecia. Tivemos ajuda da filha e da neta dele para convencê-lo a nos deixar adentrar aquele espaço sagrado e gravar nosso show ali. É provável que 99% do nosso público também não conheça Brennand. A missão desse projeto é ligar nossa obra à dele”, explica o guitarrista Xandão, de quem partiu a ideia de ambientar as filmagens na Oficina de Cerâmica Francisco Brennand, na Várzea, Zona Leste do Recife.

Brennand fala sobre a relação entre música e artes plásticas, e seus depoimentos costuram o DVD. Foto: Guto Rosas/Divulgação
Brennand fala sobre a relação entre música e artes plásticas, e seus depoimentos costuram o DVD. Foto: Guto Rosas/Divulgação
Inicialmente não planejadas, são as falas do artista plástico que costuram as cenas do DVD: os músicos conversam no interior da van, exploram as locações, tocam durante passeio de catamarã pelo rio Capibaribe e, ápice da gravação, se apresentam para fãs em show acústico na oficina. “Ele é uma entidade sagrada. Não contávamos com a participação dele, já nos dávamos por satisfeitos com a autorização para invadir aquele ambiente. Ele mesmo decidiu falar, e Lírio percebeu que os depoimentos de Brennand estavam sincronizados com os diferentes momentos do DVD, tinham relação direta. Não combinamos, simplesmente deu certo”, revela Falcão, que aparece emocionado no vídeo, ao conhecer o ceramista - de quem recebeu um cinzeiro de presente.

“Alguém muito inteligente disse que a vida sem música seria um exílio”, pontua Francisco Brennand numa das passagens. O ensejo permite ao grupo citar, em conversas informais combinadas a filmagens aéreas do Centro da capital pernambucana, inspirações regionais para a carreira d’O Rappa. Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna são citados como referências, deslindando a relação entre a banda formada no Rio de Janeiro e a cena pernambucana.

“A música que fazemos desde a década de 1990 tem muito a ver com a música nordestina, com o que é feito em Pernambuco. O manguebeat, por exemplo, está diretamente ligado à comunidade de Peixinhos, nasceu na periferia. Lá no Rio, nós fomos os primeiros a tocar na comunidade de Vigário Geral após a chacina de 1993. Tanto Peixinhos quanto Vigário nos estenderam a mão, está tudo relacionado”, diz Falcão.

O show entre as esculturas de Brennand reuniu fãs na capital pernambucana. Foto: Guto Rosas/Divulgação
O show entre as esculturas de Brennand reuniu fãs na capital pernambucana. Foto: Guto Rosas/Divulgação
Junto a Xandão (guitarra), Lobato (teclado) e Lauro (baixo), o vocalista decidiu ambientar projeto audiovisual no Recife como homenagem aos ídolos e retribuição a fãs. “Fizemos um show às 3h da madrugada, no Marco Zero, no carnaval do ano passado. Nos impressionamos com a energia da multidão àquela altura da noite, e decidimos que precisávamos retribuir”, conta Falcão, que recorda, ainda, as participações da banda no festival recifense Abril Pro Rock, no início da trajetória d’O Rappa, há cerca de 20 anos.

Nas lojas desde o último dia 3, CD (Warner Music, R$ 29,90) e DVD (Warner Music, R$ 34,90) homônimos têm participação do rapper cearense RAPadura, de Rafinha Bravoz, de João do Pife e Marcos do Pífano, além de Lula Queiroga e Silvério Pessoa - os dois últimos não sobem ao palco, mas acompanham o passeio de barco. Entre as 17 músicas do repertório, sendo quatro inéditas, se alternam os principais sucessos dos álbuns Sete vezes (2008) e Nunca tem fim (2013).

* A repórter viajou a convite da Warner Music

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Futuro

Imagens gravadas no show do carnaval deste ano, no Marco Zero, Bairro do Recife, foram inicialmente planejadas para o DVD lançado no último dia 3. Foram excluídas, porém, a fim de privilegiar as tomadas na Oficina de Cerâmica Ricardo Brennand e farão parte de projeto futuro ainda não revelado pela banda. Os músicos também cogitam a produção de um livro com curiosidades e composições.

Acústico
Para o guitarrista Xandão, embora muito explorado na música nacional nos últimos 20 anos, o formato acústico não está esgotado. Diferentes cenários rendem variações acústicas que, segundo ele, conferem ineditismo à proposta. “Esse não será nosso último álbum acústico, ainda vejo muitas possibilidades”, observa.

Falcão e Xandão, que fizeram show eletroacústico na oficina de cerâmica. Fotos: Guto Costa/Divulgação
Falcão e Xandão, que fizeram show eletroacústico na oficina de cerâmica. Fotos: Guto Costa/Divulgação
Show

A turnê O Rappa - Acústico Oficina Francisco Brennand estreia no dia 30 de setembro, em João Pessoa. O grupo se apresenta em Pernambuco no dia 1º de outubro, provavelmente no pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda. O show deve contemplar as 17 músicas exploradas no álbum, além de hits da carreira da banda.

Arte
“O que você tem feito que vai durar para sempre?”, questiona o vocalista Falcão. Segundo ele, o propósito do CD e DVD gravados na oficina de cerâmica é ofertar aos fãs uma obra perene, atemporal. “Queríamos produzir uma obra de arte, algo além de um show. Mesmo sem som, é possível contemplar as imagens. As pessoas querem ser famosas, mesmo que seja durante pouco tempo, de forma rápida. Precisamos de artistas que se preocupem em fazer coisas que vão durar para sempre”, explica.

Bastidores
A logística em torno da estrutura das gravações é explorada nas filmagens. Equipamentos de som, fios, amplificadores, montagem do palco, trajetos na van e transporte de material estão nas cenas dirigidas por Lírio, que também privilegia gravações dos músicos cantarolando e mantendo diálogos informais entre eles.

Imagem
“Dessa vez, aparecemos na capa do projeto. Nós sempre saímos de cena para que um signo maior passe a mensagem. Somos feiosos, essa não é nossa preocupação. Dessa vez, decidimos mostrar nossa cara, e isso já diz muito sobre o álbum. É um momento mais artístico, maduro, contemplativo”, revela Falcão.

Fãs
Marcelo Falcão diz sentir falta do contato direto dos fãs. O convite a fã-clubes para o show gravado na oficina de Francisco Brennand, segundo ele, proporcionou essa oportunidade. “Foi uma batalha entre fãs. Nós demos o convite e eles se deslocaram. Uns venderam carro, outros venderam bombons… Cada um teve uma história e, no fim, estavam todos ali”, conta o vocalista. Ele critica a geração das selfies e redes sociais. “Que mané selfie, me dá um abraço!”, brinca.

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