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Música Moraes Moreira canta Novos Baianos no Recife: 'Science tinha energia parecida com a nossa' Músico resgata fase da carreira junto ao grupo criado no fim dos anos 1960, em formato de voz e violão, com rabeca e literatura de cordel

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 03/06/2016 07:50 Atualizado em: 02/06/2016 16:06

Moraes Moreira revive fase no Novos Baianos em show no Recife. Foto: Divulgação
Moraes Moreira revive fase no Novos Baianos em show no Recife. Foto: Divulgação

Ao som da rabeca (a cargo do músico Marcos Moleta) e declamando versos de literatura de cordel, Moraes Moreira sobe ao palco do Teatro RioMar, na Zona Sul do Recife, nesta sexta-feira (03), às 21h, para resgatar o repertório dos Novos Baianos - grupo do qual fez parte entre 1969 e 1975. A influência pernambucana é evidente.

Além da rabeca e do cordel, Moreira homenageia o pernambucano Luiz Gonzaga - com os versos de O nordestino do século, escrito por ele - e deve, ainda, incluir frevos de bloco na apresentação. O show é inédito na cidade e o primeiro na região Nordeste. Em seguida, segue para Natal (RN), no dia 4, e Fortaleza (CE), no dia 5.

Confira o roteiro de shows do Divirta-se

“Decidi resgatar essa fase porque ela foi muito feliz. Sou autor de quase todas as músicas dos Novos Baianos, junto com o parceiro [Luiz] Galvão. Isso me dá propriedade para, além de cantar esses sucessos, contar as histórias por trás deles”, explica Moraes Moreira, que promete revelar curiosidades dos bastidores e causos engraçados dos anos 1960 e 1970. “Há, ainda, músicas que não chegamos a gravar, mas das quais eu me lembro. Vou cantá-las também”, conta.

Em relação à cena da música atual, Moraes Moreira cita Chico Science e Nação Zumbi como a movimentação cultural mais recente semelhante à criada pelos Novos Baianos. Ele defende que a classe artística deve se posicionar quanto ao cenário político dos dias atuais, ainda que nas entrelinhas, de forma estética, contrapondo as normatividades com figurino e postura contestadores.

No palco da turnê Moraes Moreira canta Novos Baianos, o álgum Acabou chorare - o segundo dos Novos Baianos, lançado em 1975 em formato LP -, será executado na íntegra por Moreira. Preta, pretinha, Brasil pandeiro, Besta é tu e A menina dança entram na lista. O cantor e compositor dedica a última parte do show à sua carreira solo - que, segundo ele, é mais diretamente influenciada pela música e cultura pernambucanas. “Gosto de compor e tocar em ritmo de maracatu. É algo que aprendi no Recife, frequentando o Pátio do Terço, no Centro da cidade, na Noite dos Tambores Silenciosos…”, recorda.

Em paralelo à música, Moares Moreira publica em setembro o livro de poemas Coração continente, a fim de dar vazão a seu lado cordelista. “São 70 poemas escritos nos últimos dois anos. São poemas, cantorias e cordéis”, explica o músico e autor. Pra o próximo ano, planeja o lançamento de disco de inéditas, sobre o qual deve se debruçar já no próximo semestre.

ENTREVISTA: Moraes Moreira, músico
"Nos nossos cabelos e nas nossas roupas, nós dizíamos tudo contra aquela ditadura."


No repertório, além de sucessos dos Novos Baianos, Moreira passeia pela carreira solo. Foto: Divulgação
No repertório, além de sucessos dos Novos Baianos, Moreira passeia pela carreira solo. Foto: Divulgação
Qual a influência da música pernambucana em sua carreira?

A influência pernambucana aparece mais no meu trabalho solo. Quando saí dos Novos Baianos, gravei algumas composições de frevo, esse ritmo tão importante. Eu queria algo de carnaval. O frevo me deu isso. Sou considerado o baiano mais pernambucano, sabia?

No próximo disco de inéditas, podemos esperar que essa influência seja mantida? Pensa em estreitar a relação entre sua produção e a música pernambucana?
Sim. Podemos esperar isso do próximo disco. O maracatu, por exemplo, tipicamente pernambucano, está muito presente no meu balaio de ritmos. Eu sou apaixonado pelo maracatu.

Percebe, no cenário da música atual, alguma movimentação semelhante a dos Novos Baianos nos anos 1960 e 1970? Sente isso hoje em dia?

Senti isso nos anos 1990. Quando eu vi Chico Science se lançar, identifiquei uma energia muito parecida com a dos Novos Baianos. Me lembro de ter pensado: “Agora, sim, eu vi uma coisa que me tocou, que tem a ver com a gente”, sabe? Eu sou muito fã do Chico e da Nação Zumbi, banda que continuou na ativa depois dele. Essa seria uma referência mais recente, semelhante àquela.

E sente falta de um movimento semelhante àquele? Como vê o papel da classe artística num momento de crise política e econômica no país?
Na época dos Novos Baianos, o Brasil estava em plena ditadura militar. E nossa maneira de participar daquele contexto foi estética. Nos nossos cabelos e nas nossas roupas, nós dizíamos tudo contra aquela ditadura. Nós nunca dissemos “abaixo à ditadura”, não de maneira panfletária. Mas, nas entrelinhas do meu trabalho, estou sempre dizendo o que penso sobre a política, sobre o Brasil. Sou, antes de tudo, um brasileiro fanático. Eu torço pelo Brasil. Se o país está passando por essas transformações, é porque vai sair melhor, mais fortalecido, mais ético. Tenho esperanças nisso.



SERVIÇO
Moraes Moreira canta Novos Baianos

Dia 3 de junho (sexta), às 21h
Teatro RioMar Recife: Av. República do Líbano, 251, 4º piso – RioMar Shopping
Quanto: R$ 40 (balcão nobre meia), R$ 80 (balcão nobre inteira), R$ 60 (plateia alta meia), R$ 120 (plateia alta inteira), R$ 70 (plateia baixa meia), R$ 140 (plateia baixa inteira)
Duração: 1h30 minutos
Classificação: Livre
Informações: 4003-1212



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