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Exposição
Exposição gratuita traça um panorama da arte visual brasileira
Mostra vai ocupar todos os andares do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam) e terá uma sala de vídeo
Publicado: 01/06/2016 às 18:19
Abertura da exposição também terá um debate entre Paulo Bruscky e o crítico de arte Adolfo Montejo Navas. Foto: Marcelo Soares/Esp. DP/

O acervo amealhado durante a vida inteira pelo artista visual Paulo Bruscky é, ao mesmo tempo, paraíso e labirinto. Em seu trabalho de quase 50 anos, período em que criou obras instigantes e provocadoras, ele aproveitou para agir como um garimpador de preciosidades da arte contemporânea do mundo inteiro e criou um arquivo com milhares de itens. A importância desta atuação é difícil de subestimar, especialmente em um país como o Brasil, onde a memória artística costuma ser precária, para dizer o mínimo. Uma parte específica desse acervo será mostrada ao público com a exposição História da poesia visual brasileira, cuja abertura ocorre às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), no bairro da Boa Vista.
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A mostra também faz justiça ao legado deixado pela poesia visual nacional, cujas discussão e análise ainda são feitas por poucos. No museu, serão mostrados cerca de 500 trabalhos de aproximadamente 200 artistas, com obras feitas desde o século 17. Isso inclui movimentos artísticos como a arte-correio, a poesia concreta, a poesia-práxis, o poema/processo, a poesia visual e experimental e a poesia sonora. Será exposto um material fartamente documental: livros, jornais, revistas, cartazes, filmes, catálogos e fotografias.
O grande objetivo da mostra é aproximar o público dessas formas expressivas que parte das pessoas deixou de conhecer. Essa também é a oportunidade de ver Paulo Bruscky exercitar a função de curador, ao organizar sentidos para um acervo tão caudaloso. O artista é ajudado nessa tarefa pelo filho, o músico Yuri Bruscky. “Queríamos construir uma curadoria que estivesse no contrafluxo da história da experimentação poética no Brasil. Também escolhemos experimentações isoladas que não fossem hegemônicas dentro da poesia concreta. O acervo deveria ser discernível, pois um movimento é muito imbricado ao outro”, afirma Paulo. “As pessoas tentam lidar com a linguagem por meio da ideia de literatura ‘tradicional’, mas mostramos outra forma”, complementa Yuri Bruscky.
Embora a ênfase da mostra seja a de mostrar obras a partir da segunda metade dos anos 1950, é preciso voltar um pouco mais no tempo para compreender de onde veio a fertilidade da poesia visual brasileira. Para isso, a dupla de curadores se debruçou sobre a obra de Gregório de Matos e de João Freire do Rosário, poeta dos anos 1700. O artista visual pernambucano Vicente do Rêgo Monteiro, sobre quem Bruscky escreveu um livro, também se aventurou na poesia visual com Concrétion, publicação de 1941.
A mostra vai ocupar todos os andares do museu e terá uma sala de vídeo, sala de áudio-poesia, com a voz de Oswald de Andrade, em um material raro. Até mesmo nomes conhecidos da poesia brasileira mais “tradicional”, como Paulo Leminski e Manuel Bandeira fizeram experimentações voltadas para a visualidade de seus poemas. Outro trunfo da exposição, patrocinada pelo Funcultura e pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), é mostrar a produção de poesia visual nordestina, além da obra de Vlademir Dias-Pino, renomado artista gráfico carioca nascido em 1927. “O trabalho dele, por exemplo, já antecipava a lógica binária do computador. Queremos mostrar a genialidade da produção brasileira e seu potencial fantástico”, conta, empolgado, Paulo Bruscky.
Serviço
História da poesia visual brasileira, com curadoria de Paulo Bruscky e Yuri Bruscky
Onde: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), na Rua da Aurora, 265, Boa Vista.
Quando: Abertura nesta quarta-feira (1º), às 19h
Visitação: Terça a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados e domingos, das 13h às 17h
Entrada gratuita
Informações: 3355-6870

Multimeios
Poesia visual
A poesia visual não precisa, necessariamente, da escrita para se definir como tal. Ela pode ser uma manifestação artística na qual os elementos visuais ou sonoros estão acima de uma organização tradicional do texto, seja no papel ou em algum outro suporte. Isto acontece, por exemplo, quando as palavras de um poema formam imagem específica, em um hibridismo das artes visuais com a poesia.
Colecionador
O acervo de Bruscky tem mais de 70 mil obras, incluindo o maior acervo de multimeios da América Latina, e ocupa dois imóveis, um no Torreão e outro na Boa Vista. Em 2004, a Bienal de São Paulo levou para o Parque do Ibirapuera todo o material guardado e o expôs como uma instalação, em uma sala especial. Procurado por pesquisadores, colecionadores e curadores do mundo inteiro, o acervo está no estado por interesse do artista. “O arquivo é uma vida. Você não pode vender sua vida”.
Debate
A abertura da exposição também terá um debate entre Paulo Bruscky e o crítico de arte Adolfo Montejo Navas, pesquisador renomado sobre a poética de vanguarda brasileira. Ambos vão receber o público para uma conversa sobre os movimentos brasileiros de poesia de vanguarda, com mediação de Yuri Bruscky, cocurador da mostra. Na ocasião, será lançado o livro Viva poesia, da extinta editora Cosac Naify. Também haverá uma oficina voltada para escolas públicas, para que os alunos produzam sua própria poesia visual.
Mais Bruscky
Em novembro deste ano, já está agendada outra exposição relacionada a Paulo Bruscky, mas, desta vez, será uma retrospectiva de toda a sua obra, marcada para acontecer na Caixa Cultural. Além da mostra propriamente dita, o artista promete realizar três performances ao longo da exposição.
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