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Coletivo Angu de Teatro estreia espetáculo Ossos, baseado em livro de Marcelino Freire
Peça consolida parceria com o ator e é a primeira do grupo que encena texto dramático
Publicado: 11/06/2016 às 10:02

Coro de urubus é elemento dramático que questiona o protagonista e faz a narrativa avançar. Crédito: Rafael Martins/Esp. D.P/D.A. Press/
Entre o escritor pernambucano e agora dramaturgo Marcelino Freire e o Coletivo Angu de Teatro existe um laço de afeto e parceria desde o início da década passada, quando o grupo de teatro estreou com a montagem de Angu de Sangue. Após treze anos, este relação se consolida ainda mais com a estreia de Ossos, primeira incursão tanto do escritor quanto do coletivo em um texto dramático. O resultado desse desafio para ambos estará em cartaz a partir de hoje, às 21h, no Teatro Apolo.
Assim como no livro Nossos Ossos, que deu origem ao texto da montagem, o centro da trama é a história do escritor Heleno de Gusmão, que procura entregar os restos mortais de seu amante à familia dele e, no meio do processo, faz um retorno à suas origens familiares e geográficas. No entanto, esta história não é apresentada de forma linear: memória, alucinação e realidade se misturam em ordem não cronológica. Um coro de urubus é mais um elemento dramático que apresenta os fatos de forma mais alegórica. Sertânia e São Paulo se alternam nas lembranças do protagonista, que faz as vezes de alterego do próprio Marcelino.
Ao longo do processo de criação do espetáculo, a familiaridade do Coletivo Angu com o estilo literário de Marcelino deu lugar a um processo de ajustes e descobertas. “O texto dramático permite licenças poéticas, mas ele é estruturado de forma a trazer elementos concretos e precisos, diferentemente dos contos do autor que encenamos anteriormente. Neles, havia uma lacuna na qual exercitávamos experimentações”, afirma Marcondes Lima que, além de atuar e dirigir, é reponsável pela direção de arte, cenografia e figurino da peça.
Ao longo do tratamento com o texto, o coletivo também viu a necessidade de trabalhar com atores convidados, além de integrantes do elenco fixo: Arilson Lopes, Ivo Barreto, André Brasileiro e Marcondes Lima - que, nas produções anteriores, ocupava a direção. Após uma oficina que funcionou como processo de seleção, os atores Daniel Barros e Robério Lucado foram selecionados. “Meu olhar é norteador, mas os atores estão sendo muito generosos. É muito interessante esta desmistificação do diretor como ser superior. Fico me policiando para não dirigir os outros quando estão em cena”, pontua o diretor.
No processo de ensaio, todos os seis atores trouxeram propostas para todos os personagens. Parte da iluminação também é manipulada por eles ao longo da duração do espetáculo. A música, composta por Juliano Holanda, também se torna elemento recorrente da narrativa, que incorpora o canto dos atores. “Quisemos criar um trabalho no qual o texto tivesse destaque, então preferimos investir no trabalho dos atores e na investigação textual. Ao mesmo tempo, a peça tem um pé no pop, o que já é uma característica do coletivo. Heleno de Gusmão enquanto autor e o coro de urubus são mostrados sem cor, mas as lembranças dele são muito coloridas. As referências são desse imaginário gay e do fato de Heleno não ter mais relações amorosas, apenas contato sexual com michês”, detalha Marcondes.
A ligação entre autor e grupo também se fortaleceu ao longo do período de ensaios. “Marcelino veio duas vezes acompanhar o processo: em 2015, quando fizemos uma leitura dramatizada, e em fevereiro deste ano, para ver um ensaio. Foi muito interessante, pois não temos o autor todo dia para esclarecer coisas. Neste texto, Marcelino toca numa coisa que eu não imaginaria: a espiritualidade, o metafísico. Enquanto fábula, a peça fala do amor, da falta de amor e do abismo que se estabelece com a presença da morte”, avalia o diretor.
SAIBA MAIS
%2b COLETIVO
O Coletivo Angu de Teatro surgiu em 2003 e, desde então, o grupo montou quatro espetáculos: Angu de Sangue, Rasif - mar que arrebenta, Ópera e Essa febre que não passa. Desses, os dois primeiros são adaptações de livros de contos escritos por Marcelino.
%2bLIVRO
O espetáculo Ossos é uma adaptação para teatro feita pelo próprio Marcelino Freire de seu livro Nossos ossos, lançado em 2013. A publicação é a primeira incursão do escritor pernambucano no gênero romance, e também conta a história do escritor Heleno de Gusmão. Nossos ossos ganhou o prêmio Machado de Assis 2014 de melhor romance pela Biblioteca Nacional e também foi publicado na Argentina e na França.
SERVIÇO
Ossos, do Coletivo Angu de Teatro
Estreia neste sábado, às 21h
Quando: Sextas, às 20h, sábados, às 18h e às 21h e aos domingos, às 19h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: 3355-3321
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