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Reconhecimento Autores pernambucanos conquisam primeiros lugares em prêmio da Flip André Balaio e Admaldo Matos foram, respectivamente, o primeiro e o segundo colocados na categoria conto

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/06/2016 11:09 Atualizado em: 21/06/2016 11:45

Balaio e Matos terão seus textos publicados em coletânea. Fotos: Arquivo pessoal e Nando Chiappetta/DP
Balaio e Matos terão seus textos publicados em coletânea. Fotos: Arquivo pessoal e Nando Chiappetta/DP

Dois pernambucanos, André Balaio e Admaldo Matos, garantiram, respectivamente, o primeiro e o segundo lugar do Prêmio Off Flip/Bibliomundi de Literatura, na categoria conto. A cerimônia de premiação será durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada no Rio de Janeiro entre os dias 29 de junho e 3 de julho. Foram premiados 13 autores, cinco na categoria conto, cinco em poesia e três no gênero infantojuvenil. Os premiados receberão R$ 30 mil no total, além de estadia em Paraty durante a Feira Literária e a publicação dos textos em coletâneas pelo selo Off Flip.

Natural da capital pernambucana, André Balaio é mais conhecido como autor de quadrinhos e pelo trabalho no site O Recife assombrado, dedicado a histórias de horror e causos sobrenaturais. “Foi uma surpresa, mandei sem esperar nada e já estava completamente esquecido”, diz Balaio sobre a notícia da premiação. O escritor acredita que o prêmio deve garantir maior visibilidade e facilitar a produção do primeiro livro de contos. “Tenho me dedicado mais, nos últimos anos, como autor de prosa, mas como sou muito crítico a respeito do que escrevo, ainda não tenho nada publicado”, diz, revelando que inclusive desejava modificar o texto premiado, O lado de lá.

Já o segundo lugar, o caruaruense Admaldo Matos, é um veterano. Ocupante da cadeira número 12 da Academia Pernambucana de Letras, Matos tem cinco romances e quatro coletâneas de contos publicados. O texto premiado, Boa-noite, Maria, estará também no seu próximo livro, ainda sem data de lançamento, em formato diferente. A história é contada em quatro contos, sendo três narrados sob a ótica de diferentes personagens e um último que encerra a trama. “Eu escrevo por diletantismo, então fico felicíssimo com a possibilidade de mais pessoas lerem algo meu”, afirma o escritor.

Confira trechos dos contos premiados


Quitéria olhava a réstia da luz da lua nos cabelos brancos de Felício enquanto tentava acalmar o juízo. Mas de que jeito? As ideias passavam pela porta, embolavam-se nos matos e atravessavam a cerca para o sítio do vizinho. Clementino era amigo do casal por décadas e costumava visitá-los para um pouco de prosa, uma xícara de chá e um pedaço de bolo. Ficara viúvo um ano antes e, desde então, estava muito diferente. Pedia água e a seguia até a cozinha, dizia coisas bonitas como na novela, tocava sua mão fina ao segurar o copo e a encarava feito cachorro com fome. Uma vez, foi só o marido ir ao banheiro para ele sussurrar, sou louco por você. Ela baixou os olhos. Que doidice, homem, perdeu o tino?

Trecho do conto O lado de lá, de André Balaio

Nos galpões reinava o silêncio. A maioria dos trabalhadores passava o sábado em casa; os operários trazidos da capital farreavam num povoado distante; uns poucos, que ficaram no acampamento, jogavam cartas no outro lado do pátio. Só restara a Artur, engenheiro-chefe, a companhia do vigia João Batista – mais conhecido por Gato –, que se esmerava em servi-lo. Ante os dois ardia pequena fogueira. De cócoras, olhos de felino, bigode ruivo, empunhando chapéu-de-couro e faca reluzente, Gato abanava o fogo, virava e revirava duas espigas de milho. Escanchado numa rede, de botas longas, roupa cáqui e casaco – para evitar constipações, como lhe prevenira a mãe na hora da partida – Artur se encorajou a fazer o pedido, há muito urdido mentalmente, mas nunca verbalizado.

Trecho do conto Boa-noite, Maria, de Admaldo Matos

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