Artes cênicas Trupe do Barulho comemora 25 anos com novo espetáculo que subverte os contos de fadas Allyce no País das Marabibas estreia neste sábado, no Teatro Valdemar de Oliveira

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 14/05/2016 10:32 Atualizado em: 14/05/2016 11:38

Allyce no País das Marabibas é espetáculo comemorativo de 25 anos da Trupe do Barulho. Crédito: Ricardo Fernandes/D.P./D.A. Press
Allyce no País das Marabibas é espetáculo comemorativo de 25 anos da Trupe do Barulho. Crédito: Ricardo Fernandes/D.P./D.A. Press


Um grupo de atores fez, há 25 anos, uma escolha que influenciou profundamente o teatro pernambucano a partir de então. A opção pela comédia popular se tornou uma faceta reconhecível dos palcos locais com o sucesso da Trupe do Barulho desde a estreia de Cinderela - a história que sua mãe não contou, em 1991. Após duas décadas e meia, a companhia continua em atividade e vai estrear hoje, no Teatro Valdemar de Oliveira, a peça comemorativa Allyce no País das Marabibas, cujo enredo volta a subverter as histórias infantis para maximizar a sua graça.

O texto de Fillipe Enndrio, que também é o protagonista, segue apostando em uma comédia ligada ao improviso, à música e ao falar de um povo pronto para rir de si mesmo. “Este foi um texto que escrevi há tempos atrás e o grupo se interessou em montar no fim do ano passado. O final foi escrito coletivamente e os nomes dos personagens foram modificados. A Rainha de Copas se tornou a Rainha de Paus, o Chapeleiro Maluco vira o Cachaceiro Maluco e assim sucessivamente”, afirma.

A Rainha de Copas se torna a Rainha de Paus e manda castrar todos os homens do reino e só Allyce, vinda direto do Alto José Bonifácio, pode pará-la, pois sabe de um segredo de Sua Majestade. Para isso, ela precisa ir ao País das Marabibas e viver as mais variadas aventuras. Além de Fillipe, o espetáculo conta mais seis atores: Aurino Xavier, na trupe desde sua fundação, Jô Ribeiro, o também diretor Thiago Ambrieel, Saulo Máximo, Carlos Mallcom e Ricardo Silva.

O diretor da montagem, Thiago Ambrieel, na trupe desde 2012, afirma que o espetáculo faz jus à proposta defendida pelo grupo nos últimos 25 anos, como ato de resistência e como homenagem à história da companhia “Nosso propósito é criar uma salada homogênea, se isso for possível. Na estética, a graça é misturar elementos da cultura de massa. Vamos ter músicas, coreografias e uma projeção interativa. As pessoas vêm ver um espetáculo nosso querendo a quebra das regras do teatro e da ‘quarta parede’. Os atores têm liberdade para improvisar”.

CINDERELA E A TRUPE DO BARULHO

Fato raro, a Trupe do Barulho se consolidou no imaginário do pernambucano com seu primeiro espetáculo, Cinderela - a história que sua mãe não contou. Após três apresentações na extinta boate Araras Dancing Bar, o grupo conseguiu pauta apenas para a meia-noite no Teatro Valdemar de Oliveira e agarrou a oportunidade. “Deu certo primeiramente pela curiosidade. A gente convidava os amigos e eles perguntavam, por ser de madrugada: ‘é sexo explicito’?”, lembra, com bom humor, o ator e diretor Jeison Wallace, que resume o efeito da personagem-título em sua vida. “Até hoje colho o sucesso do espetáculo. Me espanto, mas agradeço muito a Deus”.

Após a subversão teatral dos contos de fadas em Cinderela - que ficou quase dez anos ininterruptos em cartaz - outros espetáculos estrearam e a trupe passou por várias mudanças em seu elenco. Até agora, a companhia montou 16 peças, incluindo A casa de Bernarda e Alba (1995), com a impágável Banda Pão com Ovo, Deu a louca na história que sua mãe não contou (2000), As filhas da p… (2001), As três porquinhas (2005), As Criadas…mal criadas (2006 e 2014) e Chupa chupa show (2008), com o carismático personagem Chupingole, de Aurino Xavier.

De acordo com Luís Reis, professor de teatro da UFPE e autor do livro Cinderela - a história de um sucesso teatral dos anos 90, a trupe tem um papel catalisador para o pernambucano e o talento de seus integrantes deve ser respeitado e valorizado. “O teatro popular, historicamente, sempre foi visto com suspeição, mas o tempo prova que esses talentos resistem. A trupe contribuiu para reconfigurar a posição de setores da sociedade sem voz, e essa é uma atitude política. A Cinderela é um travesti negro e pobre, mas se tornou um personagem da mídia massiva, tudo com muita graça. Não há nada de pejorativo em ser comercial e atender os desejos da plateia”.

DEPOIMENTOS - INTEGRANTES E EX-INTEGRANTES DA TRUPE DO BARULHO

AURINO XAVIER (ator de Allyce no País das Marabibas e cofundador da Trupe do Barulho)
Entrei na Trupe no susto, quatro dias antes da estreia de Cinderela, e estou até hoje. A trupe não é de ninguém, é de quem quiser ficar. O compromisso de cada um é o de doar seus talentos. Lutamos por um estilo de trabalho, por uma comunicação direta com o público, mas as pessoas ainda têm preconceito, especialmente na classe artística e no ambiente acadêmico. Sempre trabalhamos com crítica social, porque o humor é um instrumento de reflexão

JÔ RIBEIRO (cortesã do reino em Cinderela e ator de Allyce no País das Marabibas)
Entrei na Trupe do Barulho bem no seu início e voltei após um período morando fora do Recife. A trupe, para mim, é vida, é não ter vergonha de ser feliz. O grupo criou uma escola de humor no Recife e, mesmo que algumas pessoas não gostem, ele provocou uma catarse no cenário teatral. A trupe é luta, garra e um amor incondicional pela arte.

FLÁVIO LUIZ (ator, fez uma das irmãs em Cinderela)
Dos meus 35 anos de carreira, 25 deles foram na trupe. Com Cinderela, conseguimos ir para a TV e para a rádio com esse formato, o que foi muito importante. Fiz A casa de Bernarda e Alba, Chupa chupa show, As malditas, As criadas As filhas da p… e atualmente estou na Oxe Mainha, companhia fundada por Jeison Wallace. O grupo foi fundamental para mim como ator e como espaço de resistência.

ROBERTO COSTA (Ator e produtor, fez a Fada Macumba em Cinderela e atuou no espetáculo As três porquinhas)
Antes da trupe, eu já era produtor teatral, mas a estreia de Cinderela foi um divisor de águas para a cidade e conseguiu atrair tanto o povo como a elite. O grupo começou como uma cooperatva de atores e, atualmente, se tornou uma empresa. Financeiramente, éramos muito bem pagos. Teve gente do elenco que comprou suas casas. Éramos reconhecidos nas ruas o tempo todo.

HENRIQUE CELIBI (dramaturgo, diretor, ator, figurinista e cenógrafo)
Sou dramaturgo graças à Trupe do Barulho. Após escrever A bicha burralheira, que deu origem a Cinderela, fiz o texto de A casa de Bernarda e Alba, Deu a louca na história que sua mãe não contou e As filhas da p… O grupo faz teatro mesmo sofrendo o preconceito de uma classe sem classe, mas as pessoas sabem o valor dele. Gostaria de citar Edilson Rygaard (1964-2003) [que fazia o príncipe em Cinderela]. Ele era um grande amigo e uma pessoa muito inteligente.

SERVIÇO
Allyce no País das Marabibas, da Trupe do Barulho
Quando: Sábados, às 20h e domingos, às 19h
Onde: Teatro Valdemar de Oliveira - Praça Oswaldo Cruz, 411, Boa Vista
Ingresso: R$ 20 (meia entrada para todos)
Informações: 3222-1200



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