Televisão Produções televisivas brasileiras desafiam o preconceito ao colocar transexuais em evidência Novela da Globo, três séries de canais da TV por assinatura e série pernambucana estão sendo desenvolvidas com diferentes abordagens sobre o tema

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/05/2016 18:41 Atualizado em: 26/05/2016 19:06

Robeyonce estrela o vídeo Primeiro de maio. Foto: YouTube/Reprodução
Robeyonce estrela o vídeo Primeiro de maio. Foto: YouTube/Reprodução

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais do mundo, segundo pesquisa deste ano da organização não governamental (ONG) Transgender Europe. Apesar de urgente, o debate sobre o enfrentamento ao preconceito em torno da orientação sexual ainda é um tema pouco explorado na TV, meio artístico de maior penetração na população. O assunto já é tratado com mais naturalidade na tevê nos Estados Unidos, a exemplo da abordagem em produções recentes e de sucesso, como as séries ficcional Transparent, da plataforma de streaming Amazon, e documental I am Cait, do canal E! Entertainment. Aos poucos, no entanto, o cenário nacional começa a mudar. E cinco produções em desenvolvimento já colocam o tema no lugar de protagonista - uma delas pernambucana.

Em tempos de debates fervorosos sobre estatuto da família e abordagem de orientação sexual nas escolas, a série pernambucana Mulher original se propõe a tratar de temas delicados, sobretudo, para o universo LGBT, como acesso a direitos humanos básicos, conflitos familiares, violência e entraves sociais. "As transexuais sempre são as mais excluídas. A sociedade marginaliza essas pessoas", ressalta o diretor, Carlota Pereira. A aceitação da identidade pelos parentes, o emprego do nome social, o uso de banheiro são temas transversais do programa. As gravações começam em outubro, sem previsão de estreia e de canal de exibição. A equipe, hoje dedicada à pesquisa, já elaborou dois vídeos sobre o assunto: Primeiro de maio, no qual a transexualidade é observada a partir do mercado de trabalho, e Por uma cidade onde as trans possam viver, sobre direitos humanos.

"É o melhor momento para se falar sobre isso. Elas precisam ser reconhecidas. A gente vive em um país machista, sexista e cheio de dogma religioso. O nosso objetivo é fazer com que enxerguem o universo sem preconceito", diz Carlota, sobre o decreto assinado pela presidente eleita, Dilma Rousseff, para permitir aos transexuais o uso do nome social nos documentos.

m abril de 2017, o Canal Brasil exibirá Transgente, produção com ares de documentário assinada por Adriana Dutra e Malu de Martimo, dedicada a acompanhar a mudança sexual em transgêneros. Etapas de aplicação de hormônios, cirurgia, pós-cirurgia e advento da nova identidade social conduzem os seis episódios. Segundo as cineastas, a intenção é fazer uma abordagem de "respeito e de maneira não invasiva".

"A televisão costuma retratar os transexuais de forma caricata, jocosa. Isso deve mudar brevemente, como já vem mudando fora do Brasil. Séries como Sense 8 e Orange is the new black mostram trans completamente inseridas no contexto da trama", analisa Adriana. Ainda na TV por assinatura, a HBO prepara série dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, sem previsão de estreia. Abrindo o armário e o coração terá oito episódios e acompanhará a história de homossexuais e transexuais no momento em que revelam a sexualidade. No GNT, a série Além do gênero, de João Jardim, abordará o assunto.

Para Adriana Dutra, a TV dobra a homofobia aos poucos. Já é mais comum ver personagens gays em novelas, por exemplo. Só para citar as mais recentes: Império, Babilônia, A regra do jogo e Amor à vida contaram histórias de homossexuais. Babilônia exibiu beijo lésbico no primeiro capítulo.

A transexualidade será tema da próxima novela de Glória Perez (Salve Jorge), intitulada À flor da pele, prevista para 2017. A autora está no processo de pesquisa da obra, que contará com atores transgêneros. "A transformação na TV norte-americana acaba encorajando a brasileira a abordar o tema. A TV brasileira sofre o esgotamento de temas conservadores. Glória Perez vai tratar do assunto. Meu programa tem transexual como apresentadora, que não é tratada de maneira exótica", aponta o recifense Fernando Oliveira, gay e apresentador do Estação plural, primeiro programa LGBT da TV brasileira.

Ao lado de Ellen Oléria, lésbica, e Mel Gonçalves, transexual, ele conduz o programa  às sextas-feiras na TV Brasil. Crítico de televisão, acredita que a transexualidade é a última barreira da sexualidade a ser rompida na TV. "Espero que o público esteja pronto para receber transgêneros. Eles não são ‘relevantes’ só no ambiente de prostituição ou em salão de beleza. Eles têm direito à vida como todos".

+Trans na TV

 

Transparent aborda a temática sob perspectiva familiar. Foto: Amazon/Divulgação
Transparent aborda a temática sob perspectiva familiar. Foto: Amazon/Divulgação
 Psi (HBO)
Além da modelo transexual Carol Marra (a Patrícia), a série teve o ator transexual Léo Moreira. Na trama, ele interpreta Renato, que entrou com um pedido para mudar os documentos. Ele se aproxima do psicólogo Carlos, que tem como paciente a promotora do caso, Taís, contrária ao pedido.

 

Novelas
Salve Jorge, novela da Globo exibida em 2011, contou com a atriz Maria Clara Spinelli na pele da transexual traficada Anita. Em 2009, a novela Vende-se um véu de noiva, transmitida pelo SBT, teve no elenco o transexual Fabianna Brazil, na pele de um travesti.

O ator transexual Léo Moreira participou de Psi. Foto: HBO/Divulgação
O ator transexual Léo Moreira participou de Psi. Foto: HBO/Divulgação
Transparent, da Amazon
Estrelada por Jeffrey Trambor, a série humaniza a questão de gênero: pai de família judia se revela trans. Mort, que passa a ser Maura, tem o desafio de manter a família unida. Em 2015, o seriado, inédito no Brasil, venceu dois Globos de Ouro (Ator e Série Cômica). 

 

Orange is the new black (Netflix)
Laverne Cox é a prisioneira trans Sophia Burset - primeira transexual indicada ao Emmy Awards. Ela é a cabeleireira da prisão e mote para abordagem dos direitos transexuais.
Entre os assuntos tratados, a reposição hormonal e relação delicada com familiares.



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