Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco
Publicado em: 05/05/2016 19:01 Atualizado em: 05/05/2016 15:02
Posicionamento político marcou desfile de Lindebergue no primeiro dia do Dragão Fashion. Fotos: Roberta Braga/Silvia Boriello/Ricardo K./Divulgação
Ceará - "Mas um dia o gigante despertou / Deixou de ser gigante adormecido / e dele um anão se levantou / Era um país subdesenvolvido / Subdesenvolvido, subdesenvolvido", diz o refrão de Canção do subdesenvolvido (Carlos Lyra e Chico de Assis). Junto com Jesus Cristo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos) e Sociedade alternativa (Raul Seixas e Paulo Coelho), a música compôs trilha sonora de desfile político do estilista cearense Lindebergue Fernandes, na noite desta quarta-feira (04), a primeira do Dragão Fashion 2016.
Realizado em Fortaleza (CE) desde o ano 2000, o evento é considerado a principal semana de moda do Nordeste, dedicado principalmente à moda autoral. Pano de fundo aproveitado por Lindeberg para externar seu posicionamento político, seguindo tendência natural em semanas de moda ambientadas em cenário de crise: quando os estilistas não canalizam para o catwalk suas insatisfações, é comum a intervenção do público em cena. A conexão entre a moda e as mazelas sociais livra aquela primeira da alienação, do propósito comercial desconectado da realidade e do distanciamento entre seu universo criativo e a vida real.
Lindebergue é um dos expoentes da moda autoral no Ceará. Foto: Roberta Braga/Silvia Boriello/Ricardo K./Divulgação |
O Dragão Fashion segue até o próximo sábado (07) e reúne 32 desfiles assinados por estilistas brasileiros e convidados latino-americanos, com o tema Sangue latino. Diariamente, são distribuídos convites gratuitos à população, no Terminal Marítimo de Passageiros, em Fortaleza (CE), onde ocorre a fashion week. Cada pessoa tem direito a escolher dois desfiles por dia, retirando um par de convites para cada um deles. As coleções cruzam as passarelas entre as 17h e as 21h, todos os dias.
>> Mais política na passarela
Gisele Budchen no desfile da Chanel, em Cuba. Foto: Instagram/Reprodução |
Na última terça-feira (03), foi rompido o hiato de cinco décadas sem promoção da moda internacional em Cuba. A Chanel desfilou sua nova coleção, Cruise, a céu aberto, no Paseo del Prado, em Havana. O primeiro desfile organizado pela grife em terras cubanas teve a presença do diretor criativo da marca, Karl Lagarfeld, e de celebridades do segmento, como Gisele Bündchen, Vin Diesel e Tilda Swinton. Tony Castro, neto de Fidel Castro, fez parte do casting escalado para o desfile histórico. A coleção é inspirada na estética cubana e caribenha, com modelos "fumando" charutos, cores intensas, peças em crochê e a emblemática boina de Che Guevara bordada em paetês.
No SPFW, Ronaldo Fraga abordou o drama dos refugiados. Foto: SPFW/Divulgação |
Na última edição do SPFW, em abril deste ano, o estilista Ronaldo Fraga, conhecido por agregar temas relevantes à realidade brasileira aos seus desfiles, também aproveitou a passarela para abordar crise. No caso dele, a dos refugiados em migração para a Europa. Seis refugiados sírios cruzaram o catwalk sob o comando dele, que explorou camisas manchadas em tom de sangue, tecidos amarrotados e correntes limitando os movimentos dos modelos. Nos bastidores, Fraga criticou a extrema direita europeia e sua resistência à miscigenação cultural.
Protesto da Chanel por direitos das mulheres, liberdade e paz mundial. Foto: Instagram/Reprodução |
Ao desfilar a coleção de primavera/verão 2015, em setembro de 2014, Karl Lagerfeld transformou as modelos em manifestantes, em desfile icônico para a relação moda-política-sociedade. Nomes como Cara Delevingne, Gisele Bundchen e Kendall Jenner seguravam placas com mensagens feministas e libertárias. "Direitos das mulheres são mais do que corretos", "Eles por elas", "Feminismo não é masoquismo" e "Faça moda, não faça guerra" diziam algumas.
*A repórter viajou a convite do Dragão Fashin Brasil 2016