Homenagem Editora relança toda a obra de Manoel de Barros no ano de seu centenário O 'Manoelês', idioma particular do poeta mato-grossense, ganha reedição completa pela Alfaguara

Por: Estado de Minas

Publicado em: 10/05/2016 20:21 Atualizado em: 10/05/2016 18:44

Em 1934, poeta mato-grossense lançou seu primeiro livro, "Poemas concebidos sem pecado"
Em 1934, poeta mato-grossense lançou seu primeiro livro, "Poemas concebidos sem pecado"

Manoel de Barros gostava de dizer que escrevia em “idioleto manoelês archaico”. No ano em que o poeta mato-grossense completaria seu centenário, esse idioma particular reaparece nas novas edições de sua obra completa, que começam a chegar às livrarias pela Alfaguara. Morto em 2014, o autor que cantou as coisas da natureza fixou o Pantanal no mapa da poesia brasileira. Mais que isso, construiu uma poética em torno das miudezas do mundo, de tudo aquilo que é descartado e marginalizado pela sociedade. Costumava se definir como “um fazedor de inutensílios”.

Os dois volumes que abrem a reedição flagram momentos distintos da construção do “manoelês” ao longo de sete décadas de carreira. Poemas concebidos sem pecado / Face imóvel reúne seus dois primeiros títulos, lançados em 1937 e 1942, respectivamente. Arranjos para assobio, de 1982, marca a consolidação do estilo que o consagraria a partir daquela década. Todos os livros incluem itens do baú de Manoel, muitos deles inéditos, como fotografias antigas, correspondências e manuscritos de poemas, selecionados pela filha do escritor, Martha Barros.

Em meio a esse material estão cartas de Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade recebidas pelo poeta mato-grossense nos anos 1940. Publicadas em livro pela primeira vez, elas mostram que o iniciante buscou diálogo com os nomes consagrados da época, enviando-lhes exemplares de Face imóvel. Mário responde com um elogio cortês à “real intensidade” da poesia de Manoel. Em reação mais elaborada, Drummond se impressiona com o “humanismo e pungente lirismo” dos versos, nos quais enxerga um autor com “o sentimento da relação secreta entre as coisas”.

“Meu pai era um funcionário da poesia, se dedicava em tempo integral a ela. Deixou uma obra linda, rica e profunda. Ele se achava um homem comum, e era. Sua alma inquieta, amorosa, simples e ao mesmo tempo complexa fez dele um pensador das coisas pequenas e sem importância, algo tão necessário neste mundo poluído e cheio de desperdícios”, diz Martha.



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