Cinema Cine PE começa com filmes sobre liberdade, arte e imaginação Primeira noite do festival lotou o São Luiz, com a presença de artistas como Paulo Bruscky, Walter Carvalho, Nathalia Dill, Paula Burlamaqui, Renato Góes, Débora Bloch, Jonas Bloch e Cláudio Assis

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 03/05/2016 07:47 Atualizado em: 03/05/2016 06:09

Ator Jonas Bloch foi homenageado e recebeu troféu entregue pela filha, Débora Bloch. Fotos: Mariana Guerra/Divulgação
Ator Jonas Bloch foi homenageado e recebeu troféu entregue pela filha, Débora Bloch. Fotos: Mariana Guerra/Divulgação
 
"Aprendi com ele que a liberdade só é possível na democracia e que a arte precisa de liberdade", disse a atriz Débora Bloch no palco do Cinema São Luiz ao entregar um troféu ao pai, o ator Jonas Bloch, homenageado do Cine PE. A busca e o exercício da liberdade de expressão e de vida foram temas que marcaram os filmes exibidos na segunda-feira, primeira noite do festival.

O primeiro curta a ser exibido, na competição pernambucana, foi Não tem só mandacaru, de Tauana Uchôa, que mostrou a riqueza e a renovação da poesia de São José do Egito (Sertão do Pajeú) ao retratar a participação dos jovens no centenário do poeta Louro do Pajeú (Lourival Batista Patriota), comemorado em 2015. Formado por entrevistas, músicas tocadas ao vivo e poemas recitados, o documentário consegue transmitir a força libertária da arte verbal da região. Realizado com precisão técnica e bastante aplaudido, o vídeo assume-se como um trabalho essencialmente feito por estudantes, o que é interessante como estímulo para os realizadores iniciantes. Por outro lado, a Mostra Pernambuco do Cine PE, ao contemplar exercícios estudantis, já demonstra, na primeira noite, que não necessariamente é dedicada à produção cinematográfica mais artisticamente amadurecida e plenamente profissionalizada do estado.

O segundo filme da programação transportou a plateia para um campo mais conceitual e desafiador, tanto na forma quanto no conteúdo. O curta-metragem Paulo Bruscky, dirigido pelo consagrado fotógrafo e cineasta Walter Carvalho, capta e transmite as ideias e a genialidade do artista mencionado no título, pernambucano que é um dos grandes nomes da arte contemporânea do Brasil, com reconhecimento internacional. No lugar de afirmar o respaldo do personagem, entretanto, a proposta é mostrá-lo em ação (em duas obras inéditas executadas diante da câmera a partir de efeitos de edição e filmagem) e ouvir o que ele tem a dizer sobre o mundo a partir do ponto de vista de quem cria.

Cláudio Assis, Walter Carvalho e Paulo Bruscky
Cláudio Assis, Walter Carvalho e Paulo Bruscky

O curta faz parte da série de TV Se cria assim, que tem direção geral de Cláudio Assis e é inspirada na obra do Mestre Galdino.

A noite foi encerrada com Por trás do céu, primeiro longa-metragem da competição deste ano. O filme carioca, rodado no sertão da Paraíba, retrata o cotidiano de um homem e uma mulher que vivem isolados em uma paisagem rochosa, onde criaram um mundo particular repleto de alegorias e sonhos. Com roupas e objetos construídos com sucata, o homem e a mulher parecem pertencer a um universo paralelo, com um visual situado entre a cultura armorial e a ficção científica pós-apocalíptica, semelhantes a personagens marginais delirantes de filmes como O pescador de ilusões ou da peça teatral Caxuxa. O ambiente lúdico é intercalado por cenas ambientadas entre uma fazenda e um prostíbulo, que são retratados com mais realismo.

Parte da equipe de produção e do elenco estava presente na sessão, inclusive as atrizes Nathalia Dill e Paula Burlamaqui e os atores Renato Góes e Emílio Orciollo Netto, além do diretor Caio Sóh, que confessou ter criado o filme sem nunca ter ido ao Nordeste. A plateia, com o cinema lotado, aplaudiu bastante, o que demonstrou o potencial de público do longa, bastante comunicativo e bem resolvido, com elenco de famosos da TV, mas talvez criativo demais para o conservador mercado de exibição do Brasil.

Em 2016, a curadoria das mostras competitivas do Cine PE é assinada pelo crítico carioca Rodrigo Fonseca (com exceção da mostra pernambucana, elaborada por Sandra Bertini).


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