Entrevista Netflix: sitcom The Ranch revive parceria entre Ashton Kutcher e Danny Masterson Galã e amigo de That 70' Show também produzem os 20 episódios da primeira temporada. Dez deles entram em streaming nesta sexta

Por: Raquel Lima - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/04/2016 07:00 Atualizado em:


Ashton, Danny e Sam no set de The Ranch. Foto: Greg Gayne/Netflix
Ashton, Danny e Sam no set de The Ranch. Foto: Greg Gayne/Netflix

Buenos Aires - Ashton Kutcher e Danny Masterson são admiradores confessos do gênero sitcom - comédia de costumes norte-americana gravada com plateia. "São 300 pessoas dizendo se a piada é boa ou não. Se eles não riem, nós mudamos", conta Masterson. Kutcher é menos prático e filosofa que, em uma sitcom, a risada é algo compartilhado. "Nesta época em que acompanhar uma série é um ato de isolamento, com o smartphone ou o tablet, compartilhar é importante, afinal, é o que nos torna humanos". Os dois, conhecidos desde That 70' show, comédia exibida entre 1998 e 2006 pela Fox, produzem e atuam em The ranch, série original da Netflix que estreia nesta sexta-feira.

"Seria bom, se eu gostasse dele", provoca Kutcher em um humor que permeou toda a entrevista dos dois, na Argentina, há cerca de dez dias. "Gravamos That 70' show por oito anos, passamos os últimos dez anos juntos, em fins de semana, férias, jogos, cafés da manhã. Somos amigos, nossa família é amiga", crava Masterson.

Em The ranch, os dois são irmãos. Um deles é Rooster (Masterson), jovem que nunca saiu do pequeno sítio da família no Colorado. O outro é Colt (Kutcher), astro de futebol que viajou o mundo jogando e que volta para casa por estar na pior. O pai deles é Beau, papel do excelente Sam Elliot.

Apesar do cenário interiorano, comum a qualquer lugar do mundo, The ranch não desperta identificação imediata. O interior do Colorado não sofre com seca, como o interior pernambucano, só para começar. E as piadas exigem um certo conhecimento da cultura norte-americana. É aguardar para ver se o brasileiro vai rir rápido. A primeira temporada de The ranch tem 20 episódios, que serão liberados em duas etapas. (A jornalista viajou a convite da Netflix)



Entrevista// Ashton Kutcher e Danny Masterson, atores

O que vocês acham importante que a audiência saiba sobre esses novos personagens juntos, anos depois de That 70' show?
Ashton
- Colt é um cara que saiu do interior em um momento de glória, como craque, fez universidade, mas - como muitos outros jovens no mundo - não consegue nenhum emprego ao se formar. Então, precisa voltar para casa, bem por baixo. E quer encontrar algo que o torne útil, enquanto se readapta à família.
Danny - O irmão dele, Rooster, tem continuado a tradição da família, criadora de gado há três gerações. Ele tem trabalhado em casa a vida inteira, todos os dias, sem férias. Ele sabe que é a coisa certa fazer porque um dia tudo aquilo será dele. Até que o irmão volta e todo mundo o ama muito mais. Por que ele viu o mundo, ele é bonito, é uma lenda, um craque do futebol, a pessoa mais famosa da cidade. Então, ele pensa: 'alto lá'. Eles têm 30 anos! E voltam a morar juntos e disputar espaço como crianças...

Como é com as famílias de vocês?
Danny
- Sou o mais novo de cinco irmãos e todos são meus melhores amigos. Temos famílias incríveis. Meus pais são ótimos. Meus amigos iam na minha casa, enquanto crescia em Nova York, pedir conselhos a meus pais. Mas sei que somos minoria e queria representar o resto dos meus amigos.
Ashton - Olha, acho que todos estes seriados que realmente funcionam mostram famílias quebradas, que queremos colocar em uma caixa e apresentar ao mundo... de onde viemos, quem somos. Meus pais se separaram desde cedo e isso foi difícil. Tenho um irmão gêmeo com quem competia constantemente. Minha irmã mais velha me batia muito. São esqueletos enormes que fazem com que todo mundo se identifique. The ranch explora esta relação entre adultos, até por que ela não acaba quando os filhos saem das casas dos pais, principalmente nos dias de hoje. Mas também é sobre como gerir um negócio de família em um mercado dominado por grandes corporações, que querem devorá-lo. Então, acaba sendo uma série que dá visibilidade ao norte-americano interiorano e "conservador" - que não é bem representado na mídia nem no cinema. Vim de uma cidade com 100 pessoas, sei como eles pensam. E sei que são mal representados mundo afora e nos Estados Unidos.

Foi difícil assumir o sotaque e o trejeito do interior?
Ashton
- Acho que nenhum de nós dois tinha ideia de como nossos personagens falariam até começarmos a conviver com Sam Elliot (risos). Aquele é o jeitão dele falar e ninguém vai mudar. Então, caiu a ficha: somos filhos desse cara. Então, nossos sotaques, diálogos tinham de ter alguma similaridade. E esses caras não são os mais educados… meu personagem até viajou o mundo e, por isso, o sotaque dele só vai ficando mais interiorano no decorrer dos episódios.
Danny - Rooster é bem coubói mesmo, se acha um fora da lei, beberrão.
Ashton - E esta é maravilha da televisão: o personagem pode amadurecer, gradualmente, sob o olhar da audiência, se tornando quem é. E é um jeito de explorar esse sentimento de peixe fora d'água de meu personagem, que está voltando para casa.

Ashton, você já foi considerado como um dos 100 jovens mais influentes do mundo pela Time. Como é ser dono de um "título" assim?
É uma faca de dois gumes, sendo um bem mais afiado do que o outro. Fui, recentemente, apontado como um dos jovens líderes globais do Fórum Econômico Mundial. Então, estarei em Davos no ano que vem, discutindo o futuro financeiro do mundo. A responsabilidade extraordiniária que vem desta atenção e de discutir essa agenda que afeta milhões de pessoas não é encarada levemente por mim. Sinto o peso quando o Ministério da Defesa vem até minha ONG (Thorn, que luta contra exploração sexual infantil) como última linha de defesa para encontrar uma criança de oito anos que está sendo molestada. [Pausa] É uma responsabilidade emocional. Procuro fazer, via redes sociais, todos verem quão conectados estamos e o quanto nos preocupamos com as mesmas coisas, enquanto indivíduos. É uma grande responsabilidade, mas também uma grande oportunidade.

No tapete vermelho em Buenos Aires, em meados de março. Foto: Juan Villagran/Netflix
No tapete vermelho em Buenos Aires, em meados de março. Foto: Juan Villagran/Netflix

E qual o lado negativo de ser tão famoso?
Ashton
- Você se encontra em uma posição onde tem liberdade absoluta. Pode dizer o que quer ou comer em restaurantes legais, mas ao mesmo tempo... não pode. Por exemplo, a estrutura para ir a um restaurante se torna gigante. Você pisa na rua e o que você está fazendo sai do controle. É complexo, mas é algo que dá para contornar por que, no fim, é uma honra.

Ashton, como você avalia sua própria carreira, de That 70' show até The ranch?
Não sei se evolui como ator, mas só tentei fazer coisas que achei interessantes, desafiadoras e que me divertiram. Estou em um ponto da minha carreira no qual tenho a liberdade de trabalhar apenas no que gosto, com pessoas que gosto. Acho que a grande virada é me envolver apenas nas histórias que quero contar, com mensagens de moral e ética que me movem. Quando você começa, se contenta com qualquer papel, como um jornalista que vibra com qualquer matéria. Passamos a maior parte da carreira só tentando ter um trabalho. E depois, com o tempo, se faz o que quer, se conta as histórias que se quer. A ideia de fazer alguém rir depois de um dia de trabalho é incrível. Mas é maravilhoso ter uma mensagem de fundo.

Como produtores, como foi o processo de realizar The ranch?
Danny - Quando começarmos a moldar este projeto, só pensamos na Netflix. Por que não queríamos contar uma história padrão - de luz, som, diálogos. A audiência da Netflix está aberta a isso. Então, decidimos fazer uma sitcom, mas fora dos padrões. E rodamos tudo direto, de uma só vez.
Ashton - Two and a half men, como todos os outros shows aos quais assistimos, acaba sendo iguais aos da nossa infância, como I love Lucy. Tem uma legado enorme no gênero sitcom para se seguir.
Danny - [Interrompe]Não pode ter música mesmo porque distrai... só aquela de elevador. Não pode ter sombra no rosto de ninguém... Por que? Cansamos de perguntar e ninguém responder. Então, fomos ousando mudando o que todo o gênero estava acostumado.
Ashton - É bem parecido com os desafios que a própria Netflix faz às convenções. Por exemplo, ver uma série é cada vez mais uma experiência isolada, no smartphone, no tablet. Queremos que The ranch seja uma experiência para ser compartilhada - afinal, compartilhar é importante, é a chave da humanidade. Em uma sitcom quando alguém ri, é compartilhado.


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