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Literatura Bestseller, Carina Rissi comenta sucesso: chick lit é ágil, direto, bem-humorado, os personagens poderiam ser você Escritora lançou Mentira Perfeita e se manteve por mais de duas semanas como única brasileira na lista de mais vendidos da Publish News no gênero ficção

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/04/2016 14:01 Atualizado em: 04/05/2016 14:09

Carina Rissi foi destaque entre mais vendidos de Ficção e comenta segredos da produção bestseller. Foto: Verus/Divulgação
Carina Rissi foi destaque entre mais vendidos de Ficção e comenta segredos da produção bestseller. Foto: Verus/Divulgação

Com 35,3 mil curtidores em sua página no Facebook, a escritora bestseller Carina Rissi, moradora de Ariranha, interior de São Paulo, onde nasceu, se descreve como uma leitora voraz. E explica: enquanto não escreve ou assiste a comédias românticas com o marido e a única filha, ela simplesmente lê. Lê bastante, todos os dias. Antes de adquirir novo volume para a estante de casa, começa a leitura da nova obra pela última página, ainda na livraria - se não gostar do desfecho, não compra. Acredita que é preciso uma boa conclusão para que o enredo mereça se disposto ao lado de todos os clássicos da inglesa Jane Austen, destaque no acervo de Carina e sua principal fonte de inspiração.

“Eu estaria sendo leviana se não a mencionasse. Tudo o que ela criou me faz sonhar”, emenda Carina. Autora de Perdida, Encontrada, Procura-se um marido, No mundo da Luna e, agora, Mentira perfeita, ela fala como se estivesse, ainda, na condição de romancista iniciante, em processo de aprendizagem - no qual estamos todos, é verdade. Mas Carina faz parte do grupo ao qual é permitido se considerar inspiração para outros: causa histeria nas feiras literárias e eventos de lançamento doa quais participa. Frequentemente, recebe fotos dos casamentos das fãs, tênis All Star vermelho sob o vestido de noiva branco. A explicação estampa a capa de Perdida. “De começo, acho que foi a capa de Perdida que atraiu os jovens. Quem resiste a um all star vermelho?”, brinca Carina, ciente do chamariz inicial para o seu trabalho. Dia desses, ganhou reverência de uma das seguidoras em forma de tatuagem. Se inscreveu em definitivo no chick lit nacional.


Durante mais da metade deste mês, permaneceu na lista de mais vendidos da Publish News no gênero ficção - feito raro entre brasileiros, mais frequentes no segmento não-ficção - com o recém lançado Mentira perfeita (Verus, R$ 35,90). O livro é um spin-off de Procura-se um marido. “Normalmente, as listas de ficção são saturadas de livros estrangeiros”, explica Carlo Carrenho, diretor da plataforma. Para ele, embora a conquista de Carina não seja inédita, a paulista é “sem dúvida, uma escritora bestseller.” Ao Viver, ela comentou o êxito: “O mercado tem se mostrado muito mais receptivo que uma década atrás. E ainda tenho fé de que o número de bandeirinhas verde-amarelas nesta lista irá aumentar.” Na entrevista (abaixo), falou, ainda, sobre as inspirações e a principal característica de Júlia, sua nova protagonista: o fato de ser comum. “Aquela poderia ser a história de quem está lendo ou de uma amiga, da irmã”, diz Carina.

No segundo semestre, quando promove turnê nacional de divulgação do quarto título da série Perdida, Carina deve visitar a capital pernambucana e organizar sessão de autógrafos. “Recife está no roteiro, com certeza. Mas não tenho uma data ainda”, esclarece. Sobre o mercado literário brasileiro, ela vislumbra os mesmos desafios de sempre, mas acompanhados de novas oportunidades. “Para quem está começando, [o desafio é] conseguir seu espaço; para quem já está na estrada, continuar na mente e nas estantes dos leitores. Francamente, vejo o mercado muito mais aberto hoje do que quando comecei, cinco anos atrás. O escritor nacional de ficção tem mais oportunidades, mais investimento, e isso se deve, em grande parte, aos leitores, que nos abraçaram pura e simplesmente como autores, sem nacionalidade”, comemora.

>> Entrevista: Carina Rissi, escritora

Carina Rissi ao lado das publicações que lhe renderam séquito de fãs, sempre eufóricos em bienais. Foto: André Buarque/Divulgação
Carina Rissi ao lado das publicações que lhe renderam séquito de fãs, sempre eufóricos em bienais. Foto: André Buarque/Divulgação
Em linhas gerais, o que a inspirou a escrever Mentira perfeita? Quem é a protagonista dessa vez?

A inspiração para este livro veio dos próprios protagonistas.  Quando vi a Júlia pela primeira vez (enquanto ainda escrevia o Procura-se um marido) ela meio que brilhava para mim. Diversas cenas da vida dela pipocaram na minha cabeça. Claro que eu quis saber tudo sobre ela. E, pouco depois, conheci o Marcus Cassani. Ele era folgado, bem-humorado, mas havia uma tristeza em seu olhar. Eu soube quase que instantaneamente que ainda iríamos trabalhar juntos. Eu não podia deixar aquilo assim, não! Júlia é uma garota muito comum. Ela trabalha demais, tem um monte de responsabilidades assim como desilusões e tem uma tremenda confusão para resolver. Acho que a maioria dos leitores vai se identificar bastante com ela.

Você sempre menciona Jane Austen como referência para seu trabalho. O que há de Jane nessa nova obra?

Sempre tem algo dela em qualquer livro meu, seja de maneira mais direta ou algo quase imperceptível. No Procura-se há uma cena onde o Max e Alicia discutem em um café, que qualquer admirador de Jane irá reconhecer alguns pontos. É a minha maneira de dizer um “muito obrigada, Jane”. Fiz o mesmo em Mentira Perfeita. Júlia ouve Marcus dizer algo sobre ela, algo que remete o leitor a Orgulho e Preconceito (eu espero). O mais incrível é que meus leitores estão lendo Jane. Sendo muito franca, não sei dizer se fico mais contente quando leem os livros dela ou os meus. (risos)

Em bienais e eventos literários recentes, sua presença tem sido festejada por fãs adolescentes que creditam a suas obras a própria iniciação no universo literário. Por que acredita que essa fatia do público se identificou tanto com seu trabalho?
Eu não sei. De começo, acho que foi a capa de Perdida que atraiu os jovens. Quem resiste a um all star vermelho? Mas agora acho que é mais minha literatura e o gênero que escrevo. O chick lit é ágil e direto, bem-humorado, com personagens tão comuns que aquela poderia ser a história de quem está lendo ou de uma amiga, da irmã.

Como recebe esse elogio - que é, ainda, uma responsabilidade - de jovens leitores?
É uma honra poder contribuir com a formação de novos leitores. Toda vez que alguém me diz que não gosta de ler eu digo “é porque você ainda não encontrou o livro certo para você”. Então, quando alguém me diz que não gostava de ler, mas depois que leu um livro meu se apaixonou pela leitura e nunca mais parou de ler, eu me emociono demais. É uma responsabilidade imensa, e não apenas com os adolescentes. Mexer com as emoções de alguém é muito delicado. É preciso entender os limites, até onde se pode ir, a mensagem que se quer passar. Isso me assusta tanto quanto me alegra. Louco, não?

Como descreveria seu público, em linhas gerais? O que sente que eles já esperam ao ler uma obra de Carina?

Eles são leais, divertidíssimos e incrivelmente amorosos, tanto comigo quanto com minhas obras. Tenho leitores de treze a setenta e dois anos de ambos os gêneros. Adolescentes, professoras, médicas, estudantes... Acho isso lindo! A literatura não tem barreiras. Teve um tempo que eu senti muita cobrança. Não dos leitores. Nada disso. Eu mesma me cobrava. Ficava pensando que tinha que agradá-los a qualquer custo — e isso é o maior erro que um escritor pode cometer. A história tem que agradar a seu autor antes de mais nada. Deixá-lo plena e completamente satisfeito. E se isso acontecer, naturalmente irá agradar aos leitores também. Eles confiam em mim, no que eu crio, e sabem que eu vou entregar o meu melhor a eles, sempre.
 
Você foi a única brasileira na lista de mais vendidos de ficção divulgada na PublishNews durante mais de metade deste mês. A que atribui a ausência de conterrâneos? O mercado editorial é excessivamente desafiador no país?
Ao contrário da lista de mais vendidos de não-ficção, onde metade dos livros são obras brasileiras, é raro ter muitos nacionais na lista de ficção. Geralmente três ou quatro, dos vinte listados. E acredito que esse resultado seja até esperado, já que o número de títulos gringos lançados anualmente é muito superior ao de nacionais. Por isso eu fico tão contente quando vejo um livro meu ali, com a bandeirinha brasileira do lado. É sempre uma imensa vitória ver um autor na lista. O mercado tem se mostrado muito mais receptivo que uma década atrás. E ainda tenho fé de que o número de bandeirinhas verde-amarelas nesta lista irá aumentar.

Quais os principais elementos inspiradores, norteadores da sua produção? O que, do seu dia a dia, é transformado em literatura?

Escrevo porque sou uma romântica incorrigível. Eu preciso falar de amor, seja ele romântico, fraternal ou familiar. Mas é claro que todas as trapalhadas em que eu me meto acabam inspirando algumas cenas, né? Escuto muita gente reclamando que gostaria de ser menos estabanada. Mas eu, uma escritora de chick lit, agradeço essa dádiva. E tem a Jane Austen. Eu estaria sendo leviana se não a mencionasse. Tudo o que ela criou me faz sonhar.

 



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