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Brega da saudade: Após hiato de 10 anos, Leonardo Sullivan lança disco de inéditas

Aos 68 anos, cantor lança "Histórias de amor", pela PollyDisc, e aposta em videoclipes para atingir novo público

Publicado em: 07/04/2016 20:01 | Atualizado em: 12/06/2020 23:07

 (Para divulgação da nova música de trabalho, Nosso amor é assim, Leonardo vai gravar videoclipe. "Hoje em dia é moda. Vai ser a primeira vez que gravo com esse propósito". )
Para divulgação da nova música de trabalho, Nosso amor é assim, Leonardo vai gravar videoclipe. "Hoje em dia é moda. Vai ser a primeira vez que gravo com esse propósito".


O segundo perfil do Viver sobre os primeiros pernambucanos a gravarem seus nomes na indústria do brega romântico é dedicado ao cantor e compositor Leonardo Sullivan. Após 10 anos sem lançar nenhuma música nova, o artista de 68 anos apresenta o álbum de inéditas Histórias de amor, pela PollyDisc, e aposta em videoclipes para atingir novo público nas redes sociais.

O artista iniciou carreira na década de 1970 e desde então defende a música romântica com unhas e dentes. Ele já se incomodou de ter o termo "música brega" associado ao seu trabalho. Hoje, tira por menos. O novo álbum traz 13 canções que falam exclusivamente de amor. São 11 faixas da dupla de compositores Ivo & Chrystian Lima, como Parece mágica (Marquinho Maraial e Beto Caju), além da autoral Corrente do bem. Para ajudar na divulgação da nova música de trabalho, Leonardo pretende gravar um clipe para a faixa Nosso amor é assim. "Hoje em dia é moda. Vai ser a primeira vez que gravo com esse propósito. Confesso que não sei nem ligar computador, já me sinto um gênio por passar mensagem via WhatsApp", brinca.

Nascido em Vicência, na Zona da Mata de Pernambuco, Leonardo passou infância em cidades próximas, como Aliança e Timbaúba. O nome verdadeiro é Iveraldo Lima, mas ficou conhecido apenas como Leonardo e se consagrou nacionalmente com as canções Mãe um pedaço do céu, Memórias, Pra sempre, Pensamentos meus, Não diga nada e Vou brigar com o mundo.

Somente após a morte do cantor Leandro (1998), da dupla Leandro e Leonardo, a gravadora indicou que adotasse um sobrenome, para evitar que o público se confundisse. Assim, ele passou a usar o Sullivan, sobrenome artístico do irmão e compositor Michael Sullivan. Em entrevista ao Viver, o artista com mais de 40 anos de carreira fala sobre críticos musicais que o incomodaram no passado. Além disso, dá detalhes do novo projeto e revela não pensar em aposentadoria tão cedo. Para Sullivan, a vontade de trabalhar e o amor pela música permaneceram intactos.

 (O artista que iniciou carreira na década de 1970 já se incomodou ao ter o termo "música brega" associado ao seu trabalho. ""Quanto mais você se incomoda, mas falam". )
O artista que iniciou carreira na década de 1970 já se incomodou ao ter o termo "música brega" associado ao seu trabalho. ""Quanto mais você se incomoda, mas falam".


ENTREVISTA // LEONARDO SULLIVAN

Você foi alvo de críticas no passado. Relembra algum episódio marcante?
Uma vez, um jornalista do O Globo escreveu sobre mim sem ao menos me conhecer. Foi quando Fafá de Belém gravou minha música Memórias. O texto dizia que o leitor deveria ouvir o disco, desde que ele não tivesse o mal gosto de ouvir um "brega horroroso de um tal de Leonardo". Era mais ou menos assim a frase. Hoje não ligo, mas, na época, fiquei muito chateado. Entre a opinião dele e a sentença de um prêmio Nobel da Paz, prefiro crer em Gabriel Garcia Márquez, que dizia: "Quanto mais transparente é uma escrita, mais se vê a poesia"

Após 10 anos, traz um álbum de inéditas. Como é a expectativa?
Meus amigos comentam que acham legal que eu tenha o mesmo tesão de quando lancei a primeira música. Se o friozinho na barriga deixar de acontecer na hora do show, aquela tensão natural, que vai embora no meio da primeira música... No dia que perder essa vontade de pôr mais um filho no mundo, vou vender revista, armo uma barraca de fruta na feira, viro empresário de outros artistas ou arrumo um programa de rádio. Além de viver da música, sobrevivo dela. Nem me lembro das coisas que fiz antes de virar cantor.

Você parou de compor?
Não. Mas tenho uma preguiça muito grande. Não sou grande compositor. O pouco que fiz tive sucesso. Sou transparente com isso. Sou bom letrista, mas não sou bom melodista. Por isso, me junto a Petrúcio Amorim, que além de escrever, também faz ótimas melodias. Sinto dificuldade em fazê-las. Acho que por isso, tenha conquistado essa preguiça de sentar e fazer música. Às vezes, estou com a ideia na cabeça, mas quando vou musicar é bronca.

O que acha de sido tachado como cantor de música brega?
Desde que entrei no mercado represento a música romântica. Mas inventaram essa palavra maldita, o brega, e quanto mais você se incomoda, mas falam. É como um apelido, se você demonstrar que não gosta, o apelido pega. Sobrou até para Fafá de Belém. Me sinto responsável por ela ter ganho esse título. Minha música é romântica, tem uma conotação mais leve, não tem nada a ver com a música pesada de hoje em dia. Essa coisa do palavreado do "novo movimento da música brega" eu abomino de forma definitiva. Hoje podemos ver quanta hipocrisia existia naquela época. Artistas foram condenados por algumas músicas, no meu tempo eram chamadas de cafona e depois viraram brega. O crítico daquela época, que chamou o compositor de brega, hoje o cultua. Lembro que ia participar dos assustados e que nos proibiam de cantar Lupicínio Rodrigues e Adelino Moreira pois eram músicas que incentivavam a prostituição. Gosto de uma frase que diz: "O critico é aquele que vive tentando ensinar aquilo que não sabem fazer".

Como foi o início da sua carreira?
Comecei muito antes do primeiro disco (1975) cantando na noite, na época da ralação. Fui pai muito cedo e tive que sustentar as crianças. No Recife, existiam várias boates, com música ao vivo, e se tropeçava nas casas de shows, com bandas e festas, abertas até o dia amanhecer. Hoje só sobrevivem alguns barzinhos. A noite é a verdadeira escola do músico. Graças a Deus tive uma experiência que meu deu respaldo e base. Quem canta na noite tem que ser um vitrolão. Ir de um baião de Luiz Gonzaga, a Milton Nascimento, Caetano Veloso, Odair José, Lupcínio Rodrigues, e outros. Ou está arriscado a encerrar a apresentação e alguém criticar que você não cantou a música dele.

Que conselho você daria a quem está começando?
Recentemente um rapaz em Mossoró (RN), me entregou um CD com músicas dele e pediu um conselho. Perguntei logo: 'Você tem grana?' Ele respondeu: 'Meu pai tem'. Então pronto, nem precisa ter talento. O pai dele tem dinheiro para chegar na rádio e perguntar quanto é. Hoje é muito fácil, é só pagar. Na minha época não era assim. Não adianta ter nome forte, é preciso negociar a execução. Para quem está chegando, desde que se tenha grana, tudo pode acontecer. Também se fala muito na força das redes sociais, que ajuda na hora de forçar a barra para aparecer na TV, aqui e ali. Na nossa obra tenho canções como Mãe um pedaço do céu, Memórias, Pra sempre, Pensamentos meus, Não diga nada e Vou brigar com o mundo que foram consagradas. Hoje, tenho o prazer de ver uma família inteira - os avós, filhos e netos - cantando as mesmas canções que ouviram durante anos. E isso faz parte, é fruto da semente que plantei lá atrás. Gostaria de saber se daqui a cinco anos essas celebridades que frequentam a grande mídia vão ter esse privilégio.

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