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Cinema Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro entra em cartaz no Recife Ambientado no campo de concentração de Auschwitz, Filho de Saul, da Hungria, é exibido a partir desta quinta

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 08/03/2016 21:02 Atualizado em: 08/03/2016 12:04

Imagens acompanham de perto a trajetória do protagonista, interpretado por Géza Röhrig (Sony/ Divulgação)
Imagens acompanham de perto a trajetória do protagonista, interpretado por Géza Röhrig
 
Quando foi visto pela primeira vez em maio de 2015, no Festival de Cannes, Filho de Saul já começou a ser automaticamente apontado como o favorito ao Oscar de Melhor de Filme Estrangeiro, como representante da Hungria. Desde então, nos meses seguintes, nenhum outro longa-metragem lançado ameaçou retirá-lo do posto, graças a uma combinação de motivos que envolvem o próprio conteúdo artístico da obra e também fatores externos culturais ou mercadológicos.

Em cartaz no Recife a partir desta quinta, Filho de Saul impressiona principalmente pela experiência de imersão que proporciona. A temática do Holocausto já foi bastante explorada de diversas maneiras no cinema, mas o cineasta húngaro László Nemes joga o público dentro do campo de concentração nazista de Auschwitz com uma sensorialidade impactante e inédita. Durante uma hora e 47 minutos, a plateia tem a sensação de não poder piscar os olhos ou estar com a respiração presa. A tensão é ininterrupta e o clima é barra-pesada.

É principalmente com recursos de fotografia e edição que o filme ressalta o caráter hediondo do Holocausto. O personagem principal é acompanhado bem de perto o tempo inteiro. A câmera fica sempre a alguns palmos de distância do ator Géza Röhrig e quase nunca está fixa, o que reforça a agonia daqueles momentos. Os planos são longos e dão uma sensação de continuidade que simulam uma intensa ação em tempo real. Os enquadramentos fechados reforçam a claustrofobia dos campos de concentração. Algumas das atrocidades mais violentas (como corpos queimados em uma fogueira) aparecem ao fundo, fora de foco, o que gera um torturante efeito de sugestão visual.

O filme não chega a ser hollywoodiano, mas tem um ritmo envolvente e uma história linear, com emoções crescentes, final comovente (com direito a uma criança) e uma clareza narrativa perfeita para a competição da Academia, já que os premiados normalmente não são os mais ousados. Em Cannes, Filho de Saul venceu quatro prêmios, mas a Palma de Ouro foi para o francês Dheepan, que nem sequer concorreu ao Oscar (a França preferiu indicar Cinco graças, também em cartaz no Recife a partir de quinta).

Outro fator que o favoreceu no Oscar é a temática do Holocausto, uma das mais recorrentes na premiação por causa da forte presença judaica na indústria cinematográfica norte-americana. O vencedor da categoria no ano passado, o polonês Ida, também abordava a perseguição de judeus, assunto presente em vencedores como o austríaco Os falsários (2008), o italiano A vida é bela (1998), o alemão O tambor (1980), o francês Madame Rosa (1977) e o checo A pequena loja da Rua Principal (1965), entre outros.

Em relação ao tema, o filme focaliza o papel dos sonderkommando, judeus que eram recrutados pelos nazistas para ajudarem nos serviços dos campos de concentração. Os escolhidos eram os que tinham habilidades especiais e ganhavam algumas regalias em troca do trabalho. Saul é um deles, que se desestabiliza quando vê um menino doente ser encaminhado para a morte e passa a lutar desesperadamente para tentar contornar a situação.


Filho de Saul foi o nono filme húngaro a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o segundo a vencer na categoria. O primeiro havia sido Mephisto, que ganhou em 1981. Antes de dirigir o filme, László Nemes trabalhou como assistente do diretor Béla Tarr, que é o cineasta mais consagrado em atividade na Hungria, apesar de nunca ter sido indicado ao Oscar.

Quando recebeu a estatueta, Nemes disse que o filme ajuda as novas gerações a lembrarem das atrocidades do holocausto, que não podem ser esquecidas ou abstraídas. Além de resgatar o lamentável episódio histórico, Filho de Saul também adota uma linguagem que pode ter uma eficiente comunicação com os jovens de hoje por causa das semelhanças visuais com videogames como Counter strike.

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